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Estudante de Brusque cria nova vaquinha para se manter no curso de Medicina

“Desistir não faz parte do meu dicionário”, garante Bruno Bitencurt, que vai para o terceiro semestre na Unifebe

Desde que começou o curso de Medicina no Centro Universitário de Brusque (Unifebe), no ano passado, Bruno Arnon Bitencurt, 29 anos, vem se desdobrando para realizar o seu sonho. A família não tem condições para pagar a mensalidade de R$ 6,4 mil por mês e o estudante precisa de doações e conta com a solidariedade das pessoas para se manter no curso. 

Para o começo deste ano, o acadêmico do terceiro semestre está organizando mais uma vaquinha online, que pode ser acessada no link: vaka.me/886187. Ele espera que consiga arrecadar cerca de R$ 14 mil, o suficiente para o pagamento de fevereiro e março.

Ele produziu um vídeo e divulgou em suas redes sociais explicando como foram os dois primeiros semestres no curso para motivar as doações. “Quero mostrar o que a gente tem de rotina, o que consegue devolver para a sociedade, a questão de estar visitando as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Prestamos o serviço com o que aprendemos até agora”, diz.

Bitencurt conseguiu o pagamento das mensalidades de 2019 com uma vaquinha que arrecadou mais de R$ 10 mil e também com doações espontâneas. Ele também conseguiu uma bolsa que cobre 25% da mensalidade.

“Entrei no curso na primeira turma da Unifebe e sou um dos cinco alunos nessa turma que são de Brusque. Comecei numa quinta-feira à noite e tinha que pagar mais de R$ 6 mil já na segunda-feira seguinte. Fiz esta vaquinha para cobrir um mês, mas consegui em três ou quatro dias consegui mais do que esperava. Mais de 150 pessoas apoiaram, inclusive de outros estados, pessoas que eu nunca ouvi falar acreditaram em mim e eu consegui”, lembra.

Ele fez os esforços que pôde, ainda conseguiu outras doações, ajuda de pessoas e uma bolsa para se manter no curso durante o ano passado, mas vai precisar novamente se esforçar para pagar as mensalidades em 2020. Vendeu televisão e computador, organizou um carreteiro e uma rifa, com prêmios doados pelo Archer e Fischer, e recorreu a ajuda de parentes de longe e de perto, e também de outras pessoas, conseguindo se manter até o fim de 2019, mas vai ter que batalhar novamente neste ano para se manter.

Mesmo com todas as dificuldades, não pensa em abandonar seu sonho. “Eu já estava há muito tempo tentando esta vaga e desistir não existe no meu dicionário. Vou me manter do jeito que der. Estou batalhando para cursar este ano e assim até conseguir me formar. Estou aberto a fazer o que for, qualquer coisa para eu conseguir me manter no curso”, afirma.

Para ‘fazer a diferença’

Bitencurt sempre teve vontade de cursar Medicina, mas por um tempo deixou o sonho de lado. Ele nunca conheceu o pai e a mãe faleceu pouco antes de ele se formar no ensino médio, e a família não tinha condições para bancar o curso. Tentou outras opções, mas nunca se sentiu satisfeito.

“Não consegui deixar a medicina do lado, sentia que não estava no lugar certo, confortável e feliz até tentar o que eu realmente queria. Comecei a estudar sozinho, com livro emprestado, PDF e fiz um curso online” relata.

Conseguiu passar e chegou a cursar Odontologia com bolsa integral, mas descobriu que aquilo não era realmente o que queria. Continuou estudando para começar um curso de Medicina, até que conseguiu uma vaga na Unifebe.

“Estudava 10, 11 horas por dia, virava a madrugada. Fui muito bem no Enem depois de estudar por mais ou menos quatro anos, mas mesmo assim não consegui vaga em uma universidade pública e nem na Univali, mas aí abriu o curso na Unifebe e morando perto, eu tentei e passei”, comenta.

Para Bitencurt, a experiência está sendo ótima, apesar das dificuldades de se manter. Nos dois semestres que já cursou, aprendeu sobre todas as funções de uma UBS, e acabou conhecendo também a comunidade.

Sem desanimar, ele ressalta que quer fazer a diferença na vida das pessoas e se dedicar à saúde pública, sua maior paixão na profissão. 

“Ter uma remuneração boa e de um reconhecimento da sociedade para mim é secundário, porque eu venho de uma parcela da população que utiliza muito o Sistema Único de Saúde (SUS, que é o maior tesouro deste país. Defendo muito o SUS, arrumo briga. Mesmo as coisas simples que a gente faz atualmente, já dá para perceber a gratidão” completa.