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Entre professores, padres, bispos e servos de Deus: conheça perfil de antigos alunos de Filosofia do São Luiz

Padres já falecidos que estudaram Filosofia em Brusque estão em processo de beatificação

Entre professores, padres, bispos e servos de Deus: conheça perfil de antigos alunos de Filosofia do São Luiz

Padres já falecidos que estudaram Filosofia em Brusque estão em processo de beatificação

Em 90 anos de história, cerca de 2 mil estudantes passaram pelo curso de Filosofia da Faculdade São Luiz. Antigos alunos se tornaram professores, padres e, até mesmo, bispos. Dois deles já falecidos, em especial, estão em processo de beatificação pela Igreja Católica e, futuramente, podem se tornar santos. São eles: padre Aloísio Boeing e padre Léo.

A história da passagem de padre Léo por Brusque é, inclusive, muito conhecida na cidade. Ele foi o fundador da comunidade Bethânia, em São João Batista. Atualmente, ambos são considerados “servos de Deus”, título dado pela Igreja Católica quando processos que podem tornar a pessoa santa são abertos.

Um grande amigo de padre Léo foi o padre Claudinho. O sacerdote se recorda dos momentos de amizade com o servo de Deus. Padre Léo, inicialmente, foi professor de Filosofia de Claudinho na Faculdade São Luiz, entre 1994 e 1996.

“O Léo tinha um grande conhecimento e estudava bastante. Além do conhecimento, ele tinha uma didática muito interessante. Ele era muito descontraído e alegre. Eram aulas agradáveis e os dias de aula com ele eram dias esperados”, relembra Claudinho.

Primeira missa de padre Claudinho, celebrada ao lado de padre Léo, no dia 8 de dezembro de 2002. Foto: Arquivo pessoal

O sacerdote diz que o servo de Deus era uma pessoa acessível e, dentro de sala de aula, a experiência de Léo era um dos fatores que agregava no conhecimento dos estudantes, pois ele compartilhava as vivências com os alunos.

Quando concluiu o curso de Filosofia, Claudinho fez estágio e foi convidado para atuar no São Luiz. Na instituição, ele morou com padre Léo, no prédio do colégio. O sacerdote classifica a época como um momento de aprendizado. Foi quando Claudinho e Léo se tornaram amigos.

“Ele marcou muito a minha vida. Tive muito contato também com a família dele. Aprendi muita coisa com ele e cresci muito como ser humano. Sem dúvidas, fica a boa presença dele por aquilo que ele foi”. Claudinho e Léo chegaram a viajar juntos e, atualmente, o sacerdote lembra do servo de Deus e amigo com saudade.

Claudinho e Léo celebrando missa em um barco no mar da Galileia, em Israel, em 2005. Foto: Arquivo pessoal

A atuação do servo de Deus, sobretudo no auxílio a pessoas dependentes químicas, marca a trajetória dele. Padre Léo faleceu aos 45 anos, no dia 4 de janeiro de 2007, no Hospital das Clínicas, em São Paulo, em decorrência de um câncer.

“Quando o padre Léo estava doente, fui visitá-lo, em 2006. Ele já estava hospitalizado em São Paulo. Sabia que minha visita duraria cerca de 15 minutos, devido ao estado de saúde dele. Porém, ele mesmo pediu para que eu ficasse o dia inteiro no hospital. Foi um dia muito agradável e foi a última vez que estive com ele”, conta.

Ex-alunos notórios

A Faculdade São Luiz fez parte da formação também de padres que ficaram conhecidos em nível nacional. O padre Fábio de Melo, que é cantor e apresentador e atua na Diocese de Taubaté, e o padre Joãozinho, que também é cantor e é natural de Brusque, passaram pela faculdade.

Outro sacerdote conhecido nacionalmente que passou por Brusque é o padre Zezinho, autor da famosa música Oração pela Família. Ele estudou junto com o padre Adilson na cidade. Já Fábio de Melo foi aluno de Adilson.

“Ele (Fábio de Melo) era muito inteligente. tinha uma letra muito bonita”, brinca adilson.

Bispos também passaram por Brusque, incluindo o arcebispo da Arquidiocese de Florianópolis, dom Wilson Tadeu Jönck. O brusquense arcebispo emérito metropolitano de São Salvador da Bahia, Murilo Krieger, e o bispo emérito da Diocese de Santo André, José Nelson Westrupp, também cursaram Filosofia na cidade.

No evento de lançamento da revista em alusão aos 90 anos do curso de Filosofia do São Luiz, realizado na sexta-feira, 17, dom Wilson marcou presença e comentou a importância do estudos de filosofia. Além de estudante, ele chegou a ser também professor de antropologia filosófica do curso em Brusque.

“Foram tantos que passaram por aqui e se beneficiaram com o curso. Depois de 90 anos, o curso cumpriu e cumpre com toda força o propósito inicial: ajudar a preparar pessoas a interpretar os momentos da vida de uma forma verdadeira e profunda”, elogia dom Wilson.

Filosofia como profissão

Entre os aproximadamente 2 mil alunos do curso, também está a professora Lara Emanuele da Luz, que dá aulas de Filosofia aos alunos do Ensino Médio do Colégio São Luiz e leciona também no curso da Faculdade São Luiz. Ela foi uma das mulheres que se formou em um ambiente majoritariamente masculino e com interesse de estudantes voltado ao sacerdócio.

“Minha turma era muito boa. Sempre me respeitaram do início ao fim. Quando eles tinham o dia livre para sair, íamos comer pizza. Tínhamos atividades que iam além da faculdade também. Fui algumas vezes ao seminário para fazer trabalhos. Sempre me acolheram muito bem e respeitaram minha opinião”, diz.

Na faculdade, ela foi uma dos chamados “leigos”, considerados os estudantes que não tinham objetivo de seguir atuando diretamente na vida religiosa. No caso, homens podem se tornar padres e, mulheres, freiras.

Professora Lara Emanuele da Luz dá aula de Filosofia para o Ensino Médio do São Luiz e atua na faculdade. Foto: Thiago Facchini/O Município

A entrada da ex-estudante ao curso de Filosofia do São Luiz foi influenciada pela mãe, que fez Estudos Sociais. Lara tinha o objetivo de cursar Psicologia, mas o curso era ofertado durante a noite em Brusque e ela não conseguia frequentar a faculdade neste período. Como também gostava de filosofia, acatou a sugestão da mãe.

“Levei meu histórico escolar [na faculdade]. Me lembro como se fosse ontem. Eu tinha 18 anos e meu pai foi junto. O padre Silvano me acolheu muito bem e, na primeira semana de aula, me apaixonei por Filosofia. Uma das primeiras disciplinas que tive foi com o padre Silvano”, conta.

Lara entrou na Faculdade São Luiz em 2013 e se formou em 2015, em grau de bacharel, ou seja, com graduação voltada à pesquisa. Em 2016, entrou para o mestrado em Filosofia na UFSC e fez licenciatura para atuar como professora. Logo depois, em 2018, fez doutorado em Filosofia na PUC do Paraná.

A ex-estudante e professora ressalta a rigidez nos estudos. Ela se recorda de uma prova oral feita em sala de aula, em que o professor passou um livro com muitas páginas para estudo e fez somente uma pergunta na hora da prova. “A nota dependia disso”, conta Lara, em tom de brincadeira.

Futuro da Filosofia

Em meio ao mundo cada vez mais digital, o desafio é pensar no futuro do curso de Filosofia. Em muitos casos, estudos antes presenciais passaram para a modalidade de ensino a distância (EAD), sobretudo após a pandemia. O diretor da Faculdade São Luiz diz que é importante questionar o papel da filosofia no mundo quando se fala do futuro.

“Possível é uma Filosofia EAD, mas, para aquilo que o curso de Filosofia existe e é, será que o EAD contempla essa qualificação? Será que não é o presencial que faz refletir e traz o debate? Quando se pensa em futuro, é esse o questionamento: como fazer acontecer diante de um mundo digital”, afirma padre Silvano.

O diretor diz que é necessário lembrar dos 90 anos de história da Filosofia do São Luiz para pensar no futuro. Ele comenta também os desafios de dar continuidade a um projeto que tem mais de nove décadas de história e contou com os esforços de diversas pessoas.

“Celebrar 90 anos é celebrar um passado. Este passado é de gratidão, por passar 90 anos e, agora, olhar e dizer que temos que celebrar o presente e fazer jus ao passado”, afirma. “Dar continuidade aos 90 anos do curso é uma responsabilidade muito grande. Dar continuidade é estar atento às mudanças e qualificar o trabalho”, finaliza o diretor.

O coordenador do curso de Filosofia do São Luiz, padre Aléssio da Rosa, reforça os argumentos de Silvano e afirma que a oferta do ensino de forma presencial é uma marca do curso. Ele, no entanto, não descarta que o EAD seja uma opção para o futuro.

“O aspecto formativo, ainda alinhado à caminhada sacerdotal, tem uma marca muito importante e forte. Então, a abordagem presencial se mostra bastante atual e sólida”, opina Aléssio. “No entanto, para um futuro, não se fecha a possibilidade de abrir também em EAD, mas seria para atender outro público”, pontua.

Padre Aléssio da Rosa é professor e coordenador do curso de Filosofia do São Luiz. Foto: Thiago Facchini/O Município

Aléssio acredita que nada substitui o contato presencial na discussão filosófica. Atualmente, há três turmas de estudantes de Filosofia na Faculdade São Luiz. Cerca de 70 alunos fazem o curso e a grande maioria, segundo o coordenador, tem objetivo de se tornar padre. No convento Sagrado Coração de Jesus há 25 seminaristas e todos cursam Filosofia no São Luiz.

“Digamos que 90% tem [como foco] a busca pelo sacerdócio. Porém, temos também mulheres que fazem o curso e outras pessoas que não vêm deste caminho [religioso] e têm outros objetivos. Acredito que a filosofia é uma forma de dialogar com o mundo também no trabalho”, finaliza.

Outras pessoas que marcaram anos do curso:

Frederico Winkelmann, João Hülse, Nivaldo Alves de Souza, Luiz Carlos Berri, Sildo César da Costa, João Carlos de Almeida, Aloísio Steiner, Tadeu Cristóvam Mikowski, Elói Dorvalino Koch, Valberto Dirksen e Maria da Glória Dittrich, além de outros nomes, também fazem parte das nove décadas de existência do curso de Filosofia em Brusque.


– Assista agora:
Doação de herança deu início à história da igreja do Águas Claras, em Brusque

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