X
X

Buscar

Falta de matéria-prima deve gerar aumento de preços no setor de vestuário de Brusque

Empresas de Brusque enfrentam escassez de insumos e alta do valor de importação

A cadeia têxtil têm enfrentado grande crise com escassez e, consequentemente, a alta no preço da matéria-prima. O algodão é o principal insumo em falta para as empresas, que também enfrentam um reajuste, que em alguns casos, chega a 40%.

A presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr) e também do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sindivest), Rita de Cássia Conti, explica que 75% da supersafra do algodão foi vendida para o exterior, devido à pandemia da Covid-19 e ao dólar alto.

“A retomada coincidiu com o produto nacional para o exterior e com a baixa escala de produção. Houve então uma super demanda que estava freada, e a nossa curva de vendas no comércio atingiu picos que não víamos há 20 anos”, explica.

Rita destaca que os grandes magazines não estavam abastecidos e, com o dólar alto, comprar do exterior ficou inviável. “Eles vieram para o mercado nacional e a nossa cadeia produtiva não está sincronizada com esse alto consumo”.

De acordo com ela, hoje há pouca oferta e muita demanda, o que tem complicado a cadeia têxtil. “Estamos com problemas não só no algodão, mas nos outros insumos: elásticos, fios, material para embalagem. Algumas empresas estão substituindo os fios de algodão por viscose, viscolycra, poliester e informando aos clientes sobre essa mudança”.

A presidente da Acibr avalia que o setor têxtil deve voltar ao normal somente no ano que vem. “É um percalço dentro da cadeia. Essa sincronia só vai melhorar no ano que vem. Acredito que aos poucos o mercado vai se acomodar. A partir de março, abril, teremos uma noção real”.

Ainda de acordo com ela, esse desajuste no mercado deve refletir diretamente no consumidor final, com o reajuste de preços. “Vai haver reajuste de preço. Não tem como segurar essa ponta. E essa é a preocupação. O consumidor vai começar a sentir a diferença nos preços a partir de agora”.

Produção parada

Rita observa que todos os setores que de alguma forma fazem parte da cadeia têxtil reagiram e que não estão dando conta da demanda, devido principalmente à falta dos insumos.

“Observei que muitas empresas que não têm recursos suficientes, resolveram encerrar as suas vendas porque estão lotadas. Precisam encerrar para equilibrar e poder entregar os pedidos porque senão não vão conseguir dar conta”.

Cenário inédito

O coordenador do Núcleo de Malharias da Acibr, Diego de Morais Godinho, explica que o setor está enfrentando grandes dificuldades, principalmente na questão do embarque da matéria-prima, que é importada.

“O frete marítimo subiu em cinco vezes o valor que vinha sendo negociado a uns 45 dias atrás. Tudo isso devido à forte retomada de compras a nível mundial”.

De acordo com ele, os portos não estão dando conta de escoar toda a carga, aumentando, assim, os custos. “Chegamos ao ponto de termos que pagar 200 dólares para reservar vaga no navio. É um abuso, visto que já se paga o frete”.

Godinho destaca que com a alta demanda pelos fios, os preços naturalmente também se elevam. “Há uns quatro meses os preços nunca estiveram tão baixos devido à falta de fluxo nos navios devido à pandemia, mas agora já retomou o preço original e alguns até já ultrapassaram”.

Além das dificuldades de importação, o setor enfrenta também problemas no mercado interno, decorrentes da alta significativa do consumo. “Os fios importados nas mãos das tradings subiram muito acima do normal, não justificando os preços, e sim, a situação de mercado em que quem tem, coloca praticamente o preço que quiser, pois com este desabastecimento, os fios estão em falta”.

O coordenador do núcleo afirma que no ano passado, o fio de algodão era negociado a R$ 16 a pluma. Porém, agora, as fiações estão cobrando acima de R$ 26 o quilo. “Claro que a alta do dólar está beneficiando também as exportações, ocasionando certo desabastecimento no nosso mercado”.

O empresário afirma que o setor está passando por um momento inédito e preocupante.

“O mercado está muito estranho. O consumo está muito alto, mas ouvimos reclamações de lojistas pequenos e médios, então corre o risco de ser um crescimento irreal e, consequentemente, ter um represamento a curto prazo. Se as vendas não acontecerem, o mercado poderá dar uma grande parada”.