Pesquisa divulgada neste mês pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), revela que quase 60% dos entrevistados exagera nas compras, vive fora do seu padrão de vida, gasta mais do que pode ou fecha o mês sem sobras de dinheiro. Dentre os entrevistados, 25% admitiram comprar produtos – como bolsas, roupas, celulares, carros -, que extrapolam seu orçamento, com o objetivo de manter a reputação ou a boa imagem, apenas para agradar os outros. Para muitos, é mais importante o que as pessoas ao seu redor vão achar deles do que a própria satisfação pessoal, idealizando para si um padrão de consumo que não corresponde ao seu orçamento. Nenhuma novidade. A pesquisa apenas confirma o que constatamos no nosso dia a dia.
O descontrole financeiro é o principal responsável pela inclusão de dívidas em atraso no serviço de proteção de crédito. Infelizmente, parte significativa da população não cuida adequadamente de suas finanças. Na maioria das vezes, uma planilha em excel ou o simples registro ordenado e contínuo das contas em um caderno já é o suficiente para que a pessoa conheça as suas contas. Evitar o consumo ou o gasto exagerado e desnecessário, isso já é outra história.
O crédito fácil verificado nos últimos anos só fez aumentar o endividamento da população. Em 2013, pesquisa publicada pelo SPC indicava que 77 % dos brasileiros utilizavam cartão de crédito e, destes, 72% não sabia quanto pagava de juros quando deixava de pagar o valor integral da fatura. Mas estes dados não impressionam se comparados com a parcela da população que não sabe interpretar as informações disponíveis numa placa que indica o preço e a taxa de juros cobrada na venda parcelada. Geralmente, o raciocínio tende a ser simplista: se o valor da prestação couber na receita do mês, está tudo certo. Não se costuma calcular quanto representam os juros embutidos na prestação.
A dificuldade com matemática chega a ser assustadora. Tabuada, regra de três, média aritmética, percentual, o que é isso? Muito utilizada no mercado financeiro, a porcentagem (%) também é empregada na hora de obter um desconto, calcular o lucro na venda de um produto ou medir a taxa de juro. Cobrado pelas lojas, pelos bancos, pelas operadoras de cartão de crédito, os juros podem ser definidos como sendo uma compensação por se usar o dinheiro alheio. Estabelecidos em porcentagem, o cálculo é fácil.
A percentagem ou porcentagem – do latim per centum, significando “por cento”, “a cada centena” -, é uma medida de razão com base 100 (cem). Assim, dizer que algo (meninas) é “70%” de uma sala de aula, por exemplo, deve ser entendido como: “as meninas representam setenta por cento da sala de aula”. Isso significa que as meninas equivalem a 70 elementos em um conjunto universo de 100 elementos. Ou seja, é a razão da divisão: para 1. Autoexplicativo. Mas há quem não sabe como se calcula.
Embora ensinadas nos anos fundamentais da escola, nem sempre as equações são compreendidas. E algo que não é compreendido, não é aplicado. Então, o fato do consumidor não saber calcular os juros embutidos na venda a prazo, ou a maioria dos usuários de cartão de crédito não saber quanto paga de juros quando deixa de pagar a fatura, não deve causar estranheza. Se somarmos o número de pessoas que não calculam os juros com as pessoas que gastam mais do que ganham, veremos que a situação é crítica. E olha que isso não tem nada a ver com as dificuldades que nosso país está vivendo agora. A questão é antiga, e é cultural…