Enchente, mais uma vez
Para muitos, não passou de um grande susto, momentos de tensão e de expectativa. Para outros, infelizmente, foi mais uma tragédia, prevista pela meteorologia e pelas autoridades da defesa civil. As chuvas torrenciais caídas intensamente em toda a região, na véspera, anunciavam uma preocupante certeza. Brusque iria sofrer ou, melhor, enfrentar, porque o brusquense é […]
Para muitos, não passou de um grande susto, momentos de tensão e de expectativa. Para outros, infelizmente, foi mais uma tragédia, prevista pela meteorologia e pelas autoridades da defesa civil. As chuvas torrenciais caídas intensamente em toda a região, na véspera, anunciavam uma preocupante certeza. Brusque iria sofrer ou, melhor, enfrentar, porque o brusquense é forte e destemido, mais uma enchente. E, assim, concretizada a profecia estribada em satélites e instrumentos eletrônicos, segunda-feira, no Dia em que deveríamos estar a comemorar o meio ambiente, as águas do nosso rio Itajaí-Mirim transbordaram de seu leito.
Como quase todas as manhãs, fui olhar o rio, este curso d’água tão útil e amigo, que cruza nossa cidade vindo do oeste para o leste, até lançar suas águas quase sempre mansas e tranqüilas na imensidão oceânica. Vi um rio diferente, agitado, suas águas correndo velozes, num turbilhão, parecendo em fúria. Num torvelinho que assustava, as águas passavam em redemoinhos, afundando e trazendo à tona enormes troncos de árvores varridos das margens onde haviam encalhado e resistiam à correnteza das águas tranquilas.
É triste ver casas, estabelecimentos comerciais e industriais inundados pela água transbordante, que arrasta consigo o barro garimpado em barrancos e terrenos erodidos para depositar aquela massa amarela e gelatinosa nos quintais e jardins, no interior dos lares, das oficinas e dos locais de trabalho e para deixar móveis, eletrodomésticos, máquinas, confecções, fios e tecidos impregnados, inutilizados pela marca impiedosa da lama. É triste, sim. A invasão do nosso espaço doméstico, desse pequeno e sagrado território que chamamos “lar” e do local onde exercemos o nosso labor, sempre causa tristeza, mesmo que seja a invasão praticada pela força da natureza.
Ao mesmo tempo, não se pode dizer que é bonito, porque a tragédia nunca se veste com o véu e as cores da beleza. Mas, é animador ver pessoas tão duramente atingidas que não se deixam abater pelas águas da calamidade e do infortúnio. Sim, é alentador ver essas pessoas enfrentar a intempérie caudalosa do nosso rio, com destemor e a coragem dos fortes. De vassoura, rodo, pá, enxada e mangueira nas mãos, esses bravos não desanimam e trabalham duro para que a vida no lar, na fábrica ou na casa comercial, volte à normalidade.
A verdade é que os bravos brusquenses de hoje estão a reviver a saga dos fundadores de nossa cidade. Nas palavras do Barão de Schneéburg, eles aqui aportaram “abaixo de intensas e contínuas chuvas”, que fizeram o rio Itajaí-Mirim “transbordar de seu leito por duas vezes e atingir 27 palmos e meio”. A história revela que, de tempo em tempo, outras inundações assolaram a nossa cidade. É a certeza de que outras virão para desafiar a coragem e o espírito de luta dos brusquenses.