Enquanto TCE-SC não decide sobre licitação, população de Guabiruba sofre com a falta d’água
Moradores têm de lidar com pouca água na torneira; empresa adotará medidas para reduzir problemas
Um ano e oito meses depois de prefeitura assumir o fornecimento d’água em Guabiruba, o desabastecimento é uma rotina na vida da população de todos os bairros. Com o verão a se aproximar, o problema tende a ficar ainda pior, por isso a Guabiruba Saneamento adotará algumas medidas para tentar minimizar a situação.
Fábio Tadeu Zimmermann, morador do Lageado Baixo, é uma das pessoas que sofrem com a falta d’água constante. “No começo, vieram ver. Na maioria das vezes, eles vêm e olham, mexem no registro. Eles saem, de repente, a água volta”, comenta Zimmermann.
Ele conta que na sexta-feira, 22, ficou novamente sem abastecimento. “Eu não tinha água, moro no morro, e meu pai que mora na geral tinha água fraca. Nós do morro não temos porque fazem a manobra para desviar a água para a Guabiruba Sul”, declara o morador.
Zimmermann diz que também acontece de a fatura vir mais alta por causa de ar na tubulação. Nesse caso, ele tem de ir até a Guabiruba Saneamento para pedir a revisão do valor.
Josiel Reis, morador do bairro Imigrantes, também sofre com o desabastecimento, apesar de ter uma caixa. “Você vive com medo que a água não seja suficiente, pois são quatro banhos, e as rotinas da casa. E quando volta a água, ela vem com muita lama”.
Os moradores do condomínio onde ele mora têm cobrado uma solução. “Procuramos a prefeitura em julho de 2018, conforme consta no abaixo-assinado, mas as respostas são sempre evasivas e as mesmas, justificam que o problema já existia e que a empresa não pode investir enquanto não sair a licitação”.
Uma moradora do mesmo condomínio, que não quis se identificar, também sofre com o problema. Ela conta que já perdeu peças do uniforme de trabalho devido à água suja na rede.
Impasse na licitação
A situação é resultado da falta de investimento durante os 43 anos de operação da Casan, conforme o prefeito Matias Kohler. “Estamos há dois anos sem poder investir”, acrescenta.
A concessão do sistema de abastecimento está em um impasse. O processo foi remetido ao Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (TCE-SC), após uma denúncia. Em março deste ano, o órgão determinou suspensão da licitação por indícios de irregularidades.
Recentemente, Kohler conversou com o conselheiro substituto que analisará o processo. Segundo o prefeito, o caso recebeu parecer favorável da Diretoria de Controle de Licitações e Contratações (DLC) e agora aguarda parecer do Ministério Público de Contas (MPC). Só depois é que o conselheiro poderá enviá-lo ao pleno do TCE-SC para uma decisão final.
Caso tenha um parecer favorável à manutenção da licitação realizada, a Atlantis Saneamento assumirá. A empresa já opera na cidade sob contrato emergencial, por meio da Guabiruba Saneamento.
O diretor-presidente da empresa, Anderson Botega, diz que há uma expectativa grande de que o TCE-SC julgue o caso ainda em dezembro deste ano, para o contrato ser assinado.
“Entre assinatura e aquisição e instalação de uma nova estrutura de captação, tratamento e reservação de água deve levar em torno de 120 dias”, esclarecer Botega. Ou seja, na melhor das hipóteses, a cidade pode ter uma ETA nova em abril de 2020.
Já se o TCE-SC julgar irregular a concessão, a prefeitura terá a opção de assumir o serviço ou relançar a licitação, o que inevitavelmente atrasará ainda mais a melhora do sistema.
Se não houver uma decisão favorável, mesmo sem uma licitação, a prefeitura terá de investir no sistema. “Vou ter que parar todas as obras de pavimentação do município para agir, porque não posso deixar a cidade sem água”, diz Kohler.
ETA da Guabiruba Sul será ampliada para reduzir o déficit
Anderson Botega reuniu-se com Matias Kohler nos últimos dias para discutir o plano de ação para o verão. A falta d’água que já acontece tende a ser ainda mais constante com o calor e a necessidade mais banhos diariamente.
Enquanto não sai o parecer do TCE-SC, a empresa não tem como investir, pois não sabe se terá retorno, e a prefeitura também não deve colocar dinheiro, pois a iniciativa privada assume o serviço em breve.
Sem poder fazer grandes investimentos, a Atlantis fará uma intervenção na Estação de Tratamento de Água (ETA) da Guabiruba Sul. “Vamos colocar mais uma bomba para a captação de 27 litros por segundo para 33 l/s”, explica Botega.
A ampliação é uma maneira de minimizar a situação, mas não resolve o problema. Botega dá um exemplo: no dia 15 de novembro, o pico de consumo na ETA foi de 52 l/s, mas a produção era de 27 l/s.
Outra medida adotada pela empresa é a colocação de geradores de energia para as estações no município. Botega explica que o sistema funciona no limite, por isso ficar 15 minutos sem energia, portanto, sem a ETA trabalhar, pode resultar em um problema que demora até 48 horas para ser solucionado totalmente.
Além disso, o diretor-presidente da empresa diz que as equipes estarão a postos para realizar reparos emergenciais na rede. Botega também recomenda que os moradores tenham caixa d’água.
Sobre o problema da água suja, ele é causado porque Guabiruba tem um sistema do tipo “espinha de peixe”, ou seja, muitas redes terminam no fim da rua. O problema tem algumas soluções possíveis, mas para isso também é preciso investimento.