Everson Clemente, dono da Múltiplos, é preso pelo Gaeco
Segundo MP-SC, empresário usou empresas “laranjas” para participar de licitações
Everson Clemente, dono da Múltiplos Serviços e Obras, foi preso na tarde desta quarta-feira, 19. Ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça de Brusque, a pedido do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), por descumprimento de decisão judicial.
O pedido de prisão preventiva foi formulado pelo promotor Daniel Westphal Taylor, da 3ª Promotoria de Justiça de Brusque, e entregue ao Judiciário no dia 5 de setembro.
No documento, o promotor alega que Clemente vem descumprindo sistematicamente decisões judiciais que o obrigavam a se afastar do comando da Múltiplos, tendo em vista as acusações de que a empresa participou de fraude em licitações.
Na operação, denominada “Reiteração”, foram cumpridas também ordens judiciais para o acesso imediato a documentos públicos nos municípios de Brusque, Balneário Camboriú e Navegantes.
O Ministério Público já havia pedido a prisão de Clemente há dois anos, quando propôs a ação judicial contra ele. O MP-SC o denunciou porque, segundo o órgão, o empresário, por meio da Múltiplos, fraudou nove licitações na região. A Promotoria alegou que, como a empresa continuava a participar de licitações, poderia praticar fraudes novamente.
O primeiro pedido de prisão preventiva foi negado pela Justiça, a qual, posteriormente, determinou que ele se afastasse do comando da empresa, que só poderia participar de licitações se Everson Clemente não estivesse à frente. Clemente, para cumprir a ordem, nomeou um sócio minoritário para figurar como responsável pela Múltiplos.
No entanto, segundo a apuração do Ministério Público, esse sócio é apenas um funcionário da empresa, e não verdadeiramente a representa junto a órgãos públicos.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) monitorou os passos de Clemente e descobriu, por exemplo, que o sócio minoritário, Jackson Santana, tem estado presente em obras e serviços executados pela Múltiplos, atribuição que estaria mais relacionada com o suporte logístico da empresa do que com sua administração.
Ao mesmo tempo, Clemente fez visitas a órgãos públicos, dentre eles a Secretaria de Obras de Itajaí. Para o MP-SC, o empresário “possivelmente” tenha atuado como representante da empresa Múltiplos por ocasião da assinatura de um aditivo contratual, descumprindo a ordem de se afastar das atividades relacionadas à administração da empresa.
Com isso, um segundo pedido de prisão foi feito ao Judiciário, que novamente o negou. Contudo, a Justiça proibiu completamente a Múltiplos de participar de novas licitações de obras públicas.
O Ministério Público, porém, apresentou novo pedido de prisão no início deste mês, e elencou mais um motivo: a utilização de empresas como laranjas, de acordo com o órgão.
De acordo com o apurado pela Promotoria, Clemente voltou a participar de licitações, apesar da sua empresa estar proibida. O órgão informa que ele estaria utilizando as empresas Javali Construções, registrada em Navegantes, de propriedade de sua esposa, e Figueiredo e Silva Ltda, registrada em Balneário Camboriú, pertencente a um amigo, para participar de certames.
Uma das provas apresentadas são fotos de equipamentos com a marca da Múltiplos prestando serviços em São João Batista, em obra pública cuja licitação foi vencida pela Figueiredo e Silva. A empresa, segundo o MP-SC, venceu sete das oito licitações das quais participou em 2018, com obras em São João Batista e Barra Velha. Ambas as empresas não possuem funcionários registrados nas bases de dados do governo.
O Gaeco passou, então, a monitorar as ações dessas empresas. Constatou que caminhões das empresas Figueiredo e Silva e Javali Construções estavam saindo no início da manhã e retornando no final da tarde para a empresa Múltiplos. Maquinário que, inclusive, estava sendo conduzido por funcionários vestidos com o uniforme da própria Múltiplos.
Os agentes do Gaeco também identificaram que, em duas obras públicas de São João Batista, cuja licitação foi vencida pela Figueiredo e Silva, foi avistado um caminhão da empresa Javali Construções e uma retroescavadeira que estava sendo operada por uma pessoa vestida com o uniforme da Múltiplos.
O Ministério Público informou que já está investigando possíveis fraudes nas licitações que foram vencidas pela empresa Figueiredo e Silva, sobretudo por causa da utilização de maquinário da Múltiplos na prestação desses serviços.
Procurado pela reportagem, o advogado que representa Clemente no processo, Júlio Cesar Boos, afirma que a defesa ainda não tomou conhecimento sobre os termos da decretação da prisão preventiva.
Ele ressalta que se trata de uma prisão provisória, não motivada por qualquer condenação de seu cliente, e afirma que só irá se manifestar quando tiver pleno conhecimento dos autos.