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Paixão e Morte de um Homem Livre 2019 encanta público em dois dias de apresentações

Luciano Szafir, que interpretou Pôncio Pilatos, ficou surpreso com estrutura do espetáculo

As noites de Quinta e Sexta-feira Santa se encheram de cor e brilho com os fogos de artifício que marcaram o início e o fim do espetáculo Paixão e Morte de Um Homem Livre 2019, no Aymoré, em Guabiruba.

Cerca de 9 mil pessoas, 4,5 mil ao dia, acompanharam o dedicado trabalho de mais de 400 voluntários responsáveis pela 22ª edição da peça realizada pela Associação Artística Cultural São Pedro (AACSP) no pátio da Capela São Cristóvão.

Os espectadores vieram de todos os cantos de Santa Catarina. As horas de viagem foram compensadas pela emoção proporcionada pelas mais emblemáticas passagens de Jesus Cristo em seus últimos dias de vida na terra. Neste ano, de forma ainda mais especial, já que o próprio protagonista narrava as cenas com dose extra de emoção.

Tudo contribuiu para o sucesso. Os atores, que mesmo sendo amadores, deram vida aos personagens de um jeito nada amador. As falas, apesar de terem sido gravadas antecipadamente, estavam na ponta da língua para dar mais veracidade às atuações.

O público também fez bonito. Os olhares atentos da multidão dividiam espaço com os diversos celulares que registravam todos os momentos. As diversas crianças que também acompanhavam a encenação questionavam os pais sobre o que estava acontecendo na peça.

Os espectadores também foram convidados a participar. Para inserir o público na peça, várias palmas foram distribuídas para que na cena na qual Jesus chega a Jerusalém, os espectadores pudessem interagir abanando os galhos.

Até o clima contribuiu. Além de dias de céu estrelado, na quinta-feira, por ironia do destino ou mensagem dos céus, o tempo que estava limpo instantaneamente foi tomado por nuvens logo após Jesus dar seu último suspiro.

Personagens passaram em meio ao público/Foto: Jailson Pollheim/Especial

Horas de estrada
A moradora de Ibirama, Sandra da Silva, de 57 anos, acompanhou a encenação pela segunda vez na quinta-feira. A primeira ocorreu em 2017, quando ela organizou uma excursão para que mais pessoas da cidade pudessem assistir ao teatro.

Ela ficou encantada com toda a produção e decidiu fazer a mesma viagem. Segundo Sandra, o ônibus trouxe 21 pessoas. Destas, seis já assistiram ao teatro em 2017, e todos estavam ansiosos para ver o espetáculo. O grupo saiu do município às 15h e chegou em Guabiruba às 18h30. Nem o trânsito da rodovia BR-470 em véspera de feriadão parou os espectadores que optaram por uma rua interiorana para chegar a tempo.

Sandra confessou que tanto ela quanto os demais passageiros estavam com grandes expectativas.

Ela já tem planos de trazer a excursão para a edição de 2021 e aproveita para fazer uma sugestão à organização. “Eles constroem isso tudo para dois dias. Deveria ser a semana inteira”, brinca.

Em família
A família Mannes veio de Guaramirim para assistir a peça pela primeira vez. O patriarca Marcelino, 55, confessa que já tinha ouvido falar sobre a peça e veio com boas expectativas. Para ele, ver a peça é viver a paixão de Cristo.

Além dele, também vieram Betania, que é esposa, a filha Madiã e o genro Jaison Phanten. Eles pegaram a estrada rumo a Guabiruba às 17h. Todos estavam muito animados com a apresentação.

Para a próxima edição, Mannes pretende voltar ao município na sexta-feira para desfrutar o dia na região e assistir a peça à noite. “Eu não conheço Guabiruba, então queremos aproveitar para vir passar o dia inteiro”, revela.

Família Mannes veio de Guaramirim para acompanhar o teatro/Foto:Eliz Haacke

Do outro lado
O ex-ator voluntário da peça, Horst Dietrich, 37, aproveitou para manter a tradição e foi assistir com a esposa Joice, 37, e o filho Jose Henrique, 5. Ele reconhece que todo ano a peça traz novidades e, por esse motivo, sempre espera por surpresas.

Ele deixou os palcos logo após o nascimento do primeiro filho. Hoje, eles aproveitam para prestigiar o cunhado e a irmã que participam da peça.

Para Joice, apesar de a história ser a mesma, ela sabe que a peça conta com diversos atrativos. “A gente sabe que o pessoal ensaiou bastante”, enfatiza.

Família Dietrich assiste ao teatro há muitos anos/Foto: Eliz Haacke

Primeira vez
Moradora do bairro Lageado Baixo desde o nascimento, Nadia Cristine de Lima, 25, nunca tinha acompanhado a peça. Ela confessa que todos os anos da apresentação pensa em ir, mas acaba deixando de lado. Esse ano ela fez diferente e aproveitou para convidar algumas amigas para assistirem juntas.

Ela sempre acompanhava a peça pelas redes sociais e tinha conhecimento da grandeza do local. Por gostar de teatro e ser religiosa, Nadia confessou que os sentimentos durante a peça foram fortes. “Me emocionei bastante”.

Luciano Szafir: “Um dos melhores espetáculos que fiz em minha carreira”

O ator Luciano Szafir foi contratado para dar vida a Pôncio Pilatos, personagem que ele interpretou pelo menos 15 vezes durante a carreira. Segundo ele, mesmo estando longe da maioria dos ensaios, o fato de já ter interpretado o governador romano ajudou neste papel.

Apesar de muitas experiência profissionais, ele se diz impressionado com o espetáculo. “O teatro de Guabiruba é um dos melhores espetáculos que fiz em minha carreira. Há muita criatividade envolvida, organização, tudo com muita qualidade e comprometimento de todos, independentemente no que atuam. Há muito tempo não vejo uma comunidade fazendo algo com tanto amor como vi aqui”, descreveu.

O veterano ressaltou que a narrativa da peça o surpreendeu. “Vi coisas com uma criatividade incrível. Posso ressaltar o fato de ter mais um Jesus, um narrando a história e por trás acontecendo alguma coisa. Eu, em 23 anos de profissão, nunca tinha visto isso”, elogia.

Szafir também elogiou a receptividade e respeito do público e enalteceu a qualidade de vida da região, que o surpreendeu.

 

Pôncio Pilatos ordena o açoite de Jesus Cristo/Foto: Jailson Pollheim/Especial

Narração com emoção extra
Diretora da peça, Rejane Habitzreuter Schlindwein revelou que tem uma ligação com a peça desde os 7 anos, quando já tinha vontade de participar. Dali em diante tudo evoluiu e Rejane já passou pela coreografia, atuando como povo, em papéis com fala, narradora e finalmente a participação como equipe técnica.

Para ela, a peça tem papel fundamental para que as pessoas que participam se sintam capazes. Ela explica que na construção do texto foi definido que o protagonista falaria com sentimento. “Eu não vejo um Jesus contando a sua própria história sem falar do sentimento que ele passou nos últimos dias e em toda sua vida que esteve na nossa terra”, revela.

“O espetáculo ocorreu até melhor do que o previsto e esse momento nos faz acreditar que isso tudo vale a pena: foram seis domingos de ensaio, sendo quatro deles com chuva, deixamos muitas vezes a família de lado para estar aqui e fazer algo maior, algo em nome de Jesus Cristo”, avaliou o presidente da AACSP, Marcelo do Nascimento.

Com o encerramento da peça, agora a AACSP inicia os preparativos para o espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre em 2021. No próximo ano, como tradicionalmente acontece, não haverá apresentação.