Ex-ciclistas da equipe Schlosser realizam encontro
Evento realizado pelo quarto ano consecutivo já é tradicional
Enquanto o “arroz de doido” era esquentado na panela, pouco a pouco os antigos companheiros da extinta equipe de ciclismo Schlosser chegavam à casa do brusquense Glauco Vanolli. Os ex-atletas – e alguns ciclistas que ainda não largaram a modalidade – representaram Brusque entre meados dos anos 1980 e início dos anos 1990. Ontem, se encontraram para confraternizar e relembrar os momentos de glória na residência de Vanolli, no bairro Cedro Alto.
O anfitrião do já tradicional encontro – que alcançou seu quarto ano consecutivo de realização, não esperava que a ideia fosse dar tão certo. “Todo ano eu digo que vou desistir, pelo trabalho que é fazer isso aqui. Mas acabo voltando atrás e realizando”, explica. O ex-ciclista, que há mais de 20 anos não compete, agora testa suas habilidades na cozinha. Ele é o autor do chamado “arroz de doido”, e não quis passar a receita exata da sua ‘invenção’ gastronômica, apesar de ter feito sucesso entre os ex-ciclistas.
O número de componentes desta edição foi reduzido. Apesar do belo domingo de sol, parte da turma não se fez presente. Isso não impediu os bons momentos de risada, nostalgia e saudosismo. Logo surgiram as fotografias em preto e branco de competições do passado. O conteúdo dos recortes de jornal guardados por décadas provavam cada palavra contada pelos membros do grupo.
Atleta ‘das antigas’
As ausências foram compensadas com a presença, pela primeira vez no encontro, de um dos mais antigos competidores de Santa Catarina. Geraldo Bandoch acumula hoje mais de 400 mil quilômetros de pedal e muitas vitórias. O atleta joinvilense foi convidado porque estreitou relações com os brusquenses no auge da equipe Schlosser. Com 56 anos, Bandoch ainda pedala, tendo inclusive conquistado o título do Campeonato Panamericano de Ciclismo de Estrada, na Bolívia, pela categoria Master.
Com orgulho, o atleta joinvilense mostra a súmula de sua primeira competição, datada de 1976. “Naquela época o ciclismo movimentava muito público. Hoje em dia é um esporte com certa frieza entre os competidores”, lamenta. Mesmo com a paixão pela modalidade, Bandoch desaconselhou seus filhos a pedalar. O atleta sofreu acidentes pedalando e não quis que eles seguissem a mesma carreira.
Enciclopédia do ciclismo
Com dificuldades, os ex-atletas presentes no encontro tentavam recordar as datas dos acontecimentos. “Foi em 1990? Não… 1989. Não, tenho certeza que foi em 1991…”. O sofrimento acabou com a chegada de Afonso Gentil. Com precisão, o ex-ciclista campeão brasileiro sabia indicar as datas, os campeões e vice-campeões, as situações nos bastidores das competições e até mesmo os tempos realizados. “De 1976 para cá, pode me perguntar que eu sei de tudo!”, crava Gentil.
Ele também apresentou um portfólio com recortes de jornais. Entre o fim dos anos 1970 e meados dos anos 1980, o ex-atleta era figurinha carimbada na revista Placar, que apontava o então jovem ciclista como revelação dos pedais. Gentil trabalhou na área de recursos humanos da Schlosser no período que pedalou pela empresa brusquense. Ele lembra a receptividade que a equipe tinha dentro de Brusque. “A cidade adorava os ciclistas da Schlosser”.
Curiosamente, um dos artigos da revista Placar, com data de 1978, criticava a falta de um velódromo em Santa Catarina. Quase 40 anos se passaram e nada mudou.
Fim precoce
Com apenas sete anos de competições pela Schlosser, Vanolli precisou parar de pedalar. O ano era 1992, e o Brasil vivia uma crise econômica provocada pelo governo de Fernando Collor. Com isso, a empresa Caloi, que a princípio iria patrocinar o brusquense, cancelou todos os investimentos em atletas. Desestimulado, o jovem encerrou sua carreira como atleta. A saudade daquela época e principalmente do grupo de atletas permaneceu dentro dele, que tratou de criar o evento anual. “Eu tinha vontade de rever essa turma”, explica.
Quem também parou cedo foi Clovis Eccel. Em 1995, com apenas 20 anos, o ciclista resolveu dar um ponto final na sua carreira, contrariando o próprio pai. Exatos dez anos depois, Eccel ainda não consegue responder o que o levou a tomar essa decisão. “É uma pergunta que me faço até hoje. Sempre penso em voltar. Às vezes chego a sonhar com o ciclismo”, diz o tricampeão brasileiro da categoria junior.