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Comunidade Bethânia, fundada por padre Léo, mantém história de acolhimento em São João Batista

No aniversário de 65 anos da cidade, conheça história do local, que atrai fiéis de todo o país

Comunidade Bethânia, fundada por padre Léo, mantém história de acolhimento em São João Batista

No aniversário de 65 anos da cidade, conheça história do local, que atrai fiéis de todo o país

Na Bíblia, Bethânia era um lugarejo que ficava ao norte de Jerusalém. Em Bethânia, ficavam os leprosos, os marginalizados. Mesmo com diversos outros locais com mais pompa, Jesus sempre escolhia ficar lá junto aos excluídos pela sociedade e diversas situações relatadas no livro sagrado lá aconteceram.

Por este motivo, padre Léo escolheu nomear a sua obra Comunidade Bethânia, para que este lugar fosse a casa dos amigos de Jesus.

Atualmente, a Comunidade Bethânia tem oito recantos nas cidades de Lorena (SP), Cianorte (PR), Curitiba (PR), Guarapuava (PR), Irati (PR), Itaperuna (RJ), Uberlândia (MG) e em São João Batista, o mais antigo deles, que foi fundado em 12 de outubro de 1995.

Para Bethânia, o significado de acolher é hospedar, agasalhar, abrigar, amparar, dar atenção e refúgio, receber bem, atender prontamente e dar créditos a alguém, admitir e tomar em consideração. Em São João Batista, uma equipe formada por consagrados, religiosos e equipe técnica acolhe dependentes químicos, com o objetivo de descoberta de um novo estilo de vida.

“Nossa grande preocupação não é tirar a droga, isso é consequência. Não curamos ninguém, queremos que a partir desta experiência de ser acolhido e amado tenha forças para descobrir outro estilo de vida”, explica o padre Vicente de Paula Neto. No dia em que São João Batista completa 65 anos, conheça a história e os projetos da comunidade que é um dos símbolos da cidade.

Processo por etapas

A Comunidade Bethânia recomenda que os futuros acolhidos passem pelo pré-acolhimento, para entender como são os valores e o modo de vida lá.

As pessoas que entram no acolhimento são chamadas de filhos. Eles têm alguém da comunidade para acompanhá-las em seu processo, que dura cerca de 11 meses, com etapas que levam cerca de três meses cada.

Em Bethânia, é estabelecida uma rotina organizada para os filhos, dentro da fé católica, sustentada por cinco pilares: alimentação saudável, sono restaurador, exercício físico, relacionamentos sarados e espiritualidade. “Como dizia padre Léo: ‘Nada fora de lugar, nunca’”. O estabelecimento de um dia a dia organizado é visto como essencial para que os acolhidos tenham um novo estilo de vida.

Tudo é gratuito e a comunidade é aberta, sem portões. Quem fica lá, é por livre e espontânea vontade.

Alimentação saudável, sono restaurador, exercício físico, relacionamentos sarados e espiritualidade são os pilares do acolhimento em Bethânia | Foto: Comunidade Bethânia/Divulgação

De acordo com o padre, cerca de 75% das pessoas que buscam Bethânia retomaram seu caminho, alguns ainda que viraram consagrados. Ele reforça, porém, que a comunidade não tem a intenção de buscar números, estatísticas. Cada pessoa tem sua história, seu rosto, uma identidade única.

“Temos uma filosofia que, no primeiro momento, choca as pessoas. O padre Léo respondia que a eficácia é 100%. Não estamos preocupados com quantidade, hoje só registramos porque somos obrigados por lei. Não estamos preocupados nem com o tempo. Se a pessoa passar um dia e ela for amada e levar para sua vida, teremos cumprido a nossa missão. Por isso, vivemos da providência. Quem um dia foi amado sempre volta a quem amou”, destaca Vicente.

Padre Léo em um momento de confissão em Bethânia | Foto: Instituto Padre Léo/Arquivo Comunidade Bethânia

Vivendo na providência

Bethânia propõe ser a casa dos filhos e faz um esforço para reintegrar os acolhidos à vida e à família, já que muitos vivem uma experiência de desagregação muito forte. Ao lado da equipe religiosa, também existe uma equipe técnica trabalhando no acolhimento. A comunidade ainda é uma das únicas que trabalha de forma mista, com homens, mulheres e famílias interagindo e vivendo no mesmo local.

A comunidade vive a experiência da gratuidade, para que os moradores possam perceber quanto Deus é generoso, explica o padre Vicente. “Conseguimos viver bem na simplicidade. É uma forma de reeducar em relação ao materialismo da sociedade”.

Permanência em Bethânia depende da vontade dos filhos | Foto: Comunidade Bethânia/Divulgação

Com doações dos amigos de Bethânia, que fazem eventos, redes de parcerias com poder público e sociedade civil, empresários e os nossos trabalhos nas missas, retiros, eventos, kairós e o turismo religioso, a comunidade se mantém e provém para os filhos e consagrados.

A missão

Em Bethânia, os filhos convivem diariamente com os consagrados, alguns abdicando totalmente de sua vida anterior para viver em função da missão e da obediência à igreja. Uma delas é a mineira Cláudia Betti, 61 anos, que passou a se interessar pela história do padre Léo em 2005, quando participou de um acampamento na Canção Nova, em São Paulo.

Desde que participou deste acampamento, Cláudia quis conhecer o padre Léo, mas ele faleceu antes que ela tivesse a oportunidade. Anos depois, em 2009, ela foi convidada para conhecer Bethânia e, desde então, se encantou.

“Voltei para casa decidida a retornar para Bethânia. Eu era psicóloga, tinha consultório, mas deixei meu emprego e vim fazer um tempo de experiência em 2010. Primeiro fui ao recanto de Guarapuava e, em 2011, comecei um processo formativo e continuo até hoje. Me sinto realizada e gosto muito desse estilo de vida”, conta.

Cláudia Betti era psicóloga antes de se consagrar e trabalhar em Bethânia | Foto: Arquivo pessoal

Na comunidade, vivem consagrados solteiros, celibatários e também casais. Para aqueles que querem seguir o caminho do matrimônio e família também é possível.

Os consagrados de vida moram em Bethânia. São leigos, mas vivem sua missão e abriram mão da vida para o trabalho missionário em prol de Bethânia. É uma entrega completa. Enquanto missionários, a partir do momento que dão o sim, o recanto torna casa deles, que não têm vínculo empregatício e vivem da providência. A comunidade que vai prover aquilo que for necessário.

Eles fazem votos como os padres e freiras, que são renovados anualmente. Assim como os filhos, porém, são livres. Não ficam por obrigação.

“Eu me consagrei a Deus e não penso em sair daqui. Retorno à minha cidade uma vez por ano nas minhas férias, mas vivo aqui dentro”, conta Cláudia.

Ela atualmente é a responsável pelo processo de restauração, por tudo que está relacionado à vida dos filhos e também ao contato com a família, junto com as colaboradoras do pré-acolhimento, uma psicóloga e uma educadora.

“Meu dia tem momentos de formação, acompanhamento aos filhos para saber das dificuldades e problemas. Eventos e visitas também passam por mim”, explica.

Consagrados de Bethânia entregam sua vida pela missão | Foto: Arquivo pessoal

O papel dos consagrados na comunidade é quase como o de pais e mães. Para Cláudia, a mudança física e espiritual que os filhos passam dentro de Bethânia é uma realização de preço incalculável.

“Trabalhamos com vidas e geralmente as pessoas quando chegam aqui estão bem debilitadas, sem esperança, afastados das famílias, sem perspectivas de vida. No decorrer desse acompanhamento aqui, depois que as pessoas vivem com a gente como uma grande família, eles são acolhidos. Damos amor, atenção, educação. Ajudamos a pessoa a se reencontrar, melhorar a autoestima e até mesmo recuperar os vínculos com a família”.

Turismo religioso

A história do padre Léo, conhecida nacionalmente, atrai cada vez mais visitantes para a Casa Mãe da Comunidade Bethânia, em São João Batista.

Para atender cada vez melhor os fiéis e também desenvolver o turismo religioso na região, a Comunidade Bethânia desenvolve diversas iniciativas e tem um planejamento de ter novas estruturas e eventos no futuro próximo.

Os oito recantos de Bethânia recebem visitas de caravanas de muitos lugares do país. Tiago Borges dos Santos, turismólogo da Comunidade Bethânia, conta que, no caso de São João Batista, muitas pessoas fazem uma espécie de rota, passando também por Santa Paulina, em Nova Trento, mas outros tantos buscam especificamente ir até o recanto para conhecer a história de padre Léo.

Planejamento

O turismólogo trabalha há um ano na Comunidade Bethânia, que vem desenvolvendo várias iniciativas para atender melhor os visitantes e, ao mesmo tempo, aumentar o fluxo de turistas na região.

Tiago avalia que o recanto de São João Batista recebe “um bom número de visitantes”, mas destaca também que há potencial para que o volume aumente exponencialmente.

Visitantes de todos os cantos do país visitam o recanto de São João Batista | Foto: Comunidade Bethânia/Divulgação

Dentre as ações desenvolvidas pela Comunidade Bethânia recentemente estão a instalação de placas de sinalização nas rodovias e parcerias com o poder público. Tiago faz parte do Conselho Municipal de Turismo, assim como o gestor do recanto, com o objetivo de estreitar laços para fomentar o turismo religioso.

Além disso, a Comunidade Bethânia vem realizando eventos que devem ser fixados em um calendário anual. Neste ano, o Luau da Misericórdia, em março, atraiu mais de 1,5 mil pessoas.

Luau da Misericórdia atraiu mais de 1,5 mil pessoas | Foto: Comunidade Bethânia/Divulgação

Em novembro, será realizado também o Sarados Fest, que tem o nome baseado no livro Jovens Sarados, escrito pelo padre Léo. A expectativa do evento, um novo festival voltado para a juventude, é de que 2,5 mil pessoas participem.

Estruturas turísticas

Em São João Batista, a Comunidade Bethânia conta com um memorial do padre Léo, onde estão seus restos mortais e objetos que a ele pertenceram. Também há uma loja para a aquisição de suvenires, um espaço para visitação de grupos, casa de retiros, que são promovidos a cada dois meses, uma praça, gruta e outras estruturas ao ar livre. Além disso, grupos podem entrar em contato com antecedência para que sejam providenciados cafés da manhã e almoços.

Além disso, existe também um memorial no recanto de Lorena, em São Paulo, cidade que fica dentro da Rota da Fé em São Paulo, que compreende também a comunidade Canção Nova, Frei Galvão e Nossa Senhora Aparecida. “Em São Paulo a movimentação é maior, porque é um reduto de turismo religioso e há até um interesse maior no padre Léo”.

Memorial do padre Léo em São João Batista é uma das atrações turísticas da comunidade | Foto: Comunidade Bethânia/Divulgação

Futuro do turismo religioso

Atualmente, existe o “Caminho dos Passos do Padre Léo”, que vai entre os recantos de Minas Gerais e São Paulo. No futuro, a intenção é trazer esse caminho até São João Batista. Seria um circuito de peregrinação que sairia de Delfim Moreira, passando por Curitiba e um dos maiores do Brasil em distância.

Ele entende que o potencial do turismo religioso da região é muito grande e acrescenta que a beatificação do padre Léo, que está em processo e ainda não tem uma data específica para se concretizar, vai alavancar ainda mais a procura.

“Acredito que São João Batista tem um potencial ainda maior que Santa Paulina, porque o padre Léo é um personagem muito conhecido nacionalmente”.

Nos primeiros meses do ano, o recanto de São João Batista já recebeu visitantes de 19 estados do país. Um trabalho de divulgação é realizado diariamente nas redes sociais e a Comunidade Bethânia também se faz presente em eventos de trades turísticos para levar o nome do padre Léo cada vez mais longe. Para o futuro, há a expectativa de construção de um restaurante, uma pousada e um santuário.

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