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Euvaldo Habitzreuter cuida da Villa Quisisana há mais de seis décadas

Aos 82 anos de idade, guardião do casarão relembra momentos que viveu no local

Euvaldo Habitzreuter pega um ônibus, todos os dias, às 6h. Sai do bairro São Pedro, em Guabiruba, e se dirige até o Centro, onde fica seu local de trabalho. Uma rotina semelhante a de milhares de pessoas, não fosse por suas peculiaridades: aos 82 anos, ele é há mais de seis décadas o guardião da Villa Quisisana, um imponente e histórico casarão de Brusque, construído em 1934.

“Primeiro eu vinha de bicicleta, dez quilômetros da minha casa até aqui. Fiz isso por 25 anos”, conta seu Euvaldo. “Depois veio ônibus para a rua São Pedro, aí deixei a bicicleta de lado”.

Às 6h30 ele já está na casa da qual é o responsável pela proteção e limpeza. No Centro de Brusque, ao lado da escola Feliciano Pires, a Villa Quisisana, inspirada na arquitetura grega, chama a atenção de quem por ali passa. Um casarão conservado há quase um século, que guarda dentro de suas paredes parte da história de Brusque.

No fim da tarde, após as 17 horas, ele liga o alarme, prende os cachorros, tranca a casa e volta ao lar. O café, traz de casa, assim como o almoço, às vezes. Sua função é manter a casa em ordem, limpa e organizada, assim como o pátio.

Durante todo o dia, Euvaldo tem a companhia dos dois únicos habitantes da casa: os cães Neli e Nupi, que passam os dias preguiçosos, deitados no quintal.

De fala mansa e memória impecável, seu Euvaldo recebeu-nos em uma ensolarada para uma conversa no pátio da casa. Ali, contou passagens da história do casarão, no qual começou a trabalhar aos 19 anos, a pedido da proprietária, Renate Pastor, que faleceu no início de 2017, aos 102 anos.

“Eu trabalhei na tia da dona Renate, fiquei cinco anos lá. Aí o motorista da Buettner sabia que eu ia sair. Então ele me disse: tem uma casa para você trabalhar, aquele castelo”.

O castelo era a Villa Quisisana, que precisava de alguém para cuidá-la em tempo integral.

A rotina e o fascínio dos visitantes

Instigado a contar detalhes da rotina da casa nos tempos em que ainda havia moradores, Euvaldo revela fatos singelos, mas que são os primeiros a aparecer na sua memória: dona Renate gostava de plantar canteiros de alface, e sempre se oferecia para auxiliar nas atividades que envolviam o cultivo de plantas. Gothard Pastor, marido dela, pedia que fossem mantidos sempre dois ou três canteiros de tomate, para fazer suco.

O guardião da casa destaca o fascínio que ela exerceu e continua a exercer sobre as pessoas, e recorda que famosos e autoridades costumavam frequentar a residência, em seus tempos áureos.

“Veio muita visita aqui, vinha gente da Alemanha, o Beto Carrero veio aqui, os trapalhões vieram aqui, governadores vieram”, explica. “Faziam almoços, jantares”.

Para ele, se trata da casa mais bonita do município e por isso atrai tanta curiosidade. “Todo dia vem gente querendo entrar, bater foto, mas eu não posso deixar”, ressalta.

“Essa casa é um castelo, né? Uma casa bonita, a casa mais bonita de Brusque é essa ali”, diz, sentado em um banco no quintal, apontando para a porta de entrada da Villa Quisisana.

Ele cuida tanto o pátio quanto da manutenção do interior da residência | Foto: Arquivo O Município

A permanência por décadas

Durante essas seis décadas, apenas durante um mês seu Euvaldo não trabalhou na residência da família Pastor. Houve um tempo em que ele propôs à dona Renate trabalhar só meio período, porque queria mais tempo para cuidar de seus afazeres pessoais.

Ela insistiu que Euvaldo permanecesse em tempo integral, mas ele estava determinado. Foi trabalhar na Companhia Industrial Schlösser, mas logo a família Pastor foi “buscá-lo”, pedindo-lhe o retorno à casa.

Hoje, a rotina já não é mais a mesma: apesar dele ainda permanecer na residência em tempo integral. Atualmente, ele abre a casa diariamente para arejá-la e cuida da limpeza. Após a morte de dona Renate, decidiu permanecer na residência a pedido do atual proprietário, Herbert Pastor.

Ao que parece, no entanto, ele não tem intenção de deixar a casa. “As minhas duas filhas não querem mais que eu trabalhe, mas eles pediram tanto para eu ficar mais um tempo. Se for só isso, abrir a casa, fazer a faxina e cuidar dos cachorros, vou ficar mais um tempo até quando eu puder”, diz.