Eu indico: As Irmãs Makioka
Após o lançamento de diversas obras de literatura japonesa pela editora Estação Liberdade, responsável também pelo lançamento de diversos livros da literatura chinesa e árabe no Brasil, fica em destaque a obra de Junichiro Tanizaki, As Irmãs Makioka, ou, para os mais íntimos, 細雪 (Sasameyuki). Ideograma fino, que pode ser definido como uma neve bem rala, típica dos invernos japoneses. Em seu som “sasame” podemos identificar também o “sussurro”, em um contexto geral do livro representando a ideia de uma voz suave ao pé do ouvido. O segundo ideograma simboliza Yukiko, protagonista do livro, que está em busca do casamento.
Irmãs Makioka, é um dos poucos livros de Tanizaki que não abordam infidelidade, fetichismo, ou sadismo, temas muito comuns principalmente em sua obra, com destaque para Tatuagem (livro sem tradução para Português), onde um fetichismo por pés é abordado. Em Makioka, Tanizaki deixa de lado o seu lado erótico, e parte para uma leitura calma e suave. Para não se perder na leitura, é importante entender um pouco o período histórico japonês vivido pelo autor, Tanazaki, nascido em 1886 em pleno período Mejii, presenciou a abertura do império japonês para o ocidente.
As irmãs Makioka, se passa na década de 30, em plena segunda guerra mundial, mas pouco se fala dela. Se trata de um livro mais sobre a modernização do Japão com o choque de Ocidente e Oriente. Tanizaki possuía uma enorme admiração por mulheres ocidentais, em um sentido de poder e independência financeiramente e de escolhas para os seus parceiros de casamento. O casamento é o tema recorrente na obra, visto que nessa época 70% dos casamentos no Japão eram arranjados.
Após a perda de sua mãe e pai, quatro irmãs se veem em uma situação financeira complicada, já que era a figura paterna que mantinha a casa.
A narrativa ira seguir a vida das quatro irmãs Makiokas: as duas irmãs mais velhas, Tsuruko e Sachiko são casadas, e regem a casa central, elas representam as características da região Kansai, que engloba cidades como Kobe, Kioto, Osaka e Tóquio, moderna e sem atrativos culturais. Taeko, irmã mais nova, possui uma visão mais ocidental do mundo, o que a leva a buscar uma independência financeira e amorosa, levando a ter diversos namorados durante a juventude. Em sua construção literária, Tanazaki tem como principal objetivo expor um desgaste tanto físico quanto mental de Taeko, por conta das diversas pressões sofridas pela sociedade. O que a leva a ser uma personagem interessante, a se comparar com os tempos atuais.
Yukiko, personagem central na obra, é a terceira irmã de sua família, composta somente por mulheres. Portanto é necessário um homem para dar continuidade a linhagem da família. Toda obra gira em torno disso, Yukiko é a mais ideal das mulheres, pois é a que mais representa a tradição e os costumes conservadores japoneses.
Os anseios das mulheres, suas relações amorosas, segredos e laços de amizade, tornam a leitura prazerosa, pois Sachiko e Teinosuke, possuem uma relação respeitosa e amorosa, Yukiko e Taeko transgredem somente entre a casa central e a casa secundária preferindo Ashiya levando aos ciúmes da Irmã, entre outros devaneios.
As ideias das irmãs se tornam um campo de batalha e a troca de palavras e farpas dá vida à obra, levando a nos identificarmos com alguns dos personagens.
As Irmãs Makioka é uma obra interessante para os amantes de literatura japonesa, e pode ser até levado por um lado entusiasta histórico devido às transformações socioculturais sofridas pela sociedade japonesa abordadas na obra. Mesmo a narrativa se passando na década de 30, as personagens femininas apresentam características que se encaixam perfeitamente como uma crítica a posição da mulher.
Guilherme Battisti Borba – 18 anos2020