Filosofia e fé
No próximo dia 28, dedicado a Santo Agostinho, comemora-se também o dia do filósofo. É ocasião especial para lembrar o papel da filosofia e a figura do grande pensador cristão.
A cultura atual é herdeira do iluminismo, do positivismo, do marxismo, de Freud, Nietzsche e de suas derivações. Essas correntes se embrenharam em lutas renhidas contra a religião, que classificaram como obscurantista, “ópio do povo” ou ilusão. Esse tipo de pensamento invadiu as universidades e formou gerações de professores que, por sua vez, repassaram essa visão aos seus alunos, de tal forma que isso já se tornou o senso comum dos tempos atuais.
Mas o verdadeiro espírito da filosofia nos ensina a não engolir teorias com muita facilidade, e a identificar o que é propaganda ideológica travestida de intelectualidade e ciência.
Agostinho nos inspira a criticar essas “modernidades”. O cristianismo primitivo, em meio ao mundo romano decadente e à cultura grega disseminada por todos os lados, teve, a princípio, uma atitude defensiva contra a filosofia. Preocupados em defender a fé dos ataques dos “sábios”, or primeiros pensadores cristãos insistiam em afirmar a dissociação entre as duas coisas, repetindo que Deus revelou as verdades da fé aos pequeninos, e não aos “sábios e entendidos”.
Mas Agostinho já era um homem de letras e versado em filosofia quando abraçou a fé. Assim, teve papel decisivo na mudança dessa mentalidade. No pensamento agostiniano, a razão e a fé são complementares, de modo que uma ilumina a outra. Ele foi decisivo para que o pensamento cristão desse forma ao caos em que se tornava a Europa e o norte da África com a decadência de Roma e as invasões bárbaras. Assim é um dos principais pilares da cultura ocidental.
Precisamos recuperar o equilíbrio do pensamento agostiniano para afastar dois males opostos: o primeiro é o fanatismo religioso, que tende a desprezar as conquista da razão e da ciência, quando, aparentemente, não combinam com trechos bíblicos (em geral mal interpretados). O outro é o espírito iluminista e cientificista e o marxismo ateu, que menosprezam tudo o que é de ordem religiosa, ou tentam subverter a religião para servir a seus propósitos.
Já evoluímos o suficiente para conhecermos as possibilidades e fragilidades da ciência e o poder marqueteiro das ideologias, assim como os benefícios de uma fé bem orientada e os malefícios de todo tipo de fanatismo.
Que Agostinho nos inspire a um filosofar honesto e a uma fé mais amadurecida. Assim, deixaremos nosso mundo mais parecido com a sua “Cidade de Deus”.