Existe alimentação saudável?
Não há dúvidas que nosso histórico e costumes alimentares acabam sendo determinantes para nossa saúde. Mesmo assim, muitas vezes os médicos não prestam atenção e não abordam o assunto com seus pacientes. Há muitos anos atendi uma criança que começou a ter crises convulsivas cuja frequência aumentava apesar do tratamento.
Ao analisar os resultados dos exames de sangue percebi uma série de alterações, além de anemia, existia hipoalbuminemia (baixa de proteínas), leucopenia (diminuição dos glóbulos brancos) e vitaminas abaixo do nível desejado.
Ao indagar sobre a dieta tive uma grande surpresa, a mãe relatou que há alguns anos a criança somente comia um único tipo de lanche de uma rede de fast food. Os pais tinham desistido de proporcionar uma alimentação variada e saudável de tal forma que no freezer de casa sempre existia um estoque daquele lanche, único alimento que a pequena consumia.
Embora a desnutrição, anemia e baixa imunidade da criança não causaram as crises, não há dúvidas que contribuíam para o aumento da frequência e intensidade das convulsões. Foi necessário um árduo trabalho com psicóloga e nutricionista para fazer com que a criança mudasse o péssimo hábito alimentar.
No outro extremo, lembro ter atendido um atleta de alto rendimento que precisava manter uma dieta rígida determinada pelo nutricionista, que exigia pesar cada um dos alimentos que consumia. Neste caso, os exames de sangue se mostravam totalmente normais, mas existia um problema, após muitos anos sendo rigoroso com a dieta, o atleta começava a apresentar sintomas de esgotamento mental.
O fato de ter uma dieta específica, muito restrita e uma alta carga de treinos, impedia o atleta de ter um mínimo de convívio social e isso estava cobrando seu preço. Sim, o ser humano precisa do convívio social e o esporte de alto rendimento frequentemente cobra um preço alto para a saúde física e mental.
Entre esses dois extremos ficamos a maioria de nós, tentando sempre fazer o melhor para nossa saúde sem perder o outro grande benefício da alimentação, que é o prazer de comer e beber.
Muito se fala dos benefícios e do ganho em longevidade em adotar a chamada “dieta mediterrânea” que consiste em comer peixes e frutos do mar, azeite de oliva, nozes e sementes, frutas e legumes diversos. A verdade é que por motivos culturais e financeiros fica difícil ou impossível que uma grande parte da população mude seus hábitos alimentares.
Além disso, a refeição típica brasileira à base de feijão, arroz, bife (ou frango) e salada é bastante equilibrada, completa e saudável. Na nossa realidade o desafio é outro, que esse prato chegue diariamente a toda a população. Algo que preocupa é o aumento do consumo dos alimentos ultraprocessados.
Os ultraprocessados além de perder muitos de seus potenciais benefícios, tem uma série de aditivos químicos, conservantes e corantes prejudiciais para a saúde. Algo que não devemos esquecer é que a alimentação tem uma relação estreita com o gasto calórico e a atividade física para ter como resultado uma pessoa saudável.
Um sedentário, por mais saudável que seja sua alimentação, não terá um bom estado de saúde, ao subir uma pequena escadaria ficará ofegante. Essa é a explicação para a constatação que os europeus que costumam jantar de verdade pelas noites, consomem mais gorduras saturadas e carboidratos e bebidas alcoólicas que os norte-americanos, tem 3 vezes menos obesidade e 2 vezes menos doenças crônicas que estes. Os europeus fazem muito mais atividade física e passam mais tempo ao ar livre que os norte-americanos.
Não se iluda com os efeitos mágicos dos superalimentos que os marketeiros e os influencers anunciam a cada poucos meses. No reino dos mamíferos a única conduta que comprovadamente prolonga a vida é ter a ingesta calórica mínima: consumir o que gastamos.
Significa que no dia seguinte a aquele magnífico e abundante jantar somos obrigados a vestir as sandálias da humildade, neste caso um par de tênis, e sair correndo por aí.