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Erosão na Beira Rio pode repetir danos em calçadas e solução passa por revegetação das margens

Margens com árvores praticamente não foram danificadas nas cheias e enchente de 2023

Vários pontos das margens do rio Itajaí-Mirim, em Brusque, sofrem com erosão. Na enchente de 2023, o processo erosivo ficou ainda mais aparente e as calçadas das avenidas Beira Rio tiveram danos. As obras de reparação ainda são realizadas, após mais de um ano da terceira maior enchente já registrada em Brusque.

A revegetação das margens do rio poderia frear a erosão. Vanderleia Gemelli, mestre em Geografia e professora do Instituto Federal Catarinense (IFC) de Brusque, relata que o plantio de árvores, principalmente, ajudaria a mitigar o processo erosivo.

“Temos que pensar em estratégias que possam segurar o solo e evitar que a força da água carregue os sedimentos em maior velocidade. Isso ocorre quando chove. Precisamos de estratégias de plantio de árvores e vegetação em geral”, afirma a professora.

A vegetação tem papel de infiltrar a água, evitando o escoamento, que é a causa da erosão. A cobertura vegetal promoveria um efeito de proteção do solo em resposta à força das cheias e enchentes que frequentemente atingem Brusque nos meses finais de cada ano.

Graças às árvores em frente ao Sesc, praticamente não há erosão no trecho da margem do rio. Foto: Thiago Facchini/O Município

Qualquer planta pode ajudar a frear o processo erosivo. Até mesmo a colocação de grama auxiliaria. No entanto, conforme a professora Vanderleia, o ideal seria o plantio de árvores ou plantas de maior porte, com raízes profundas, que dariam mais resistência ao solo.

“Fazer o plantio de mudas de árvores no entorno da Beira Rio é uma estratégia fundamental. Precisamos que esse solo seja mais resistente e é justamente isso que as plantas vão proporcionar, tanto mais resistência do solo quanto menor impacto nele em eventos chuvosos”, analisa.

Boa conservação da margem do rio em frente à Arena Brusque, onde há árvores. Foto: Thiago Facchini/O Município

Mudanças climáticas

A erosão é um processo natural da dinâmica do rio. Ao longo do percurso, as águas escavam o vale em que está localizado o rio, o que gera o “desmoronamento” das margens, como é possível notar na Beira Rio. Além de frear a erosão, o plantio de árvores nas margens pode contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

“Quando falamos de árvores e plantas de grande porte, estamos contribuindo para diversos fatores, não só para evitar o processo erosivo. Vivenciamos situações de mudanças climáticas, e as árvores trazem outros benefícios, pois atuam em outras frentes também”.

Obras de recuperação da Beira Rio continuam após mais de um ano da enchente. Foto: Thiago Facchini/O Município

Os efeitos do El Niño mais intenso em sete anos causou diversos transtornos para Brusque em outubro e novembro de 2023. O rio Itajaí-Mirim transbordou mais de dez vezes naqueles dois meses. No dia 17 de novembro, chegou à marca de 8,96 metros, o terceiro maior nível já registrado, superando a enchente de 2008.

“Se considerarmos que eventos de cheias e enchentes serão cada vez mais frequentes, precisamos agir de uma forma a proporcionar que a dinâmica natural do rio possa acontecer sem trazer muitos impactos para nós. O que podemos fazer? Colocar vegetação para proteger o solo”, relata Vanderleia.

Discussão na Câmara

A revegetação das margens já foi assunto na Câmara de Vereadores de Brusque. Em outubro do ano passado, o ex-vereador Marcos Deichmann (PRD) sugeriu o plantio de vegetação às margens do rio. O parlamentar, que ocupava uma cadeira na Câmara interinamente, disse que a erosão chamou atenção quando passava pela Beira Rio.

“Não vai demorar muito tempo para [erosão] gerar um custo enorme ao município em relação aos enrocamentos que deveriam ser feitos. Isso não é uma obra barata. Vai custar milhões ao serviço público. É preciso fazer um estudo para replantio de árvores às margens da Beira Rio”, defendeu o então vereador.

Processo erosivo é aparente na margem do rio em frente ao The Bridge Bar. Foto: Thiago Facchini/O Município

Ele afirmou que, nos locais da Beira Rio em que há árvores, as margens estão resistentes, diferente dos pontos em que não há árvores, com erosão intensa. O parlamentar citou como exemplo a região do Sesc, em que há árvores e o processo erosivo naquele local era mínimo. Atualmente, praticamente não há erosão naquele trecho.

“Poderíamos fazer um estudo do tipo de vegetação que poderia ser plantada. Sabemos que existem árvores com raízes mais laterais, que, com certeza, iriam obstruir as calçadas da Beira Rio, mas existem árvores e plantas que têm raízes profundas, não se alastram e iriam segurar a erosão”, completou.

Rochas como solução

Nem todo o percurso do rio Itajaí-Mirim por Brusque possui vegetação nos arredores. Há lugares em que as rocas fazem o papel de margem. As estruturas também são usadas durante as obras de reconstrução das calçadas das avenidas Beira Rio, destruídas na enchente de 2023.

“As rochas fazem um papel importante, pois é uma estrutura mais resistente que impede que haja deslizamento. No entanto, temos que entender que há um processo maior. Se fizermos medida paliativa no entorno, daqui um tempo teremos que fazer de novo”, comenta a professora Vanderleia Gemelli.

Por fim, ela reforça que é necessário não pensar somente em medidas paliativas para resolver problemas que envolvem o meio ambiente, mas sim em soluções a longo prazo que contribuam para minimizar os efeitos das mudanças climáticas.

Rochas são colocadas para recuperar margens danificadas pela enchente de 2023. Foto: Thiago Facchini/O Município

Medidas para solucionar erosão

O chefe de Operações e Assistência da Defesa Civil de Brusque, Edevilson Cugiki, afirma que o assunto revegetação das margens não é novo. Ele diz que a coordenadoria municipal de Defesa Civil é favorável ao ato para conter a erosão, mas recomenda que a escolha das espécies seja por plantas que não tenham troncos robustos.

“Esse assunto de revegetação das margens do rio Itajaí-Mirim não é novo. Volta e meia, ele vem à tona”, comenta. “A Defesa Civil julga que é importante a revegetação ou as obras estruturantes. A revegetação tem um papel mais harmônico e esteticamente melhor. Por ser um processo natural, demanda de um investimento menor”, avalia.

O superintendente da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema), Cristiano Olinger, afirma que o problema da erosão é mais crítico do que somente a falta de vegetação nas margens. Ele comenta que, ao longo dos anos, os rios foram retificados e a velocidade das águas aumentou.

“Nossas margens, em muitos lugares, são formadas por material sedimentado. Basicamente, a areia trazida pelo próprio rio, que é muito colapsível, ou seja, sem coesão alguma, quando atingida por água em velocidade, é facilmente carregada. Muitas vezes, inclusive, vimos erosões em áreas com vegetação, levando todo esse material para dentro do rio”, comenta.

Cristiano relata que, por este motivo, durante a execução das novas avenidas Beira Rio, o material é substituído por argila. Conforme o superintendente da Fundema, trata-se de um material que não é carregado quando compactado. Por outro lado, ele reconhece que a vegetação tem papel importante na contenção de encostas.

“A vegetação tem papel fundamental na contenção de encostas. A Fundema está planejando um projeto que contemple isso nas áreas que não será realizado o canal extravasor. Esse projeto de reflorestamento das margens tem que ser algo muito bem elaborado e envolver cada proprietário dos imóveis [nos arredores da Beira Rio] para que tenha efetividade”.

Há ainda um outro projeto defendido pelo superintendente da Fundema que visa a diminuição da velocidade das águas do rio quando chegam à parte central da cidade. A ideia é que os canais extravasores sigam fazendo o papel de forma célere e que menos áreas do município sejam atingidas em eventos de chuva que transbordam o rio.


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