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Essa Terra é um Paraíso!

Brusque comemorou mais um aniversário em 04 de agosto e a história da colonização da cidade, ao longo dos anos, foi marcada pela participação de elementos de diversas nacionalidades como irlandeses, ingleses, franceses, poloneses e italianos, mas foram os imigrantes alemães que formaram o primeiro e maior contingente de colonizadores.

Foram eles que enfrentaram os primeiros desafios. Assim, para marcar esses anos de luta, construção e glória, compartilho com você, caro leitor, fragmentos da carta que a imigrante alemã Rosalie (Roese) Auguste Sametzki escreveu a seus avós que residiam em Dresden-Sachsen em agosto de 1860, exatamente no mês e ano em que teve início a colonização de Brusque.

(…). Aqui vivemos no meio da natureza e tu, meu avô, certamente gostarias de viver aqui. O nosso lar, na casa onde moramos é coberta de folhas de palmiteiras, sem janelas e sem assoalho, e a uns trinta passos da mesma está a mata virgem entre as mais belas flores e em volta das mesmas vê-se o beija-flor voando. O chão está coberto de baraços, nos quais muitas vezes corre-se o perigo de cair. Do topo das árvores, os baraços enviam seus cipós até o chão, sendo que alguns deles são finos e outros chegam a ter a grossura de um braço. Deste cipó fazemos cordas que são mais fortes do que sisal. Com estes cipós amarramos as paredes das casas.Que passarinhos de cores e formas inimagináveis!

 

Tangerinas, pêssegos, mamões e outras frutas para nos deleitarmos no verão….

Naturalmente para os que gostam de folguedos, estes faltam. Mas também os temos aqui.Eu danço ao som de um violino e de um harmônio, enquanto na Alemanha se ouvem orquestras e coros. Cada terra com seus costumes. Nossos trajes são muito simples: os homens usam camisa azul e a calça é segurada por um cinto no qual penduram um facão de dois palmos. Nós mulheres, vestimos saia e blusa e em geral andamos descalças ou calçamos tamancos, e naturalmente somos alegres. Nos dias de festa vestimos nossas roupas trazidas da Alemanha, com as quais também vamos à igreja.

 

Em nosso pasto temos duas vacas, dois terneiros, e meu cavalo Alazão que vale uma fortuna para mim, pois me leva nos domingos à igreja que fica há uma hora de distância (…). Os bugres, aqui ninguém precisa temer, pois um tiro de espingarda os assusta logo. Porém, o que falta aqui é mão de obra qualificada ou pessoas que trabalhem. (…). Uma empregada doméstica custa de oito a quatorze mil réis e além disso, é difícil de conseguir alguém. Nós trouxemos uma da Alemanha, porém dois meses depois ela se casou e agora estou sozinha. Minha mãe não pode trabalhar e fazer o serviço no início me custava muito, mas agora já estou acostumada, sou jovem e tenho força (…).Agora  já temos carpinteiro fazendo uma casa bonita para nós. Eu estou contente porque ela tem janelas de vidro, porta e assoalho. A comida é em geral feijão preto, farinha e carne seca. Nós já procuramos modificá-la. Fabricamos açúcar e cachaça (…). O nosso pão é de milho e é muito gostoso.

Ah! Se vocês pudessem viver aqui conosco para ver e provar do mesmo. Não se pode descrever como tudo é.

Eu já podia ter casado várias vezes, mas ainda não tenho vontade. Aqui os moços são como pão fresco, logo tem saída” (Blumenau em Cadernos, Tomo XXVI, 1985).

As linhas escritas por Roese retratam, em pinceladas, alguns aspectos da nossa região à época da colonização e um pouco do sentimento dos que estavam se estabelecendo nos Vales de Santa Catarina. 156 anos se passaram…e, apesar dos desmandos que temos visto e vivido, ainda podemos afirmar, com emoção e orgulho:

Essa terra é um paraíso!