Encontro pessoal e encontro digital
Sem dúvida, são duas maneiras de encontrar-se: encontro pessoal e encontro digital. Cada uma com suas qualidades e com suas deficiências. Se forem vividas, respeitando os pilares do autêntico e verdadeiro encontro humano: escuta e diálogo, com bastante probabilidade vão contribuir na construção da Cultura do Encontro. Cultura que possibilita uma vida mais humana, mais fraterna, mais solidária.
Sabemos que nem todos têm acesso à internet. O número dos excluídos do convívio digital é muito significativo. Quando tem possibilidade de acesso a todo aparato digital, nem sempre têm um grau de conhecimentos necessários para se servir, a contento, dos meios disponíveis. São muitos os analfabetos ou semianalfabetos, no uso dos meios digitais disponíveis. O que gera mais uma categoria de excluídos ou marginalizados em nossas Sociedade e Culturas. São os que estão fora do circuito digital. Os desconectados.
Outro desafio também que se torna sempre mais presente é o próprio ambiente sociocultural de nosso momento histórico. Sabemos que vivemos numa Sociedade e Cultura que o filósofo polonês Sygmunt Bauman (1925-2017) denominou de Sociedade Líquida e Cultura Líquida. Nelas, predomina a valorização do imediato, do passageiro, do transitório, do superficial, da velocidade, do barulho… Pouco espaço é reservado à reflexão mais profunda, ao silêncio, à meditação, ao aprofundamento… Contenta-se com uma superficialidade das informações ligeiras, dos entretenimentos…
Outro desafio sério que, com frequência, surge é a formação das denominadas “bolhas”. Uma pessoa ou uma ideia ou conjunto delas vão formando um grande grupo digital que se firma num conjunto de ideias e vai aproveitando o acesso às redes sociais, ampliando seu espaço digital na convivência diária. Tudo isso é possível porque as pessoas se sentem à vontade de se expressar e até para atacar outras nas redes sociais. O ambiente on-line permite isso. Aquilo que seria quase impossível, num encontro personalizado, acontece nas redes sociais. Assim vão se formando, criando grupos por afinidade, as “bolhas”. Nessas, só é valorizado o modo de pensar ou agir que esteja em sintonia com a ideologia dos participantes da “bolha”. Os adversários são severamente combatidos e, com frequência, excluído do seu convívio digital.
Nesse ambiente digital, as pessoas frequentemente não se tratam com respeito, com afetividade, mas com agressividade. Não há ambiente de escuta e de diálogo. Desta forma, vão se formando e se firmando posturas radicais, que não permitem a presença de ideias ou atitudes que contrariem o modo de pensar e de agir da “bolha”. Assim, formam-se o radicalismo, o fanatismo. Está construída a estrada para o aparecimento da polarização: o já célebre “nós” e “eles” ou “os bons” e os “maus”. Dois polos. É evidente que num ambiente humano neste patamar, é impossível praticamente, pensar em construir um autêntico diálogo, pois, não há escuta. Só há um monólogo acerbado. Fraternidade e solidariedade só para os do “meu” âmbito ideológico. Portanto, não é possível também um verdadeiro encontro de pessoas. Uma autêntica Cultura do Encontro está fora desse horizonte.
É bem por isso que o Papa Francisco tanto fala e insiste no esforço pessoal, grupal e comunitário na construção diária do ambiente propício para construção efetiva da Cultura do Encontro. Para tanto, concorrem o empenho efetivo e a vivência dos valores da Boa Nova do Reino, nos vários ambientes socioculturais.