Escola Charlotte comemora 25 anos

Instituição contribui para a melhora da qualidade de vida de crianças portadoras de doenças mentais

Escola Charlotte comemora 25 anos

Instituição contribui para a melhora da qualidade de vida de crianças portadoras de doenças mentais

Hoje, a Escola Charlotte – Núcleo de Yoga e Atividades Psicofísicas – comemora 25 anos em Brusque. A escola foi criada a partir da necessidade que a esteticista Bernadete Rocha sentiu em proporcionar uma melhor qualidade de vida para as crianças portadoras de doenças mentais do município.

Tudo começou em 29 de novembro de 1985, quando Bernadete deu à luz Charlotte, hoje com 29 anos. Neste dia, ela soube que a filha era portadora da Síndrome de Down, e a partir daí, começou a sua luta em busca de melhores condições para que ela pudesse crescer saudável e incluída na sociedade. “Na época, não havia essa possibilidade de fazer a contagem de cromossomo. Soube ali, no momento do nascimento. Vi que ela era diferente porque não sugou meu seio como o irmão fez, a boquinha era aberta, a língua caidinha para fora da boca, a salivinha escorria, ali foi a dor, o obstáculo de não querer o diferente, eu não queria a bonequinha quebrada. Chorei muito, perguntava a Deus porquê, mas lembrei do que minha mãe me dizia, que não cai nenhuma folhinha de uma árvore sem a permissão de Deus, lá naquele momento isso me veio à mente, então entendi que se ela estava ali era pela vontade de Deus”, diz.

Ao sair da maternidade, Bernadete iniciou a sua busca por informações sobre a doença. “Buscamos literatura sobre a doença, fomos até a Apae para entender o trabalho deles, como aqui em Brusque não tínhamos estimulação precoce, fomos para Itajaí, para Belo Horizonte buscar o Yoga para portadores de deficiência, e na época, uma cliente estava indo a São Paulo e perguntou se eu queria alguma coisa, eu disse que queria um livro que falava sobre crianças mongóis, como chamavam na época, do médico Raimundo Veras. Ela conseguiu o livro e a partir daí tudo mudou”, conta.

De acordo com ela, Raimundo Veras buscou técnicas no mundo todo para ajudar na recuperação de seu filho, que ficou tetraplégico. “Ele encontrou na Filadélfia, nos Estados Unidos, os institutos de desenvolvimento do potencial humano, e lá ele aprendeu o método de reorganização neurológica e trouxe para o Brasil. Então fomos ao Rio de Janeiro, conhecemos a clínica dele, e a Charlotte iniciou o tratamento. Ela frequentou por sete anos e oito meses, teve alta depois disso e saiu caminhando normal, com sua fala melhor e as suas seis inteligências bem melhores”, destaca.

Ao mesmo tempo que Charlotte realizava o tratamento, Bernadete passava o método para outros pais, que percebendo a melhora notável da menina, procuravam sua ajuda. Foi aí que ela teve a ideia de montar um espaço próprio para o tratamento dessas crianças. “A ideia de abrir uma escola foi em função do número de pessoas que me procuravam na minha casa pedindo que eu realizasse o trabalho que eu executava na Charlotte porque eram visíveis os resultados favoráveis. Começou a vir gente, não só do nosso município, mas dos arredores. Minha casa deixou de ser um lar, virou uma clínica, um local de atendimento ao público, e isso acarretou uma série de dificuldades familiares. Foi então que surgiu a vontade de criar um espaço para atender esses pais”.

Bernadete encontrou parceiras na ideia, e em 13 de março de 1990, fundaram o primeiro espaço para atender esses pais. “Nesse meio tempo, já tínhamos crianças para serem atendidas. Começamos na rua Daniel Imhof, em uma sala emprestada. Em 1991, a Secretaria de Educação de Brusque, nos deu todo o apoio para que tornássemos o espaço uma escola de reabilitação para desenvolver o método que usamos até hoje”.

Atualmente, a escola atende 30 crianças portadoras de todos os tipos de doenças mentais, que através do método de reorganização neurológica, conseguem levar uma vida mais saudável. “Ao contrário do que muita gente pensa, a escola não foi aberta para a minha filha. Charlotte só começou a frequentar a escola quando teve uma leucemia aos 12 anos, e a equipe médica que tratava ela, nos orientou para que ela saísse do ensino regular”.
25 anos de conquistas

Nesses 25 anos, Bernadete comemora as conquistas da escola. “Muitas crianças nesses 25 anos tornaram-se adultas, são casadas, têm filhos. Todas foram incluídas no ensino regular, no mercado de trabalho. Eu reverencio a Charlotte por ela ter me escolhido para ser mãe dela. Através deste nascimento, que a princípio doeu tanto, vejo quanto eu aprendi”.

De acordo com ela, muitas crianças chegam à escola desacreditadas, mas com o trabalho realizado conseguem a superação. “Muitas crianças chegam com diagnóstico de que nunca vão andar, e com o nosso trabalho, mediante estímulo vê que está ficando de gatinho, de macaquinho, de pé e daqui a pouco andando. Temos muitos casos assim. São raros os casos que não chegam a caminhar. 99% vai caminhar, vai falar, vai pro mercado de trabalho”.

Nos 25 anos de escola, Bernadete lembra de todos os voluntários que já passaram pela escola. “Tivemos uma época em que tínhamos muitas mulheres voluntárias. Hoje, já não temos tanto. Mas muitas dedicavam o seu tempo fazendo feiras de Natal no pavilhão da Fenarreco, e com este dinheiro conseguíamos manter a escola por muitos meses”, lembra.
Em busca da sede própria

Apesar dos 25 anos, a escola ainda não possui sede própria, apenas o terreno. “Hoje, o sonho da escola voltou a ser a sede própria. Por muito tempo deixamos esse sonho guardado devido às dificuldades que enfrentamos. Teve anos que a nossa prioridade foi manter as portas abertas. Hoje, já podemos pensar novamente na nossa sede. Temos o terreno, um arquiteto se prontificou a fazer a planta sem custo para nós, e acredito que agora poderemos lutar para conquistar este sonho”.

A escola oferece o tratamento gratuito às crianças. “Pedimos uma colaboração dos pais. É livre. Tem aqueles que contribuem com R$ 5, e outros com R$ 200”.

A instituição também sobrevive das promoções que realizam durante o ano, como macarronada, o troco solidário, rifas e também o auxílio de R$ 4 mil da Prefeitura de Brusque. “Gostaria de agradecer toda a cidade. Brusque abraçou a causa, só existimos porque o município abraçou a causa conosco”.

O método

Bernadete explica que o método usado na escola ensina a reorganizar os movimentos do corpo como os de uma criança normal. “O método consiste nisso: levar a criança portadora de deficiência mental a ter no corpinho os mesmos movimentos de um bebezinho normal. O bebê deficiente não faz os mesmos movimentos, ele fica parado, e neurologicamente isso prejudica muito. Quanto mais cedo o bebê for estimulado, melhor serão os resultados”.

Hoje, trabalham na escola 10 profissionais, inclusive Charlotte, que auxilia no tratamento das crianças. “A nossa ferramenta é a mão, o que mais precisamos são de mãos. Precisávamos de 30 pessoas para poder atender 60 crianças. Hoje atendemos 30, poderíamos atender mais, mas não quero fazer disso um depósito de crianças. Quero que todas que vem até aqui possam ter o seu tratamento certinho”, ressalta.

 

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