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Fediverso: futuro das redes sociais ou fracasso? Conheça a tecnologia

Os primeiros anos da internet eram reflexo de sua origem acadêmica: a rede estava limitada ao envio de emails, mensagens entre universidades, bancos de dados de alunos e contatos, listas telefônicas, e páginas de enciclopédias e outras plataformas de referência e aprendizado. Rapidamente, no entanto, a chegada de computadores mais potentes, infraestrutura mais desenvolvida e mais usuários gerou a revolução da web 2.0 que originou o mundo atual de redes sociais, aplicativos de mídia, e grandes empresas de tecnologia que fornecem serviços na rede.

Há muitas discussões sobre o futuro do universo digital, os impactos, limitações e possibilidades das redes sociais estão sendo cada vez mais entendidos e algumas tendências preocupam especialistas em privacidade e usuários. Agora, o surgimento de uma nova tecnologia promete transformar novamente o panorama da internet e iniciar a próxima etapa da interação com redes sociais – mas será que vale a pena investir no Fediverso, ou a recém-chegada ideia já está fadada ao fracasso? Confira.

Centralização contra federalização

A grande novidade do Fediverso comparado às redes sociais tradicionais é seu modelo descentralizado baseado em federalização do conteúdo. De forma simplificada, redes sociais tradicionais são baseadas em um servidor central, administrado por seus criadores, que possui todo o conteúdo e controle sobre os usuários, publicações, regras e grupos criados em sua plataforma. No modelo de federalização, qualquer um pode criar seu próprio servidor ou ingressar em servidores criados por terceiros – usando um protocolo especial, o conteúdo e as contas são capazes de se comunicar livremente e gerar uma experiência completa. Isso significa que um usuário é capaz de interagir com outro mesmo que suas contas pertençam a servidores diferentes, mas há a garantia de que não há como um administrador acabar com toda a plataforma ou controlar as informações compartilhadas.

Apesar de suas vantagens claras para a privacidade, controle dos usuários e flexibilidade, os modelos de federalização também contam com sua parcela de desvantagens que podem dificultar sua adoção: por precisar repetir parte de seus sistemas em diversos servidores, o custo energético é maior – algo cada vez mais relevante, como aponta ExpressVPN. Além disso, apesar de todos os servidores serem capazes de se comunicar, a experiência pode ficar confusa para usuários que ainda não estão acostumados com a separação e diferença entre comunidades distintas. Por fim, ferramentas de filtragem e bloqueio estão disponíveis, mas é mais difícil evitar conteúdo ilegal ou perigoso em plataformas descentralizadas, o que as torna mais preocupantes para as autoridades.

Mastodon, Lemmy e Matrix

O ano de 2023 está marcado na história da internet pelo aparecimento e popularização das primeiras redes sociais baseadas no Fediverso. Embora diversas tentativas anteriores tenham sido publicadas, controvérsias e problemas envolvendo as grandes big techs motivaram a criação e migração de usuários para plataformas alternativas.

Mastodon

Atualmente o maior e principal exemplo de uma rede social bem-sucedida no Fediverso, o Mastodon é baseado no modelo do Twitter e funciona de forma similar: usuários criam contas para publicar pequenas postagens com limite de caracteres, e podem seguir personalidades que julgarem interessantes. Com mais de nove milhões de usuários registrados e cerca de um milhão ativos, o Mastodon recebeu boa parte de seu volume após as controvérsias geradas pela compra do Twitter pela personalidade norte-americana Elon Musk. Após sua aquisição, a plataforma rapidamente alterou sua política de monetização, bloqueou aplicativos de terceiros, alterou a política de privacidade e remoção de conteúdo, entre outras medidas que revoltaram os usuários da rede social. Atualmente, é possível encontrar jornalistas, músicos, personalidades da internet e outras figuras com contas no Mastodon, embora a rede ainda não possa oferecer a mesma diversidade e volume de usuários que o Twitter.

Lemmy

Com salto de popularidade durante as últimas 72 horas e com mais de cem mil usuários ativos, o Lemmy busca recriar a experiência do Reddit: uma rede social que promete agregar o melhor de toda a internet, se dividindo em vários grupos e comunidades para cada tópico. É possível encontrar grupos de notícias, países, hobbies, dramas, discussões sobre filmes, seriados, e praticamente qualquer outro conteúdo. Apesar de seu grande sucesso, o Reddit está sofrendo com dificuldades em garantir sua monetização, e gerou a discórdia de alguns usuários após tentativas de implementar sistemas de NFTs e assinaturas mensais. Em Junho de 2023, um anúncio da plataforma revelou que mudanças no sistema de API farão com que aplicativos de terceiros e ferramentas de moderação deixem de funcionar corretamente, gerando protestos em toda a rede social. Diversos moderadores insatisfeitos e usuários recriaram suas comunidades no Lemmy.

Matrix

Embora não haja uma grande controvérsia em relação ao Discord, rede social dedicada a bate-papos por voz e texto e grupos de discussão, há uma quantidade considerável de usuários preocupados com a política de privacidade da rede social – por isso, a rede Matrix foi desenvolvida para oferecer a mesma funcionalidade de forma mais transparente e privada. Por sua própria natureza, é impossível medir o número de usuários total na Matrix, mas um volume crescente de programadores, entusiastas e gamers fazem uso da plataforma.

O modelo de rede social federalizado traz grandes vantagens e desvantagens, e pede que usuários se acostumem com um novo paradigma de uso da internet em troca de maior liberdade, controle e privacidade. Somente com o passar do tempo ficará claro se o Fediverso veio para dominar a internet ou se a tentativa será fracassada.