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Faltam intérpretes de Libras formados em Brusque

Segundo a Associação de Surdos de Brusque, o município ainda não conta com profissional graduado

Desde 2002, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é considerada a segunda língua oficial do Brasil. De lá pra cá, aumentou o número de cursos especializados no país. Mesmo assim, Brusque ainda carece de intérpretes habilitados. Segundo a Associação de Surdos de Brusque (Asbru), o município terá, nos próximos anos, a primeira intérprete formada.

Rosana Canteri, que faz parte da diretoria da Asbru, está no segundo ano do curso de bacharel em Letras/Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O curso tem duração de quatro anos e é o único que capacita o profissional a atuar como intérprete em grandes eventos.

“Como eu tenho fluência em tradução e interpretação de Libras, eu posso fazer eventos, mas a certificação do profissional só vem com a proficiência ou com o curso de bacharel. Brusque é bem carente na questão de profissionais formados. E é uma cidade grande, que poderia ter um público de intérprete e não só na educação, mas também na saúde e na segurança”.

A graduanda conta que para ingressar na universidade é obrigatório ter fluência em Libras, inclusive porque todas as questões do vestibular – desde língua portuguesa até física – são na Língua Brasileira de Sinais. O curso é voltado, explica Rosana, à parte linguística e à atuação do profissional.

“Se não for fluente, o candidato não consegue passar na prova. Então eles precisam receber o aluno pronto para darem conta do objetivo do curso. E a maioria dos professores é surdo”, diz.

Depois de formada, Rosana pretende ingressar na área da saúde. Entretanto, ela diz que atualmente Brusque não oferece oportunidade para os intérpretes. Postos de saúde, clínicas médicas e outros estabelecimentos direcionados à área poderiam, segundo ela, dispor de um profissional para o atendimento aos surdos.

Em novembro, o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Brusque (COMDEF) defenderá projeto em conferência estadual sobre a implantação, no município, de uma sala com dois intérpretes. A ideia, explica Rosana, seria utilizar o atendimento à distância.

“Os intérpretes poderiam atuar em eventos, na saúde e na segurança. Na saúde por exemplo, o médico atenderia um surdo no consultório dele com a ajuda do intérprete através do Skype. O médico viraria a câmera para o surdo e o intérprete traduziria o atendimento”.

Cursos de curta duração

No município, o Centro Universitário de Brusque (Unifebe) oferece curso de Libras desde 2010 com o objetivo de ensinar a linguagem básica de sinais. A professora Raquel Pedroso é quem ministra as aulas. Segundo ela, embora Brusque tenha carência de pessoas que entendam a linguagem, o interesse da população cresceu ao longo dos anos.

“Se formos comparar em um espaço de cinco anos, há muito mais gente interessada no curso. Aos poucos está crescendo”. Ela ressalta que para a realização de eventos, o ideal é que o intérprete seja habilitado em curso de graduação: “O profissional graduado sabe sobre toda a ética profissional, que engloba desde a vestimenta até o tempo em que pode atuar”.

O campus de Brusque do Instituto Federal Catarinense (IFC) formou cerca de 200 alunos no curso básico de Libras em 2013 e 2014. O coordenador geral de ensino, Hélio Maciel, conta que no primeiro ano grande parte da turma era formada por professores e por familiares de pessoas com deficiência auditiva. No ano seguinte, além dos familiares, funcionários de Recursos Humanos também eram maioria na turma.

“Nesse ano não tivemos o curso devido ao corte de recursos do governo federal em relação ao Pronatec. Mas o curso era excelente. Hoje é essencial que os professores e os familiares de surdos saibam a Libras. Vemos que há muitos professores que não são habilitados para atender os alunos”, diz.

A falta de professores que saibam se comunicar através da Língua Brasileira de Sinais também é lamentada por Matheus Diegoli, técnico das modalidades esportivas da Asbru. O irmão dele, Thobias, de 22 anos, é surdo e passou praticamente todo o período escolar sem um intérprete em sala de aula.

“Ele estudava no Feliciano Pires e recebeu um intérprete apenas na segunda série do ensino médio. Quando esse profissional ajudou o Thobias em sala de aula, ele melhorou demais, não tem nem comparação. O intérprete consegue transmitir com exatidão o que o professor ensina”.

Segunda língua

Sancionada em abril de 2002 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, a lei 10.436 reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão.