Fim de um ciclo: Centro Educacional dos Comerciários de Brusque encerra atividades depois de 30 anos
Pais e profissionais se dizem insatisfeitos com a decisão
Pais e profissionais se dizem insatisfeitos com a decisão
O Centro Educacional dos Comerciários de Brusque, aberto desde 1992, fechou as portas no dia 31 de maio deste ano. O local, que já chegou a atender cerca de 150 crianças, encerrou as atividades com menos de 30.
O fechamento foi recebido com surpresa por pais e responsáveis e virou motivo de discussão para algumas famílias, visto que a creche era parte importante da rotina das mães e pais que não conseguiam ficar com os filhos, principalmente nos horários comerciais.
A mensalidade baixa (comparando com outras do município) também era um dos pontos fortes do local, que era considerado exemplar no quesito educacional.
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio, Paulo Sedrez, após o atentado que ocorreu no CEI Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, em abril deste ano, criou-se uma expectativa de reforço no esquema de segurança da creche. As mudanças, segundo o presidente, teriam custos altos que não poderiam ser repassados para os pais, já que dividir tudo entre poucas seria insustentável.
“Anunciamos o fechamento 30 dias antes, justamente para as famílias poderem pensar no que poderiam fazer. Colocamos à disposição algumas possibilidades em outros locais, porém, a família que decidia se era viável ou não. É claro que seria mais caro em outro local, mas fizemos tudo que pode. Obviamente não era do nosso interesse fechar a creche”, conta.
Ainda segundo o presidente, a última mensalidade não foi cobrada dos pais. A casa onde a creche operava era um espaço alugado e tudo que havia dentro já foi retirado.
“Não era um espaço nosso. Os itens que estavam dentro foram vendidos, doados ou jogados fora. Outros objetos nós utilizamos em outros espaços nossos que estavam precisando. Sabemos que é ruim para todos os lados, mas não tinha outro jeito. Nossas arrecadações também diminuíram, não conseguimos aportar valores muito altos em melhorias como as que a creche precisava”, complementa Paulo.
Simone Kistenmacher Dias possui uma longa história com a creche e discorda de muitas falas do presidente. Ela participou da fundação do local em 1992 a pedido de Júlio Gevaerd, ex-presidente do sindicato, já falecido.
Em contato com o jornal O Município, a funcionária diz que a situação é vergonhosa e controversa. Ela acompanhou tudo de perto e estava em um grupo de WhatsApp com várias pessoas envolvidas na creche.
“Estamos em 2023, em uma cidade pulsante como Brusque, como é possível fechar uma creche? Pior, como pode encerrar as atividades de uma creche de sindicato? Eu sei que vão dizer que iria faltar dinheiro, mas é tudo ‘baboseira’. O fato é que fecharam a creche sem publicar um edital e sem avisar quase ninguém publicamente. Também sei que venderam itens da creche, não sei se poderiam fazer isso. Se fecha bar, mas não se pode fechar uma escola”, diz Simone.
A maneira que o comunicado do fechamento foi feito também incomoda outras pessoas envolvidas com a creche. O anúncio foi considerado inesperado, visto que, no dia 6 de abril deste ano, um comunicado foi enviado nos grupos de WhatsApp dos pais dizendo que a creche buscava soluções para aumentar a proteção das crianças.
Segundo uma ex-professora do local, que não quis se identificar, o comunicado aconteceu de fato 30 dias antes da data de fechamento. Primeiro foi feita uma reunião para os colaboradores, no dia 27 de abril, depois foi realizada outra com os pais.
“Os pais ficaram em choque com a situação e eu fiquei muito preocupada com as crianças. Fiquei arrasada. Achamos a justificativa financeira sem sentido, pois eles poderiam ter conversado com os pais e profissionais antes de tomar a decisão”, disse.
O jornal O Município também entrou em contato com uma mãe que afirmou ter pago uma taxa em torno de R$ 300 (duas parcelas de R$ 150). Segundo ela, no valor estaria incluso uma agenda e o material didático, tudo foi devolvido.
“Tudo foi muito estressante, tivemos que correr para arranjar um lugar para meu filho. Tentamos ver a viabilidade para fazer uma nova creche, porém, não foi possível”, conta. O filho da mulher conseguiu uma vaga de meio período na rede municipal dias depois.
De acordo com outro pai entrevistado, o que mais incomoda é o fato da decisão ter sido tomada sem participação dos pais. Ele teve que realocar o filho para outro local e paga cerca de 30% a mais nas mensalidades agora.
A secretária de Educação de Brusque, Eliani Buemo, diz que havia 27 crianças sendo atendidas na creche. “Dessas, duas famílias nos procuraram diretamente e foram orientadas a seguir o protocolo Programa Fila Única, ou seja, entraram na fila”.
Indagado sobre as questões abordadas pelos pais e profissionais que atuavam na creche, o presidente respondeu que de fato alguns itens foram vendidos e que sim, possivelmente algum possa ter sido comprado por uma pessoa e não instituição. Alguns berços e estofados foram negociados com outras creches da cidade também. “Isso poderia ter sido feito, é uma ação legal“.
Sobre a decisão do fechamento, Paulo diz que foi a diretoria do sindicato que resolveu e que acha que foi uma decisão acertada já que, segundo ele, não haveria possibilidade de tomar outro tipo de decisão.
“Também teríamos que mudar de local, ou seja, o custo seria muito maior. Nosso espaço não era viável como dos outros centros educacionais. Procuramos por novos locais, mas eles não eram adequados”, conta.
Questionado sobre o fato de não ter existido um edital ou comunicado público, o presidente diz que não era necessário. “A associação que mantinha a creche era a própria diretoria do sindicato, não havia ninguém de fora”, concluiu.
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