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Família e Democracia

O jornal O Estado de São Paulo, no 12/05/2017, divulgou a entrevista do educador e filósofo Mário Sérgio Cortella. O motivo foi o lançamento do seu novo livro _ Família -Urgências e Turbulências – Cortez Editora. Segundo o que diz a entrevista, o educador “aponta a falta de convívio familiar e a dificuldade de exercer […]

O jornal O Estado de São Paulo, no 12/05/2017, divulgou a entrevista do educador e filósofo Mário Sérgio Cortella. O motivo foi o lançamento do seu novo livro _ Família -Urgências e Turbulências – Cortez Editora. Segundo o que diz a entrevista, o educador “aponta a falta de convívio familiar e a dificuldade de exercer a autoridade sobre os filhos como as principais falhas nas relações familiares atuais”.

Conforme a fala do educador, os pais assumem várias ocupações, não sobrando tempo para um diálogo como os filhos. E para um diálogo frutuoso assegura que é necessário tempo disponível para levá-lo adiante e concluí-lo, de modo a não sofrer alguma ruptura. E não pouco! Todavia, acentua que não é a única causa das turbulências na família. Pelo contrário, parece-me que, para o educador, a causa mais significativa seria a atitude dos pais dessa “geração que inverteu a relação”. Em outras palavras, os pais se demitiram do exercício de sua autoridade, relacionada a sua missão e sua responsabilidade pelo cuidado de sua prole. “Há um grande número de pais e mães que enfraqueceram a sua autoridade”.

Pessoalmente, estou plenamente de acordo quando fala e escreve que os pais inverteram a relação com os filhos. Minhas observações pessoais coincidem com essa opinião. Os pais têm medo de exercer sua autoridade. Provavelmente, é o resultado de uma teoria psicológica que propalou que não se pode contrariar os filhos; que não se pode “dizer não”; dar limites para suas vontades… Perderam o sentido da responsabilidade do cuidado. Com efeito, enquanto os filhos estão sob a guarda dos pais, legal e familiarmente, são responsáveis por eles. Estão sob sua orientação, estão subordinados a eles.

Mas, o que se observa, com frequência, que se demitiram dessa responsabilidade e fazem quase todas as vontades dos filhos. Toraram-se “reféns” dos filhos, “reféns” dos desejos imediatos dos filhos. Querem “satisfazer” esses desejos imediatos, fazendo seus filhos “felizes”, no momento, naquele instante. Não pensam nem veem mais adiante, no futuro, que os filhos não vão ter sempre, na vida, alguém que lhe dê “satisfação imediata de seus desejos”, que os façam “felizes” instantaneamente. Não saberão se conduzir, se autoconduzir, pois, não aprenderam a administrar seus desejos, suas vontades. Não têm outra via do que a “satisfação imediata dos desejos para serem felizes”. Não experimentaram, na prática, que a vida muitas vezes exige renúncia e sacrifício, grande empenho e esforço para conquistar autênticos momentos de felicidade. E esta não está, apenas, no ter ou no adquirir “coisas”, sobretudo, “novidades”, possivelmente de “marca” ou da “moda” para desfrutar da felicidade.

Creio que a missão de ser pai e de ser mãe sempre foi uma missão árdua e difícil de ser desempenhada. Hoje, talvez com o advento de tanta “concorrência, muitas vezes desleal” que os pais enfrentam, se tornou mais custosa e exige mais preparo, criatividade e inventividade. Não basta apenas se informar, mas se formar para o exercício dessa missão de educador (a) de seus próprios filhos. Não dá mais para improvisar pais e mães. Também, não é solução, que alguns pais adotaram de “terceirizar a educação dos filhos”, delegando essa missão a outros. E também é oportuno recordar que filho (a), quando é chamado à vida, mesmo por escolha e com planejamento, não vem acompanhado de “um manual de instrução” de como encaminhá-lo na vida. Educar é uma arte que se aprende, educando.