EXCLUSIVO: Família faz velório de mulher em Brusque sem saber que ela tinha Covid-19

Confirmação do teste positivo chegou somente no momento do enterro, que não teve as precauções exigidas

EXCLUSIVO: Família faz velório de mulher em Brusque sem saber que ela tinha Covid-19

Confirmação do teste positivo chegou somente no momento do enterro, que não teve as precauções exigidas

Após o falecimento da mãe, a costureira Maria Cristina Minella, de 42 anos, fazia o velório entre a noite de terça-feira, 22, e manhã de quarta, 23, em Brusque. A certidão de óbito apontava morte por infarto, além de diabetes, pressão alta e obesidade. Portanto, o velório ocorreu normalmente por longas horas e com caixão aberto.

Porém, um pouco antes de fecharem o caixão, por volta das 10h, Maria recebeu uma ligação da Vigilância em Saúde. Ela foi informada que a mãe havia testado positivo para Covid-19.

Segundo Maria, foi um outro grande baque para a família, que teve contato com o corpo durante a cerimônia. “Eu fiquei muito chocada. Foi horrível. Não fui eu que quis velar, falaram pra mim que poderia, pois não era coronavírus. Isso está na certidão de óbito, que não tem Covid-19. Não tem nada, nem falando de suspeita”, relata.

Quando a morte foi noticiada pela prefeitura e pelos veículos de imprensa, muitos que estiveram no velório ficaram apreensivos pelo risco de terem contraído o coronavírus. O momento, que já era difícil para a família, tornou-se um pesadelo.

“Perder uma mãe, ser a única filha, não ter mais ninguém e estar passando por isso. E o comentário do povo? As pessoas que estão ligando? Não tenho paz, isso não está certo”, completa.

De acordo com Matheus Augusto Astuti, responsável pelo atendimento da Funerária Brusque, com a chegada de um óbito a primeira verificação feita é a da causa da morte. Após verificar que não havia menção ao coronavírus no documento, a equipe da funerária ligou para o Hospital Azambuja e foi informada que o teste tinha dado negativo.

Matheus ressalta que a indicação do hospital foi fazer o funeral normalmente. “A gente prosseguiu com velório normal. Na hora do sepultamento ligaram e avisaram sobre o teste positivo”, diz. “Colocaram muitas pessoas em risco. Se sai algo sobre Covid-19 no atestado de óbito, o corpo vai direto para o cemitério ou é cremado”, completa.

A equipe da funerária, independente da causa da morte, é equipada com viseiras, máscaras entre outros equipamentos de proteção individual (EPIs). “Os cuidados foram tomados. Caso alguém apresentar o sintomas, será isolado”, finaliza.

Falha na comunicação

De acordo com a diretora de Vigilância em Saúde de Brusque, Alícia Maria de Andrade Fagundes, este caso foi resultado de uma falha de comunicação do Hospital Azambuja. Este, segundo ela, deixou de informar a funerária e a família sobre a situação da paciente.

“Quando internam um paciente no hospital, é conduta médica solicitar um pedido de exame da Covid-19 para a Vigilância Epidemiológica. A gente tem feito o teste rápido em pacientes graves para garantir o leito de UTI, pois só podem internar na UTI com o resultado do exame”, explica.

Ela detalha que a mãe de Maria já tinha feito um teste rápido para Covid-19 no hospital, mas que resultou negativo. “A paciente em questão chegou ao hospital com um dia de sintoma e o teste rápido não acusa”, continua.

Com isso, foi solicitado o exame PCR, conhecido com teste do cotonete, que leva de dois a três dias para ficar pronto. “O que aconteceu é que o hospital falou para a família que o exame deu negativo, que foi o do teste rápido, e aí não informou que tinha outro exame em aberto. Quando chegou o resultado, a Vigilância Epidemiológica avisou o hospital e avisou a família, a gente sempre faz isso”, completa.

Entretanto, este não foi o primeiro caso que o hospital falha na comunicação do óbito decorrente da Covid-19. Durante esta semana, outra vítima registrada por Covid-19 também teve velório normal liberado e sem informações sobre a doença na certidão de óbito.

Hospital Azambuja é notificado

Segundo Alicia, como medida necessária, a Vigilância Sanitária notificou o Hospital Azambuja. Ela explica que existe uma normativa do estado, que os obriga a informar a vigilância imediatamente após o óbito.

“Eles são obrigados a colocarem na certidão de óbito que o paciente é suspeito de coronavírus, eles não estão colocando e isso está gerando todas essas situações”, diz.

De acordo com o chefe da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Azambuja, o médico Eugênio José Paiva Maciel, a situação está sendo monitorada pela equipe. Ele adianta que foi identificado o problema e tentam corrigi-lo, para não ocorrerem situações assim novamente. 

“A gente sabe do estresse, mas não tens ideia do que estamos vivendo com a Covid-19. Isso não é desculpa, erro existe, mas é uma situação totalmente atípica. Todas as doenças são semelhantes à Covid-19, então a gente primeiro desconfia para depois descartar. Ainda, tem a demora de teste, tem um que demora até 15 dias. E a gente tenta sempre corrigir os problemas”, comenta.

Desconfiança sobre pandemia

Segundo Alicia, a falha de comunicação afeta ainda mais na desconfiança da comunidade sobre a pandemia, pois a certidão de óbito informa a causa da morte diferente da associada ao coronavírus.

“As pessoas também falam que a vítima não morreu da Covid-19, pois não consta na declaração de óbito. Tem que estar, o hospital tem que arrumar, pois precisa subir em uma plataforma do Ministério da Saúde”, explica.

Alicia esclarece ainda sobre o fato de muitos acreditarem que o município se aproveita da situação para arrecadar dinheiro do governo. “A população acha que a gente recebe algum recurso, mas não recebemos. Nem pelo número de casos e nem por ocorrência de óbito”, diz.

Desespero após risco

Para aqueles de desconfiam da doença, também têm aqueles que se desesperam. Maria Cristina cita que, apesar do velório ter respeitado as regras de isolamento, sem aglomerações e com distanciamento adequado, muitas pessoas ficaram preocupadas.

Neste sentido, Alicia ressalta que é difícil afirmar se existe de fato um risco para quem estivesse lá. “As notas técnicas orientam as pessoas a não terem contato com os corpos, que os caixões devem ser fechados, pois há essa incerteza se é transmitido assim ou não”, explica.

Segundo ela, a orientação é que caso algum familiar ou conhecido apresentar qualquer tipo de sintoma, precisa procurar pelo Centro de Triagem para Sintomáticos Respiratórios, que fica no Pavilhão Maria Celina Vidotto Imhof.

A orientação é que todas as pessoas que apresentarem sintomas da doença (tosse, dor de cabeça, coriza, catarro, febre e falta de ar) procurem imediatamente o local, que atende diariamente entre 7h e 19h e nos fins de semana, das 8h às 17h.

Para o atendimento é necessário apresentar um documento com foto e, se possível, o cartão SUS. Dúvidas e encaminhamentos podem ser feitos pelo WhatsApp (47) 988-481-040.


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