Engenheiro agrônomo aponta dificuldades para a arborização avançar na região
Segundo ele, áreas verdes e espaços públicos devem ser melhor aproveitados
Embora seja uma tendência em diversas cidades do mundo, a arborização das vias públicas é algo difícil de ser posto em prática devido ao perfil das cidades da região. As ruas estreitas, com calçadas espremidas praticamente inviabilizam as plantas no passeio público, mas isso não significa que não tenha espaço para avançar nesta questão nas áreas verdes.
“Temos que assumir que as nossas cidades não são pensadas para a urbanização e para receber árvores”, declara Juliano Piske, engenheiro agrônomo que também tem um viveiro de mudas.
Ele avalia que as cidades da região não têm estrutura para receber muitas árvores nas calçadas. Um dos motivos apontados por Piske é a largura dos passeios públicos.
Piske afirma que calçadas com menos de dois metros dificilmente podem receber árvores porque tem pouco espaço. “A árvore não pode ser colocada em um local que vá atrapalhar”.
Devido ao crescimento desordenado que ocorreu em toda a região, com ruas muito estreitas e mal planejadas, hoje, a maior parte de Brusque não tem vias largas. “99% das calçadas da cidade são muito estreitas”, diz Piske. A exceção são as vias no Jardim Maluche e as duas Beira Rio e um punhado de outras ruas.
Entretanto, além da largura do passeio público, há outro obstáculo: a fiação. “Árvores e fiação não combinam”, declara o engenheiro agrônomo.
Piske afirma que plantar uma árvore debaixo de uma fiação é um problema para o futuro, pois em alguns anos a planta vai atingir os fios e gerar uma demanda para o poder público. “Antes de plantar, tem que olhar para cima”, pondera o especialista.
Histórico
Piske diz que um exemplo de arborização que deu certo na cidade são os ingás, na praça Sesquicentenário, em frente à prefeitura. As palmeiras na rua em frente ao pavilhão também são outro ponto onde deu certo.
Brusque tem uma história de conflito com a arborização. Houve algumas iniciativas, mas que não prosperaram, como a arborização da avenida Bepe Roza, a Beira Rio.
Piske diz que até mesmo na outra Beira Rio, a avenida Arno Carlos Gracher, havia mais árvores que foram cortadas por diferentes motivos.
Alternativa
A falta de calçadas largas e a fiação aérea dão a impressão de que a arborização não tem espaço em Brusque e cidades do entorno, mas, pelo contrário, ela pode avançar.
O engenheiro agrônomo afirma que uma alternativa são as praças. “Praça tem que ter uma sombra, ninguém vai para a praça e fica sentado debaixo do sol”.
Na avaliação de Piske, as praças ainda são pouco aproveitadas para a arborização. Como o objetivo de uma praça é a reunião da comunidade, é fundamental ter sombra para proporcionar conforto térmico para as pessoas ou então o espaço público perde o seu objetivo.
Há quem critique o plantio de árvores nas praças por causa da umidade que existe no inverno. Contudo, Piske lembra que o clima de toda a região é bastante quente na maior parte do ano, portanto, não faz sentido evitar o plantio sob essa justificativa.
Há, ainda, outro ponto que pode ser melhor explorado pelo poder público quanto à arborização: as áreas verdes e as Áreas de Preservação Permanente (APP).
Segundo Piske, há também muitas áreas verdes em loteamentos que assim constam no papel, mas na prática não têm plantas. Ele defende que até mesmo espaços institucionais recebam árvores quando não houver outro uso.
Área institucional são os terrenos destinados a creches e outros serviços públicos nos loteamentos. Essas áreas são delimitadas quando a prefeitura libera a documentação para o loteador.
Conscientização
Juliano Piske afirma que outro ponto a ser levado em conta para ter uma cidade mais arborizada é a conscientização. Simplesmente jogar a responsabilidade para o poder público não é prudente.
O engenheiro diz que muito se fala de arborização, mas as pessoas reclamam quando uma árvore é plantada na calçada. Ele também relata casos de comerciantes que cortaram árvores para liberar a visão de seu estabelecimento.
Piske diz que estacionamentos são locais propícios para arborização, se a espécie certa for escolhida.
Região é propícia para a arborização
Juliano Piske diz que há uma série de árvores que podem ser usadas na região devido ao seu clima favorável. As extremosas, usadas em Guabiruba e também existentes em Brusque, não são nativas, mas se adaptam bem ao clima local, além de não serem muito altas.
Outras espécies também se adaptam bem e têm copas grandes para fazer sombra, como a timbaúva, flamboyant, ingá, quaresmeira e sombreiro de praia. O importante é verificar qual é o ambiente e se é compatível com a espécie.
“Muito se também das árvores frutíferas, mas tem que ter cuidado”, pondera o engenheiro agrônomo. Há dois pontos que geram cautela. Um deles é que esse tipo de planta gera muita sujeira porque as frutas apodrecem e caem.
O segundo deles é que há o risco de alguém arriscar-se a subir a árvore e cair. A prefeitura pode acabar responsabilizada num caso desses.
Piske avalia que as árvores frutíferas baixas, como araçá e pitanga, são mais viáveis. Num espaço público, como o parque das Esculturas, elas podem, ainda, ser uma fonte de alimentos para os animais, como tucanos e outras aves.