Venda de bebidas alcoólicas em festas de igreja divide opiniões em Brusque
Pastoral da Família da paróquia São Luis Gonzaga proibirá consumo na Festa do Tortei, a exemplo da comunidade de Thomaz Coelho
Pela primeira vez, a Pastoral da Família da paróquia São Luis Gonzaga, no Centro de Brusque, realizará a Festa do Tortei sem a venda de bebidas alcoólicas. A 13ª edição do evento acontece no dia 1º de setembro e vem de encontro com uma nova postura adotada pela pastoral, onde o que mais importa é reforçar os valores da família cristã.
Os coordenadores da pastoral, o casal Dorival Oliveira e Jacinta Voltolini, a Tita, contam que tomaram essa iniciativa por acreditarem que a entidade tem a obrigação de dar o exemplo. Oliveira diz que a festa tem como objetivo divulgar os bons costumes, e coibir o consumo do álcool é o primeiro passo.
Até hoje nunca houve incidentes gerados devido ao consumo da bebida, porém, o coordenador observa que é melhor evitar situações desagradáveis do que remediar. Para ele, mesmo que tenha uma queda na arrecadação da festa, é o “exemplo que arrasta”. “Será a nossa primeira experiência, mas estamos convictos e felizes em poder transmitir para as famílias da comunidade esse exemplo. É uma pequena atitude que pode trazer profundas mudanças. Quem ganha é toda a sociedade”, diz Oliveira.
Mudança transformadora
Uma observação feita há oito anos foi transformadora para a comunidade da Capela Nossa Senhora do Carmo, no Thomaz Coelho, pertencente à paróquia Santa Catarina. Por constatar que permitir álcool em festas não ia de encontro com as pregações na igreja, na catequese e nos mais diversos grupos de pastorais, líderes comunitários se engajaram e propuseram uma grande mudança.
Norberto Cazagranda, coordenador da capela na época e atual responsável pelo Conselho Pastoral Paroquial, diz que o consumo de álcool nas festas causava sérios problemas, desde brigas familiares até prostituição no pátio da igreja. Ao invés das famílias e amigos se encontrarem para conversar, acabavam se distanciando.
A partir destes problemas, a diretoria começou a trabalhar com o intuito de buscar independência financeira, para que não dependessem mais de festas para arrecadação. Foi realizado uma conscientização sobre a importância do dízimo, que é o principal mantenedor da capela, além de um diálogo com o pároco da paróquia Santa Catarina daquele ano, que os incentivou a manter a decisão de não vender mais bebidas nas festas.
Desde então, o que ocorre são confraternizações, onde não há mais consumo de álcool, além de retirarem também as bandas, que eram responsáveis por boa parte do custo das festas.
Cazagranda acredita que a capela foi pioneira em Brusque nesta mudança. “Hoje realizamos confraternizações e as pessoas que participam saem engrandecidas, pois veem que o que é pregado na igreja é vivido fora dela. Hoje as pessoas conversam e se integram mais”, destaca.
Bom senso
A Arquidiocese de Florianópolis não tem nenhuma determinação contrária ao consumo de álcool em festas de igreja. A entidade diz que a decisão de proibir ou não cabe a cada paróquia de Santa Catarina.
No entanto, considera que cada fiel deve ser responsável e consciente de suas atitudes. A única recomendação é que as pessoas tenham sobriedade, autocontrole e bom senso.
O que pensam as paróquias?
Padre Magnos José Baron Caneppele
Pároco da paróquia São Luis Gonzaga (Centro)
O padre diz que no Brasil algumas dioceses proíbem a venda de álcool em festas de igreja, porém, a Arquidiocese de Florianópolis não proíbe, assim como a paróquia São Luis Gonzaga. Ele avalia que o consumo de álcool faz parte da cultura social e que nem todos vão para uma festa e saem bêbados. O padre diz ainda que as festas religiosas têm motivação familiar, de confraternização com os amigos, e que as pessoas devem fazer o seu uso com moderação.
Padre Francisco de Assis Wloch
Reitor do Seminário de Azambuja
No Santuário de Azambuja não há nenhuma restrição, porém, da mesma forma, o consumo de bebidas alcoólicas não são incentivadas. O padre afirma que é responsabilidade de cada fiel a maneira como faz o uso, e que assim como outras coisas – desde alimentos até o celular -, é preciso saber dosar e não exagerar. Segundo ele, tudo o que foge do controle não é saudável.
Padre José Henrique Gazaniga
Pároco da paróquia Santa Teresinha
Não há nenhuma regulamentação na paróquia para o consumo de bebidas alcoólicas, exceto para festas juninas e julinas das turmas de catequese. O pároco analisa que assim como em outros eventos sociais em que há consumo de álcool – casamentos, churrascos, aniversários -, pode haver nas festas das igrejas, desde que as pessoas saibam fazer o uso correto. Na paróquia até hoje não foram registrados casos de pessoas que se excederam. Ele diz que o alcoolismo é uma doença e que dependentes precisam ser tratados.
Padre Timóteo José Steinbach
Pároco da paróquia Santa Catarina (Dom Joaquim)
Não há uma determinação da paróquia quanto a isso. Cada comunidade tem a liberdade para decidir como proceder. O padre não tem um parecer mais amplo sobre o assunto.
Padre Carlos Chiquim
Pároco da paróquia São Judas Tadeu (Águas Claras)
O padre foi procurado diversas vezes pela reportagem, mas não foi localizado.