Figura folclórica de Guabiruba, Mão de Onça ficou marcado na memória da cidade pelo bom humor

Com cerca 1,90 metro de altura, o jovem Genésio Gums, descendente de alemão nascido no Aymoré, sempre cativou pela sua simplicidade

Figura folclórica de Guabiruba, Mão de Onça ficou marcado na memória da cidade pelo bom humor

Com cerca 1,90 metro de altura, o jovem Genésio Gums, descendente de alemão nascido no Aymoré, sempre cativou pela sua simplicidade

Com cerca 1,90 metro de altura, o jovem Genésio Gums, descendente de alemão nascido no Aymoré, sempre cativou pela sua simplicidade e bondade. Apaixonado por futebol, seus times do coração eram o Paysandú e o Fluminense. E foi esse amor pelo futebol e suas grandes mãos que lhe renderam fama e também o carinhoso apelido: Mão de Onça.

Mão foi goleiro do time amador do Aymoré na década de 60, período em que conquistou alguns títulos e muitas amizades. Suas piadas são lembradas até hoje tanto por quem conviveu com ele, quanto por quem nem o conhece pessoalmente.

Algumas histórias e anedotas são verídicas, pois foram testemunhadas por amigos e familiares e outras têm origem incerta, mas foram sendo atribuídas ao Mão com passar dos anos e ajudaram a torná-lo uma das figuras folclóricas mais engraçadas de Guabiruba. “O Mão era uma pessoa genial. Nem tudo que ele dizia era piada, mas como tinha um jeito simples, acabavam tornando-se engraçadas, então não precisava ser piada para rir”, conta o amigo e radialista Saulo Tavares. E o sotaque carregado, de descendente de alemães, ajudava a compor o personagem.

Tavares conheceu Mão em 1962 e foi um desses que teve o privilegio de acompanhar por muitos anos e viver histórias divertidas ao lado de Gums. Mas, antes de contar algumas dessas passagens, vale lembrar que Mão, como é chamado até hoje, não foi apenas goleiro do Aymoré. Em Guabiruba ele foi vereador, entre 1989 e 1993, motorista de ambulância, taxista, delegado e vendedor de carros – negócio que continua sendo tocado até hoje por dois filhos.

 “O campo é meu!”

Mão de Onça se tornou figura folclórica e faz parte da cultura da cidade. Alunos de escolas do município já fizeram apresentações de teatro usando algumas das histórias atribuídas ao Mão. Nos bares e nas festas, sempre tem alguém que conta uma anedota, e é impossível não rir.

Mário de Debatin, hoje com 75 anos, lembra, aos risos, de algumas histórias. Sentado em volta da mesa, ele revira caixas de fotos para encontrar alguma em que Mão estivesse, mas infelizmente não encontrou. Mesmo assim, o colega de escola e de campo busca no fundo de sua memória lembrar algumas passagens e ri sozinho. “Foram tantas coisas, ele era muito engraçado e gente fina. Não tinha como não rir dele. Mão sempre gostou do futebol e lembro que quando estudamos juntos e o professor aparecia com a bola debaixo do braço, ele já dizia: bolinha de couro, lederball, lederball”, conta.

Debatin lembra de um jogo no Morro do Baú, em Gaspar: “Saímos cedo e no meio do caminho o ônibus que o tio do Mão tinha comprado estragou, mas conseguimos chegar. Lá, quando o jogo estava para começar, Mão saiu correndo e pediu para o juiz parar o jogo. Juiz olhou e ele disse: preciso ir no banheiro e lá saiu o Mão correndo para roça de cana. Minutos depois voltou pro campo” (risos).

Ao que parece, Mão estava sempre passando por alguma situação engraçada. Uma dessas foi presenciada pelo amigo Tavares, no campo do Palmeiras, em Blumenau, em um jogo do futebol amador. Segundo o radialista, além de Mão, os demais membros da família Gums também eram bons jogadores. Nesse jogo, seu sobrinho Gilmar Gums, conhecido como Mala, estava em campo.

Na arquibancada poucas pessoas, e Mão, de pé, estava lá incentivando o sobrinho.”Esse é meu sobrinho, o graque do time. Xóga muito”. Mas, num lance em que Mala driblou dois e chegou na área, ao invés de passar a bola tentou driblar mais um, mas acabou perdendo. No mesmo instante, Mão gritou: “Seu dreinador, dira esse meu sobrinho, que é vominha de bola”.

O futebol amador era a diversão de muitos jovens daquela época, que além de jogar no Paysandu e Carlos Renaux, também defendiam outros times, como o Aymoré. Mão era de família tradicional do bairro. Nesse período também havia em Guabiruba uma rivalidade muito grande entre o Aymoré e o Dez de Junho, do Centro.

Entre idas e vindas do futebol, certo dia os amigos de Mão lhe deram um recado: “Mão, se prepara por que tu vai ser banco, porque estão contratando um goleiro que foi jogador do Renaux e também jogou no Paysandú, o Bragança vem pra cá e ele não vai ser teu reserva”. No mesmo instante Mão respondeu. “O campo é meu, a drave fui em quem potei, a bola eu comprei na Casa Zendron, as camisa são minha. Sé eu não xógar eu diro a tráve, diro a bola, diro as camisa e aí eles vão jogá em traje de Adão”.

O amor pelo futebol era tanto que, em um aniversário, o hino do Fluminense fico tocando a festa toda. “Fiquei na festa quatro horas e durante toda a festa a música foi só o hino do Fluminense. Perguntei o motivo e ele me respondeu: só não dóco o hino do Paysandú porque não tem cravação, porque quando diver vou revezar do Fluminense e Paysandú”, recorda Mário Debatin.

Um grande coração

As anedotas contadas por toda Guabiruba e nos municípios da região onde Mão era conhecido pelos negócios, também são lembradas com bom humor pela família. Na revenda de carros comandada pelo filho Márcio Gums e três netos de Mão, toda a semana alguém chega fazendo uma piada ou contando alguma de suas brincadeiras. Márcio, além dos traços físicos do pai, segue também os ensinamentos e o negócio deixado por ele. “Seguimos o negócio porque tudo que sei apreendi com ele”.

No dia 19 de maio fez 21 anos que Gums faleceu. Um infarto fulminante o matou, aos 57 anos.”Tenho muito orgulho dele. No dia que ele morreu eu perdi meu pai, meu sócio e meu grande amigo, e não deu tempo de me despedir”, diz Márcio, com os olhos marejados.

Mas, além de todo o aspecto folclórico atribuída ao Mão de Onça, familiares e amigos lembram da generosidade dele. Dono de um coração enorme, Mão nunca se negava a ajudar. Segundo Márcio, seu Genésio era muito bondoso com todos, especialmente com quem precisava. “Muitas e muitas vezes ele levou pessoas ao hospital que não tinham como pagar a corrida e nem a internação. Mesmo ele não tendo tantas condições financeiras naquele momento, sempre dava um jeito de ajudar”, lembra o filho, que tem, exposta no escritório, uma foto do pai sorridente.

Depois de se aposentar do futebol, Mão de Onça seguiu carreira vitoriosa nas canchas de bochas de Guabiruba. Pelo Aymoré, foi tricampeão no esporte. Também com a bocha disputava torneios no Lajeado Alto. “Minha mãe tinha um bar e lá faziam os torneios. Quem perdia tinha que pagar a comida, quem ganhava pagava a cerveja, que era mais barata na época. O time do Mão sempre ganhava e o prato preferido era polenta. Ele adorava uma polenta”, conta o funcionário da revenda e amigo da família, Ivânio Felisbino.

O churrasco do Fiat 147

A família Gums tem uma trajetória importante na política local. Genésio Gums seguiu os passos do pai e dos tios, que foram vereadores. Em sua campanha, Mão prometeu para seus leitores que pagaria uma grande festa com churrasco caso fosse eleito. Proclamado o resultado, precisou cumprir o prometido. Sem dinheiro para pagar a festa, Felisbino lembra que o amigo vendeu seu carro – um Fiat 147 – e comprou dois bois. “Ele prometeu e precisava cumprir, então se desfez do carro e pagou festa para os eleitores dele e mais aqueles que não votaram”, conta.

As histórias do Mão de Onça

Perdido no Maracanã

Uma das histórias mais contadas até hoje se passou numa viagem ao Rio de Janeiro. Conta-se que Mão de Onça e um amigo foram ao Maracanã, um dos maiores estádios do mundo, para conhecer e assistir a um jogo. Mão foi ao banheiro e se perdeu. Para localizar o colega, chegou até o guarda e disse: “Ô securança. Tu fisse se o meu amico Egon Schweigert passo por aqui?”

Anjinho

Adolescentes apostaram com Mão de Onça que ele não bateria os sinos da igreja. Mão aceitou a aposta e foi até a torre dos sinos. No entanto, o padre estava por lá, percebeu algo diferente, e perguntou:
– Quem está aí?
E o Mão de Onça, escondido, respondeu:
– Um ánxo!
O padre perplexo, diz:
– Se você é realmente um anjo, então voe!
Mão de Onça, com medo, responde:
– No póso, eu sô um ánxo filhóta.

Bicho no caminho

Certo dia Mão de Onça saiu às pressas de Guabiruba, no seu taxi, para levar uma senhora que estava doente ao Hospital Azambuja, em Brusque. Em alta velocidade, ele passou por cima daqueles obstáculos conhecidos como “tartarugas”, usado para delimitar a pista em alguns trechos. O problema é que a polícia estava fazendo blitz, sinalizou para ele parar, mas ele seguiu em frente, pé no fundo e foi perseguido pelos policiais. Ao chegar no hospital, foi abordado por um policial:
– O senhor tá doido? Por que andar tão rápido? Não viu que passou por cima das tartarugas?
– Ô seu polícia, não fi bicho nenhum no caminho.

Caminhão da HM

Em uma de suas viagens de carro para Itajaí, Mão de Onça exagerou na velocidade e passou a ser perseguido por uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (cujas viaturas são pintadas de azul e amarelo). Depois de uma perseguição, os policiais cortaram a frente e Mão parou.
– Por que o senhor não parou quando fizemos sinal?
– Polícia, eu pensei que era o gaminhón da Hermes Macedo! (empresa varejista que, na época, usava as mesmas cores da PRF).

Parente da vítima

Estava o Mão de Onça fazendo seu passeio diário por Guabiruba quando viu um tumulto à frente, na estrada. Percebendo que era um acidente, muito curioso, foi passando entre os presentes e dizendo:
– Dá licença.. sou barente da vítima.. barente da vítima..
Quando chegou lá, viu que era um cavalo que tinha sido atropelado.

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