X
X

Buscar

Ensino integral caminha a passos lentos na rede municipal

Meta era ter metade dos alunos o dia todo na escola até 2016; até agora, apenas 20% deles estão neste sistema

A implantação da educação integral na cidade Brusque engatinha. Parte do plano de governo da Secretaria de Educação, a meta de conseguir colocar 50% dos alunos da rede municipal por pelo menos sete horas diárias nas escolas até o ano que vem foi abandona pela pasta. Longe de conseguir alcançar o objetivo por falta de recursos, segundo a secretária Gleusa Fischer, a solução encontrada foi adiar o prazo final.

De acordo com números da Secretaria de Educação, cerca de 2,5 mil dos 12 mil alunos da rede municipal ficam por sete horas ou mais nas instituições de ensino. Gleusa afirma que a meta estabelecida no plano de governo de Paulo Eccel era de colocar metade dos alunos no sistema de ensino integral. Contudo, ela pondera que “aprende a cada ano mais sobre como funciona este sistema de ensino integral”. É com esta experiência que ela diz que irá trabalhar com meta nacional estabelecida pelo Plano Nacional da Educação (PNE), que vai até 2020.

“Temos um plano de governo que estabelece que atendamos com educação integral 50% dos nossos alunos até 2016. Só que este planejamento foi feito antes da aprovação do Plano Nacional da Educação. Pelo plano nacional, temos até 2020 para atingir este percentual. Vamos trabalhar dentro do planejamento da meta nacional, embora o plano de governo estabeleça outros padrões”, afirma Gleusa.

A mudança nos padrões da educação infantil e fundamental em Brusque foi provocada por um choque de realidade nos custos. A secretária de Educação diz que prover aulas durante todo o dia para os 12 mil alunos é custoso e que para isso ser possível é preciso que o governo federal apoie mais os estados e municípios. Segundo ela, hoje, o recurso que vem do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) é utilizado na integralidade.

“Há uma discussão nacional sobre a ampliação do Fundeb, por exemplo, que está provado que da forma que está não atende às expectativas dos municípios e estados. Hoje, o que vem do Fundeb vai para a folha de pagamento. Quando se fala em piso nacional, precisa-se dizer para os municípios e para os estados de onde virão os recursos”, comenta Gleusa. Ela afirma que se os recursos já tivessem vindo, teria sido feito o ensino integral, porque a capacidade de investimentos dos municípios é reduzida.
Situação atual
De acordo com Gleusa, todas as escolas municipais e centros de educação infantil contam com a educação integral. Ela diz que todas as crianças de seis meses a três anos de idade nas creches ficam o dia todo nos educandários; no ensino fundamental, há oficinas no contra turno e um convênio com o Senai para cursos de aprendizagem na parte da tarde.

No caso do convênio com o Senai, cerca de 300 alunos têm a oportunidade de estudar de graça no Senai na parte da tarde. Este projeto da prefeitura é voltado para estudantes com 14 anos ou mais.”Este é um projeto que está dando muito certo. Começou em 2011, um projeto-piloto com 60 alunos e hoje está chegando a 300 alunos”, afirma a secretária.

A prefeitura também disponibiliza o transporte escolar e a alimentação, em casos específicos. Com o orçamento no limite, como afirma a secretária, nem todos os estudantes têm direito a comer na escola antes de ir para o curso à tarde, porque demanda custos. “Tem que ter planejamento, porque tem que ter recurso. O almoço é muito pontual, são aquelas situações em que ou a escola é muito longe de casa ou a escola está muito longe do Senai, que não dá tempo de almoçar em casa e pegar o ônibus”, explica.

Para os outros anos também existe o ensino integral, mas de forma diferente. Há oficinas esportivas e lúdicas para os alunos fazerem no contra turno. São aulas de futebol, artes e reforço, quando necessário. Mas também nesta modalidade nem todos podem participar. No início do ano é preciso fazer uma inscrição para que a criança possa ficar na escola mais tempo. Com estas dificuldades, a secretária diz que a implantação do ensino integral para todos os anos com os recursos disponibilizados hoje é impossível.

Estado

Se na rede municipal a situação engatinha, no estado ao menos existem duas escolas com educação integral: A Escola de Ensino Médio Yvonne Olinger Appel, em Brusque, e o Colégio Estadual Professor João Boos, em Guabiruba.

Segundo o gerente de educação da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) de Brusque, Rodrigo Cesari, existe plano de expansão do sistema, como manda o PNE. “Há recurso para a implantação do sistema de ensino inovador garantidos, ele vem do Pacto pela Educação”, diz Cesari.
Custos são empecilho

Carla Carvalho, especialista em Educação e professora da Univali, diz que o ensino integral é importante para que o aluno tenha mais possibilidades de desenvolver todas as suas habilidades. Contudo, ela pondera que não basta disponibilizar o tempo a mais, deve-se investir efetivamente no ensino. “Apenas ensino integral não adianta, tem que oferecer educação integral de fato, com um trabalho específico. Não adianta só dar mais tempo para os pais deixarem o filho na escola. Mas para poder fazer uma boa educação integral é preciso investir em infraestrutura e na contratação de mais profissionais qualificados, e isso envolve custos”, diz Carla.