Entenda como o Brusque conquistou status de clube que recupera e lança jogadores
Com trabalho de pesquisa e diálogo, time 'recicla' jogadores desmotivados e os recolocam em evidência
Nos últimos anos, o Bruscão vem se especializando em recuperar jogadores esquecidos em seus clubes e catapultá-los para o sucesso. A maior prova recente disso é o artilheiro Jonatas Belusso, um dos maiores goleadores do país em 2017. Após disputar o Campeonato Catarinense defendendo o clube brusquense foi para o Londrina jogar a Série B e, na última semana, assinou contrato com o Al-Shabab, da Arábia Saudita.
Antes do Brusque, Belusso era contestado no Brasil de Pelotas e grande parte da torcida o desaprovava – esquentou banco na maioria das partidas do clube grená. Esse mesmo cenário se repetiu com outras apostas que podem ser consideradas de risco do clube.
Atletas que vinham de lesão ou treinavam à parte foram captados pela direção de futebol quadricolor, se recuperaram e tiveram bom desempenho. Com isso, chamaram a atenção de grandes clubes do cenário nacional do futebol.
As recuperações
Somente nesta temporada, sete jogadores que atuaram pelo Brusque no Campeonato Catarinense foram encaminhados para equipes das séries B e C. O número seria ainda maior se alguns atletas, como Mineiro e João Carlos, não tivessem sofrido com lesões na reta final do campeonato.
A boa campanha, que mesmo com orçamento abaixo dos grandes times do estado conseguiu terminar na quarta colocação, chamou a atenção de outros clubes. A partida contra o Corinthians pela Copa do Brasil foi uma das principais vitrines.
Para o diretor de futebol do Brusque, Carlos Beuting, encontrar bons jogadores é resultado de um grande trabalho de pesquisa e também de contatos com dirigentes de outros clubes.
“Eu e o André (Rezini) não somos profissionais da área, mas com o tempo a gente foi conseguindo contatos importantes. Nós criamos vínculos com pessoas de outras regiões do país, e há uma troca de informações que facilita nosso trabalho”, explica.
Além disso, segundo Beuting, são muitas horas em frente à TV. “Nós vemos muitos vídeos e campeonatos, e depois disso ainda conversamos com muita gente para saber a atual condição do atleta e minimizar os possíveis erros”, completa.
Sobre o fato de recuperar atletas em desprestígio, André Rezini, que também integra a direção de futebol, comentou ser uma atividade comum até mesmo em grandes clubes.
“Acompanhei uma entrevista do Rodrigo Caetano, diretor de futebol do Flamengo, em que ele falou que o time precisa trabalhar com cerca de 20% de atletas que são bons, mas não vivem seu auge. É uma aposta de risco, mas o jogador muitas vezes corresponde a esse voto de confiança”, diz.
O lado psicológico dos jogadores também é trabalhado pelos dirigentes, que procuram motivar quem não vive boa fase. “Por incrível que pareça, nós temos um cuidado maior com isso do que clubes com mais estrutura. Às vezes eles chegam se sentindo apenas mercadoria, e batemos um papo para que eles se sintam em casa, mas também sabendo das responsabilidades”, completa Beuting.
Casos de sucesso
Um dos casos que comprovam a explicação do diretor de futebol é o do volante Ruan. Depois de problemas de indisciplina no Criciúma, ele foi emprestado ao Brusque, onde jogou e foi destaque da campanha que levou o quadricolor à quinta posição estadual em 2016. Já no retorno ao Tigre, voltou a dar problemas, inclusive desaparecendo do time carvoeiro.
Além de Belusso e Ruan, Boquita foi um exemplo de aposta de risco, mas que deu certo. Visto como revelação corintiana no fim da última década, o jogador despencou na carreira com más atuações e jogando por clubes de menor expressão. Chegou ao Brusque acima do peso e depois de ter sido afastado da Portuguesa.
No entanto, em pouco tempo recuperou a forma, fez bom campeonato e hoje, ao lado do atacante Michel Douglas, também ex-Brusque, ajuda o CSA (AL) a se manter na liderança de seu grupo na Série C.
Contratos maiores
Porém, ainda mais importante do que ‘reciclar’ atletas, para o Brusque seria fundamental que os jogadores permanecessem defendendo o clube. Isso dependeria de contratos mais longos, que somente agora, com receita aperfeiçoada e calendário cheio, poderá ser feito.
“Nós gostaríamos de ter vínculos maiores com esses jogadores, para contar com eles por mais tempo ou pelo menos lucrar com multa rescisória, mas isso batia no nosso orçamento. Agora estamos conseguindo fazer devido o nosso crescimento, mesmo que ainda pequeno”, afirma Rezini.
A situação mudou de figura já para as próximas temporadas. O clube assinou contratos de pelo 10 meses com 13 jogadores, que disputarão a Copa Santa Catarina e o Catarinense. Beuting revelou, ainda, que o clube está monitorando entre oito e dez atletas pra completar o elenco. “Provavelmente teremos um lateral e um atacante vindo do futebol nordestino”, afirmou, sem citar nomes.