Empresas da região buscam especialização para garantir saúde financeira e longevidade nos negócios
Programa do Sebrae auxilia empresários a melhorarem processos; conheça alguns casos
Programa do Sebrae auxilia empresários a melhorarem processos; conheça alguns casos
O sonho de ser dono do próprio negócio e ter independência financeira está no imaginário de muitos brasileiros. Sobreviver no mercado, porém, é um desafio constante, principalmente para as micro e pequenas empresas. Apenas no primeiro quadrimestre de 2022, de acordo com dados do Ministério da Economia, mais de 27 mil empresas fecharam em Santa Catarina, apesar do saldo no período ainda ter sido positivo, com 73,8 mil empresas abertas. No país, foram 541,8 mil negócios que encerraram atividades entre janeiro e março de 2022.
As micro e pequenas empresas de Brusque representam, de acordo com levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), publicado em 2020, 99% dos negócios da cidade e quase 60% dos empregos gerados. Elas são importantes para a geração de emprego e renda, fortalecimento da cadeia produtiva e contribuição ativa no ecossistema de negócios e inovação não só no município, mas em todo o país.
Em 2022, dos 700,5 mil postos de trabalho formais criados no Brasil de janeiro a abril, 585,5 mil, o equivalente a 76% do total, originaram-se de micro e pequenas empresas, de acordo com levantamento do Sebrae com com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia.
Apesar da importância notória para a economia brasileira, uma das principais dificuldades para micro e pequenas empresas crescerem e se estabelecerem é a questão da “cultura do fazer”, avalia Juliana Bernardi, analista de negócios do Sebrae de Brusque. Para auxiliá-las, a instituição desenvolveu um programa permanente de consultoria que visa ajudar as empresas a encontrarem seu caminho.
“O empresário faz de tudo um pouco e acaba não tendo o tempo para planejar, para ser estratégico para começar tomar decisões em base de dados e cenários. Deixar de ser fazedor para ser estratégico. E claro, tudo isso vem junto de uma mudança cultural que, por meio da consultoria, pode ser trabalhada”.
Tudo isso vem junto de uma mudança cultural que por causa da consultoria pode ser trabalhada
Secretário de Desenvolvimento Econômico de Brusque, Ademir José Jorge destaca a preocupação da administração municipal com a sobrevivência das empresas. Com sua vivência no ramo, ele percebe que muitas pequenas de pequeno porte sofrem por não saber precificar seus produtos e também pela centralização de várias tarefas em uma só figura: do proprietário.
“Muitas vezes, o proprietário faz o comercial, o financeiro, recursos humanos. Você tenta administrar algo e você não tem conhecimento ou habilidade naquilo e acha que está economizando, mas muitas vezes acaba colocando o próprio negócio em risco e não sobrevive nem ao primeiro ano, como muitas empresas pelo Brasil. É necessário encontrar figuras, às vezes até dentro da própria empresa, para realizar certas funções”.
Nesse cenário, surge a necessidade de estabelecimento de métricas e métodos que sustentem e profissionalizem essas empresas e capacitem os empresários para que consigam maximizar seus resultados e manter a saúde financeira de seus negócios.
Fundada em Brusque há 31 anos, a Dokassa Distribuidora foi a primeira empresa de atacado de embalagens do Sul do Brasil a oferecer produtos como sacolas, guardanapos e papel toalha, que levavam marcas próprias. Além da sede física, que fica no bairro Primeiro de Maio, a Dokassa possui o e-commerce. Trabalha com materiais de escritório, escolar, de limpeza, informática, embalagens e descartáveis.
Há cerca de dez anos, a Dokassa procurou a consultoria do Sebrae para melhorar seus processos. Mesmo já estabelecida no mercado e com um nome forte na região, Julio Alberto Cassaniga, um dos proprietários da empresa, de 45 funcionários, conta que viu a possibilidade de ir além.
“Eles sabem como trabalhar, são muito experientes, normalmente têm experiência em outras grandes empresas. O seu problema fica pequeno”, destaca Júlio. “Passam a criar processos padronizados, mensurar, estabelecer metas reais e viáveis. A consequência de não ter essas coisas é perder dinheiro. Mas não é só isso”.
A consequência de não ter essas coisas é perder dinheiro. Mas não é só isso
Para Júlio, como dono da empresa, existe um apego pelo que “sempre foi feito”, que já se conhecia e sabia “controlar”. “Muitas vezes, essas informações são empíricas nas empresas. Criamos um setor de Recursos Humanos, por exemplo. Cada vez as coisas estão mais refinadas. O mercado não aceita que você não seja profissional”, destaca. A partir das consultorias, a Dokassa adotou processos mais profissionais, estratégicos e capazes de serem mensurados.
A mudança de ritmo na empresa foi visível, de acordo com Júlio. A consultoria é baseada em métricas e cobranças. “Acho interessantíssimo que o contrato tenha data para acabar”, ressalta. “Eles estão dedicados 100% durante aquele período, mas depois eles vão. A informação fica, mas você não fica dependente”, avalia Júlio.
De acordo com o ele, os cursos também ajudam a adequar a mentalidade às inovações que vão entrando. “Fizemos, por exemplo, um curso de KPI (indicador-chave de desempenho) e absorvemos aquela linguagem, repassamos à equipe e, cada vez mais, vai ficando mais afiado”.
A capacidade da empresa de ser mais estratégica, mais organizada, mais profissional e menos suscetível a imprevistos representou uma mudança de cultura e uma tranquilidade para que os proprietários consigam focar em outros aspectos.
“Na pandemia, se não tivéssemos todo o conhecimento que tínhamos, talvez estaríamos com dificuldades. Ter essas informações faz a diferença. Agora, conseguimos ser previsíveis. Todo esse processo nos deu uma leveza no trabalho e mais qualidade de vida”, resume.
A Terra Legal Topografia é uma empresa familiar fundada há pouco mais de 14 anos, com o objetivo de fornecer soluções no ramo imobiliário. A empresa passou por um processo de expansão muito rápido durante o período de pandemia, saindo de quatro para cerca de 23 funcionários atualmente.
O proprietário Allan Sani Castilhos atribui esse crescimento à visão que teve de uma oportunidade de mercado. “A pandemia foi terrível em vários sentidos, mas, olhando para os negócios, tentamos tirar proveito da situação. Me fez pensar sobre o que poderíamos fazer a partir daquele cenário. Dali por diante, o negócio alavancou. Aumentou nossa demanda e, com auxílio da tecnologia, mudamos muitas coisas”.
Desde a fundação, a Terra Legal mantém uma parceria com o Sebrae que, para Allan, aos poucos, criou uma mentalidade criativa e inventiva para a empresa.
“Quando saímos de quatro para mais de 20 funcionários, mudou totalmente nossa estrutura. Com a visão estratégica de alguns consultores que passaram por aqui, abrimos nossa mente”, revela.
Quando saímos de quatro para mais de 20 funcionários, mudou totalmente nossa estrutura
Além de ampliar o quadro de funcionários, a Terra Legal também abriu uma filial em Balneário Piçarras recentemente e mudou a estrutura organizacional, alterando processos e gestão dentro do escritório,
“Estamos hoje trabalhando a questão de processos e pessoas. As pessoas têm que sempre se sentir importantes, não existe mais essa ideia de empregados e sim de parceiros. É isso que eu quero cada vez mais para a nossa empresa, e o Sebrae nos ajuda muito com essa visão”.
Em um dos processos de gestão de pessoas realizados, a diretoria percebeu a necessidade de ampliar o espaço físico do escritório em Brusque.
“É legal porque fizemos uma reunião com toda a equipe, para ver a opinião deles em relação a isso. Tem que ter a opinião de todas as pessoas para melhorar. Um líder que não escuta seus colaboradores não é um bom líder”.
Desde seus primeiros passos, a Terra Legal alimentou a cultura de empreendedorismo e busca por novos conhecimentos. Em seu processo de expansão, a empresa manteve-se atualizada e aperfeiçoou seus processos, uma fórmula que se provou ser bem-sucedida.
“Conheci a Juliana do Sebrae em uma feira, não tinha nem MEI ainda e conversei com ela. Depois, ela conheceu minha mãe e, desde o nosso início, caminhamos juntos, crescendo e evoluindo. O gestor deve olhar a equipe e ter um objetivo traçado, tendo em mente o que precisa e de que forma vai melhorar. Aí, entra o Sebrae. Eu, como corretor e engenheiro civil, não tenho o conhecimento de um consultor empresarial”.
A Móveis Daniella é uma empresa tradicional e com muita história, que está há mais de 80 anos no mercado no bairro Claraíba, em Nova Trento. O foco do negócio é na fabricação de móveis em madeira e MDF, cadeiras, mesas, bancos, poltronas, aparadores e móveis sob medida.
Mesmo com o nome consolidado, a empresa percebeu, em 2018, a necessidade de organização de processos de finanças, desenvolvimento de estratégias de marketing e melhorias na área de produção, para aumentar o volume de vendas e abranger uma maior área de atuação.
“A parceria com o Sebrae começou em 2018 com um contato de uma consultora e consultor vindo até a empresa apresentar o programa GIR. É muito completo, abrange todas as áreas da empresa e disponibiliza a parte teórica e prática, com vários consultores e especialistas”, conta Alecxandra Wilcke, administradora.
Desde então, a Móveis Daniella, que atualmente tem 20 funcionários diretos e outros 10 indiretos, passou a ter representantes em regiões antes não exploradas, aumentou a quantidade de clientes e ainda melhorou a produtividade. “Reduzimos as não conformidades e alcançamos um volume de vendas significativo de 20% no ano de 2020, se mantendo em 2021”.
Reduzimos as não conformidades e alcançamos um volume de vendas significativo de 20% no ano de 2020
O que se avalia é que a visão moderna e atualizada que a empresa buscou não mudou as missões e objetivos, mas colocou a Móveis Daniella em um novo momento.
“A consultoria sempre nos instiga a melhorias contínuas e nos dá todo o suporte para todas as áreas. Ter consultores e um padrinho todo mês dentro da sua empresa faz com que cada vez você queira fazer mais e melhor, o aprendizado se torna constante. A empresa acaba tendo uma mudança de cultura e comportamentos. Nossa parceria agora continua com o programa Eleva, onde buscamos ainda mais nos desenvolver e alçar voos ainda maiores”.