Brusque, 20 de fevereiro de 1933. Por volta das 8h30, nas antigas instalações do Convento Sagrado Coração de Jesus (SCJ), era lecionada a Aula Inaugural do Curso Seminarístico de Filosofia, ministrada pelo padre Prof. Dr. Roberto Bramsiepe, que havia chegado da Alemanha justamente para coordenar o trabalho formativo na instituição. Desde lá, passadas quase nove décadas, sempre envolvido nas transformações e mudanças de cada tempo, o curso de Filosofia já formou quase duas mil pessoas e segue fiel ao propósito.
“O curso de Filosofia nasceu em um contexto de seminário. O padre Eloy Dorvalino Koch (in memoriam), em seu livro ‘Convento SCJ: Contribuição à história da Província e de Brusque’, é muito preciso e minucioso ao citar que a formação inicial estava baseada naquilo que a Igreja da época entendia como necessário para os estudantes, tanto na sua educação eclesiástica, quanto no contato e na percepção de mundo. Entre as disciplinas, estavam listadas aulas de retórica, lógica, sociologia, teoria do conhecimento, antologia, cosmologia, antropologia filosófica, teologia natural, ética, introdução à Sagrada Escritura, história da Filosofia e da Igreja e o canto sacro”, afirma o vice-diretor da Faculdade São Luiz e atual coordenador do curso de Filosofia, padre Aléssio da Rosa.
Transformações
O Curso Seminarístico de Filosofia se manteve até a criação da Fundação Educacional de Brusque (FEBE), em 15 de outubro de 1973, quando se transformou em Escola Superior de Estudos Sociais. “O padre Orlando Maria Murphy participou diretamente da fundação da FEBE, em Brusque, e da FURB, em Blumenau. Com sabedoria, criatividade e empreendedorismo na área da educação, padre Orlando percebeu o quanto as duas instituições nascentes poderiam agregar ao curso, desde então aberto também às pessoas da comunidade, que não vislumbram uma vocação religiosa”, conta padre Aléssio.
Em 1970, os seminaristas da Arquidiocese de Florianópolis passaram a estudar no local, assim como os demais seminaristas das Dioceses do Estado, em 1980.
“Aos poucos, o curso assumiu sua forma de Filosofia pura, com a contribuição das duas instituições às quais o padre Orlando esteve à frente, com o desafio de estabelecer o diálogo de um mundo filosófico e religioso, inserido no contexto social de cada época e que chega hoje ao nosso tempo”, detalha padre Aléssio.
Relevância
Padre Aléssio explica que a Filosofia prepara o estudante para o diálogo, mesmo em contextos de diferentes aspectos e pontos de vista. “É uma argumentação lógica e racional. E, ao mesmo tempo, uma postura de prudência e de respeito. Assumimos o protagonismo crítico de perceber a realidade sob diferentes ângulos. A Filosofia nos prepara para um diálogo real, fraterno e solidário. Ela permeia os vários campos do saber e permite ao filósofo a busca por decifrar questões do seu tempo, da sua época e aquilo que está além de si mesmo”.
O coordenador do curso enfatiza que, além de seminaristas, muitos leigos têm se interessado pela formação. Na maioria dos casos, são pessoas com profissão e família já constituídas, mas dispostas a embarcar nesta aventura de uma compreensão maior do mundo e da própria vida. “Precisamos de gente interessada em estudar, em questionar e em questionar-se, na busca por respostas”, encoraja o formador.
Gratidão
Nestes 89 anos de história, a Faculdade São Luiz faz memória a todas as pessoas que passaram por Brusque ou que conheceram o município por causa do curso de Filosofia. Muitas delas, inclusive, se transformaram em referência, nas mais variadas áreas do conhecimento. Da mesma forma, reconhece a contribuição da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, que apostou e investiu nas terras catarinenses, desde 1903, e construiu em Brusque um centro para a formação religiosa, fundamentado em uma educação integral e humanista.
“Em 2022, ao já contemplar a face dos 90 anos do curso de Filosofia, queremos trazer os personagens que assumiram o protagonismo de cada tempo. Em meio a tantas dificuldades, honramos esta história e, à luz do nosso tempo, assumimos com gratidão este legado”, enaltece padre Aléssio.