Exposição de imagem e crimes cruéis
Há duas semanas, neste mesmo espaço jornalístico, escrevi o texto – O previsível e o imprevisível. Foi a respeito do massacre na Escola Brasil da cidade paulista de Suzano. Lá, abordei o fato, sob outro prisma, hoje, continuando a reflexão com outra vertente do trágico acontecimento, apresento outra abordagem, para mim, que pode ser feita. […]
Há duas semanas, neste mesmo espaço jornalístico, escrevi o texto – O previsível e o imprevisível. Foi a respeito do massacre na Escola Brasil da cidade paulista de Suzano. Lá, abordei o fato, sob outro prisma, hoje, continuando a reflexão com outra vertente do trágico acontecimento, apresento outra abordagem, para mim, que pode ser feita. Trata-se de considerar a possível influência em semelhantes deploráveis acontecimentos com a exposição de imagens das cenas.
Será que é possível considerar a relação? Será possível no caso de Suzano, levando em conta as cenas vividas pelas vítimas e pelo agressor ou agressores. Segundo minha formação e visão, repito que elas têm influência, sim! Ao menos, o que várias estatísticas já tiveram a oportunidade de apresentar e fazer suas análises (sobretudo, nos EUA). Elas têm chegado à conclusão que não são as únicas a influenciar, mas têm sua respeitável parcela de contribuição, no incentivo, planejamento e execução do cruel crime, com complemento do próprio suicídio.
Existem estudos que, embora não definitivos, mas que mostram que exposição, às vezes de maneira, quase mostrando o “heroísmo” do agente da tragédia, produz efeito de estímulo ou inspiração, além da coragem de executá-lo. Isso acontece por “efeito contágio” ou “contágio social”.
Fenômeno já estudado no século XIX, pelo sociólogo Émile Durkheim, com a obra “Suicídio” (publicada em 1897). Durkheim faz interessantes considerações psicológicas/sociológicas, mostrando tipos de suicídio, que estudiosos posteriores do assunto desenvolveram. Creio que o do Suzano se enquadra, no denominado suicídio altruísta. “Suicídio Altruísta: é aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável.
É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence.”
Pesquisando, mais do que se viu até agora, penso que se chega bastante próximo desse tipo relacionado ao sociólogo Durkheim. Sobretudo, se considerarmos que, a exposição do jeito que se fez, entre nós, certamente, é um estímulo, para quem tem essa tendência, não só na inspiração, intuição, planejamento e execução. Como parece, ocorreu com os facínoras de Suzano.
No suicídio altruísta, acresce-se que, na intuição do crime já está embutido o próprio suicídio. Esse tem que superar os modelos que lhe deram as “modalidades gerais”, por “acertos pessoais” que tornem seu crime, seu suicídio e número de vítimas mais “fantástico e diferente”, a fim de ser considerado como “mais espetacular” para sua imagem posterior.
Sem dúvida, julgo que, se não é possível afastar definitivamente, todavia, pode-se diminuir o número de desse tipo de crime e também o de vítimas.
A meu aviso, controlar a exposição, até nos seus detalhes chamativos e não permitindo a utilização de um espaço, em demasia, daria também seu efeito benéfico. Não seria censura ou privação de livre expressão de opinião.
Pois, fazendo analogia com o que já acontece na exibição de filmes, seriados e comentários, inclusive nas Artes, têm sua faixa etária delimitada para crianças, adolescentes e adultos. Por que, nesse caso tão dramático pode ser exposto, em qualquer lugar, com espaço na mídia sem limites de qualquer ordem?
Tal atitude, parece-me, nada construtiva em vista da convivência social, do bem estar comum e para a educação, não só das crianças e adolescentes, mas também para os adultos e, principalmente, para pais/família ou seus responsáveis e educadores.