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Forçar cirurgia bariátrica expõe paciente a risco

Especialistas apontam que redução do estômago deve ser feita apenas em casos pontuais

No Brasil, quase metade da população está acima do peso. O alto índice de obesos leva, consequentemente, a um grande número de cirurgias bariátricas. E nos últimos anos, os órgãos de saúde verificaram um aumento na quantidade deste tipo de operações, o que pode ser prejudicial à saúde do paciente.

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Cadri Massuda, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge-PR/SC), alerta para o volume de cirurgias bariátricas no país. “Os índices de sobrepeso e obesidade no mundo estão cada vez mais altos”, diz. Segundo ele, o aumento neste tipo de operação é desproporcional com a realidade brasileira. Massuda avalia que a redução do estômago está sendo usada como uma solução fácil para os problemas de peso de uma população acomodada.

“Segundo protocolos internacionais, a cirurgia é indicada apenas em casos que comprometam gravemente a saúde, que são os casos de obesidade mórbida. Ainda de acordo com os protocolos, é indicado que a pessoa se submeta, antes da cirurgia, a um tratamento com acompanhamento multiprofissional por dois anos. Isso porque a obesidade envolve diversas áreas e, em especial, fatores psicológicos, reeducação alimentar, programa de exercícios físicos prévios à cirurgia”, afirma o presidente da entidade.

Massuda diz que é preciso fazer uma avaliação criteriosa sobre a real necessidade da bariátrica porque este tipo de procedimento tem uma alta taxa de complicação no pós-operatório. Além disso, estudos científicos mostram que aproximadamente 50% dos pacientes que fazem a operação voltam ao peso antigo em cinco anos, pois não seguem as mudanças de hábitos necessárias.

Em Brusque, o Hospital Azambuja começou a fazer bariátricas em 2016. Segundo o administrador Fabiano Amorim, até o fim do ano serão realizadas nove operações de redução de estômago. Ele considera o número normal e que não existe um exagero.

Custo-benefício

A preocupação do presidente da associação de planos de saúde e de órgãos de saúde é que as pessoas estejam banalizando as bariátricas. Eles temem que em vez de tentar emagrecer por meio da reeducação alimentar e do exercício físico as pessoas com excesso de peso estejam forçando a barra para poder fazer o procedimento.

Amorim diz que o Hospital Azambuja segue à risca as normas de saúde impostas pelo Ministério da Saúde. Ele também ressalta que a cirurgia bariátrica é um procedimento complexo, por isso antes da sua realização é feita uma avaliação rigorosa. “A cirurgia é muito boa para quem tem risco, mas forçar é perigoso”, diz.

Fábio Medaglia Filho, cirurgião bariátrico que faz as operações no Azambuja, diz que até o momento apareceu apenas uma pessoa em seu consultório querendo fazer a operação sem necessidade. O caso não foi para frente porque não seguia as normas de saúde. “Sei que existem pessoas que fazem isso em grandes centros. Às vezes, as pessoas tentam, mas a gente não indica quando não tem necessidade”, informa.

Segundo o médico, a operação só deve ser realizada quando os benefícios serão maiores do que o risco sofrido. Se a obesidade não está comprovada, não tem por que a pessoa se submeter ao risco do procedimento. “É uma cirurgia que não é livre de qualquer complicação”, afirma Medaglia Filho.

Um exemplo claro de uma situação “forçada” seria um paciente que não tem o Índice de Massa Corpórea (IMC) suficiente para ser operado. Por isso, ele engorda mais rápido, com o objetivo de fazer. Segundo o médico, neste caso a operação passa a ser errada e traz risco à saúde do obeso. A bariátrica é indicada exclusivamente se tem algum problema causado pelo excesso de peso. O médico ressalta que não se trata unicamente da questão estética.

Mais regulamentação

Hoje, o Ministério da Saúde já impõe uma série de regras aos médicos, planos de saúde e SUS antes da realização deste tipo de procedimento. Por exemplo, a pessoa precisa passar por uma preparação de dois anos antes da cirurgia. Neste período, ela deve tentar os outros tratamento para o peso, pois a operação é o último recurso.

Medaglia Filho diz que o grande número de cirurgias bariátricas no Brasil deve-se, em parte, à uma mudança nas normas de saúde que ocorreu em 2004. A partir desse ano, ficou definido que a operação está autorizada não só para obesos, mas também para quem sofre de problemas no joelho, diabete severa e outras complicações em decorrência do sobrepeso. A ampliação do público-alvo levou ao aumento.

Ainda que existam regras, o médico acredita que há espaço para que novas normas sejam introduzidas na medicina, para que se evite excessos que possam levar a complicações para os pacientes. A mesma opinião é expressada pelo presidente da associação de planos de saúde. “Apenas dessa forma será possível garantir que o procedimento seja realizado nos casos realmente indicados, o que resultará em menos riscos e mais sucesso do tratamento”.