Dois meses após acidente, Fernanda Calegari conta com o apoio de uma legião de amigos
Jovem voltou a falar, ainda que poucas palavras, e segue avançando na recuperação
Jovem voltou a falar, ainda que poucas palavras, e segue avançando na recuperação
Aos 18 anos, Fernanda Spanhol Calegari sofreu um gravíssimo acidente de carro, ocorrido em 23 de dezembro de 2017. Naquele sábado, ela havia trabalhado das 6h às 14h na lanchonete e padaria D’Napole, no bairro Santa Terezinha, em seu novo horário.
Mais tarde, a jovem havia saído para tomar banho de piscina com alguns amigos e conhecidos no bairro São Luiz. “Pediram para a Fernanda ir ao supermercado buscar algumas coisas. Ela foi com um rapaz chamado Cícero, que foi abastecer o carro para ela”, explica a mãe de Fernanda, Ivone Spanhol Bittencourt, de 37 anos.
Ao passar pela rua Blumenau em direção à rótula do Steffen, Fernanda perde o controle do Ford Focus e bate em uma árvore. O impacto fez com que ela ficasse presa às ferragens. Cícero, que a acompanhava, fugiu do local, levando latas de cerveja, apenas com um ferimento leve no rosto.
“Ele diz que levou as caixas de cerveja para não comprometer a Fernanda, mas as caixas estavam fechadas, até as latas que estavam no carro. Para mim, foi omissão de socorro”, lamenta Ivone.
Na época, não foi possível saber se Fernanda estava alcoolizada. Fazia dois meses que ela estava com a Permissão para Dirigir, também conhecida como carteira provisória.
Recuperação
Hoje, Fernanda passa por lenta recuperação em casa, no Residencial Sesquicentenário, no bairro Limeira. Passados pouco mais de dois meses desde o acidente, ela ainda não tem capacidade total de falar, se recupera das diversas fraturas que sofreu e se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas controlada por familiares e amigos. O tratamento também inclui muitos medicamentos.
Entre a mobília da sala de estar do pequeno apartamento está uma cama de hospital doada, onde Fernanda passa boa parte do tempo. A família também tenta comprar uma poltrona ortopédica, que custa aproximadamente R$ 8 mil, para acelerar o tratamento. É um valor maior do que o total gasto até agora pela recuperação de Fernanda: R$ 6 mil.
Ela está começando a passar por sessões regulares de fisioterapia e fonoaudiologia, e tem acompanhamento de um médico e uma enfermeira da Secretaria de Saúde. Ivone ainda busca um neurologista que possa acompanhar a recuperação da filha. Há chances pequenas de Fernanda retornar 100% à normalidade após o acidente.
“Talvez ela não fique 100%. Talvez haja alguma sequela. Os médicos deram um prazo de seis meses. Mas já agora, em 22 de fevereiro, ela começou a falar o primeiro ‘oi’. Ela já volta a mexer as mãos, que estavam atrofiando, e tudo isto em dois meses”, destaca Ivone, com otimismo.
Tímida, Fernanda entende todas as conversas à sua volta, e tenta interagir com as pessoas. Como ela está reaprendendo a falar, acaba repetindo diversas expressões e palavras. A principal é “vixe maria”, um bordão de Valéria Rodrigues Machado, uma amiga muito próxima. “É uma condição chamada ecolalia, ela está em uma fase de repetir as palavras e expressões que escuta. Aos poucos, ela vai evoluindo, há um longo caminho pela frente”, explica a fonoaudióloga Aline de Souza e Silva.
“Nos conhecemos quando ela me atendeu em um pedido na lanchonete. E depois, descobrimos que morávamos no mesmo condomínio. Aí nos reconhecemos, trocamos contato e nos tornamos amigas”, explica Valéria.
Além de Ivone, Fernanda mora com o padrasto, Paulo Bittencourt, de 50 anos, e com o irmão, Felipe Spanhol, de 16 anos.
Sonhos, bondade e popularidade
Fernanda, que adorava jogar futebol e andar de bicicleta antes do acidente, precisa focar em sua recuperação para que possa voltar a perseguir os sonhos que tinha desde antes do acidente: cursar Educação Física e Nutrição, ou iniciar uma carreira na Polícia Militar. “São as duas coisas que ela mais quer”, revela Ivone.
“Ela sempre trabalhou com público, sempre foi muito boa com pessoas, e trabalhava há mais de um ano na lanchonete. Sempre fez muitos amigos assim. Todo mundo conhece ela.” Logo após o acidente, Ivone contou cerca de 18 pessoas no Hospital Azambuja querendo saber notícias sobre o estado de saúde de Fernanda. “Todo dia ela tinha uma visita diferente. As pessoas se ofereciam para cuidar dela, sempre revezávamos.”
Boa parte desta popularidade vem da vontade de ajudar as pessoas. “Ela não fala dos problemas dela, mas se alguém fala qualquer coisa, ela faz de tudo pra ajudar”, explica Ivone. A mãe lembra de que Fernanda saía com amigas para a praia para vender sanduíches naturais e ajudar uma amiga a pagar o aluguel atrasado.
“Ela sempre dava uma de mãe. Quando eu levava ela pra jogar bola, ela se preocupava em arrumar um lugar pra eu sentar, perguntava se eu tava com sede, fome, calor, e eu só querendo que ela fosse brincar. Acho que agora é a hora de eu retribuir”, conta Ivone. Neste momento da entrevista, Fernanda, que estava escutando atentamente a tudo, se emociona.
A 43 dias de completar 19 anos, Fernanda recebe o carinho e o apoio de familiares e de muitos amigos que ela sempre ajudou. Com o pior momento já no passado, resta uma recuperação lenta e trabalhosa. Uma nova palavra em um dia, um novo movimento em outro, até que possa voltar a ajudar a todos, como sempre fez.