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Formador de padres espalhados pelo Brasil e pelo mundo, curso de Filosofia da Faculdade São Luiz completa 90 anos

Padres e ex-professores do curso relembram trajetória de nove décadas da Filosofia do São Luiz

Há 90 anos, no dia 20 de fevereiro de 1933, o curso de Filosofia da Faculdade São Luiz foi inaugurado em Brusque. Anos depois, o município seria conhecido em meio ao catolicismo graças ao potencial formador do curso. O grande responsável pela implementação do curso na cidade foi o padre alemão Roberto Bramsiepe.

Inicialmente, a Filosofia tinha foco maior na formação sacerdotal. A característica permaneceu ao longo dos anos, mas, naquela época, era ainda maior. Bramsiepe, que foi o primeiro professor do curso, veio da Alemanha para Brusque e, na cidade, deu início aos ensinamentos que formaram diversos padres.

“Ele, com toda sabedoria e com todo trabalho que já realizava em outros países, veio para esta missão e permaneceu por 12 ou 14 anos, implementando o curso de Filosofia. O padre Roberto Bramsiepe é um marco do início desta etapa formativa”, afirma o diretor do Colégio e Faculdade São Luiz, padre Silvano João da Costa.

A primeira turma

Foi em uma segunda-feira, por volta das 8h30, que os estudantes de Filosofia participaram da primeira aula. Estiveram presentes no primeiro encontro em sala Aloísio Steiner, Anselmo Antônio Boos, Antônio Tarcísio Dalsenter, Antônio Clemente Dingler, Bruno May, Ildefonso Beu e Romano Merten, que entraram para a história do curso.

Primeira turma do curso de Filosofia. Foto: Arquivo histórico/autor desconhecido

A primeira aula aconteceu no convento Sagrado Coração de Jesus, ainda no prédio antigo, e contou com a participação de Roberto Bramsiepe. O curso de Filosofia em 1933 teve como foco os estudos de Lógica, Teoria do Conhecimento, Ontologia e Cosmologia.

Ensinamentos de padre Orlando

Boa parte do desenvolvimento do curso ao longo dos anos também é fruto da atuação de diversos sacerdotes. Os padres Pedro Canísio Rauber e João da Cruz Stuepp são dois dos que possuem destaque nos anos de história da Filosofia em Brusque.

Outro religioso em especial que fez muito pelo curso e pela educação foi o padre Orlando Maria Murphy. O sacerdote foi diretor do Colégio e Faculdade São Luiz e do antigo colégio Honório Miranda. Orlando foi, também, reitor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e idealizador da Fundação Educacional de Brusque (Febe).

O padre Mariano Weizenmann, que faz parte da comunidade formadora do convento Sagrado Coração de Jesus, se recorda da atuação de Orlando e elogia o potencial intelectual do sacerdote. Mariano comenta que os professores do curso eram de alta qualidade.

Padre Mariano Weizenmann atua na comunidade formadora do convento. Foto: Thiago Facchini/O Município

Natural de Indaial, no Vale do Itajaí, Orlando faleceu em 1985 e deixou um legado para o curso de Filosofia do São Luiz. “Poderíamos chamá-lo de ‘um dos últimos doctors universalis’, um doutor universal. Ele sabia falar sobre qualquer assunto”, diz Mariano.

O sacerdote lembra ainda que Orlando sempre comentava todos os assuntos com propriedade e não inventava, até mesmo quando a conversa era sobre futebol. “Não sei se ele era vascaíno… acho que sim”, brinca Mariano. O padre afirma que Orlando conhecia as famílias de Brusque e teve grande atuação no ensino dos jovens.

“Às vezes, quando o professor faltava, ele entrava na sala e falava: ‘o professor não está aqui, mas deixe-me ver onde vocês pararam’. Padre Orlando pedia o caderno, olhava, ia no quadro, fazia o esquema e continuava a aula. Ele estava inteirado de tudo. Era um fenômeno”, elogia.

Padre Orlando Maria Murphy teve forte atuação na educação em Santa Catarina. Foto: Arquivo histórico/autor desconhecido

Legado do padre francês

Quem também tem destaque na história do curso de Filosofia foi o padre francês Leão Dehon, o fundador da chamada congregação dos padres dehonianos, a SCJ. Para o diretor da Faculdade São Luiz, padres como Roberto Bramsiepe e Orlando Maria Murphy seguiram os passos de Dehon.

“Padre Dehon sempre deu valor à preparação intelectual e tinha alguns doutorados. Ele queria que todos sempre ajudassem o clero diocesano, a igreja local. No curso de Filosofia estudam alunos de outras dioceses, e não só da congregação dehoniana”, afirma Silvano.

O padre francês Leão Dehon. Imagem: Reprodução

O pároco da Paróquia São Luís Gonzaga, padre Diomar Romaniv, elogia a preocupação do padre francês com a formação das pessoas. Diomar comenta a importância do empenho dos padres do curso em formar novos sacerdotes e lideranças com consciência crítica.

“Foi uma organização antiga em que a Filosofia se realizava em Brusque e a Teologia em Taubaté. Foram muitos os padres que se prepararam para lecionar, com ajuda também de leigos. A referência do curso em Brusque se dá a essa organização e a qualidade formativa dos padres e dos demais professores”, comenta o pároco.

O padre Claudio Marcio Piontkewicz, conhecido como padre Claudinho, ex-diretor do Colégio e Faculdade São Luiz, reforça o legado do fundador da congregação dehoniana. Para ele, a trajetória de 90 anos do curso é a continuidade dos esforços de Leão Dehon.

“O conteúdo abordado no curso oportuniza com que as pessoas tenham uma boa formação na área do conhecimento, seja nos aspectos históricos ou no pensamento crítico. É o que o nosso fundador sempre quis: formar bons cidadãos”, diz.

Arraste a seta e confira a comparação de fotos da faculdade antes e depois da reforma do prédio:

Berço da formação de padres na filosofia

Graças aos esforços dos sacerdotes que trouxeram o curso para Brusque, a cidade é, além de “o berço da fiação”, também o berço da formação sacerdotal na filosofia. Entre as várias etapas que compõem o processo, os estudos de filosofia são referência no município. Diversos padres e bispos passaram por Brusque.

“Dentro da igreja, a cidade é reconhecida graças à Filosofia, pois vários estudantes passaram pelo município. Brusque se tornou uma cidade na agenda de todos que passaram pela cidade. Quando se fala em Brusque, se lembra da etapa da Filosofia”, relata Silvano.

O diretor do Colégio e Faculdade São Luiz, padre Silvano João da Costa. Foto: Thiago Facchini/O Município

Padre Mariano estudou Filosofia no São Luiz entre os anos 1978 e 1980. De acordo com ele, o curso teve papel fundamental na formação de sacerdotes de outros estados e, também, de outros países. O padre destaca também a rigidez do curso, em que era necessário estudar aos domingos após as atividades de seminarista na paróquia.

“Em Brusque, nestes 90 anos, chegaram a estudar os alunos que, depois, se tornaram padres em todo o estado de Santa Catarina. Pessoas que hoje estão espalhadas por dez estados brasileiros e por outros países passaram pela cidade”, revela Mariano.

O sacerdote cita que passaram por Brusque estudantes que posteriormente seguiram em missão a países como Alemanha, Itália, Congo, Camarões, Filipinas, Hong Kong, Canadá, Estados Unidos, Colômbia, Argentina, Uruguai, Paraguai e outros.

“O que se aprendeu em Brusque ajuda a iluminar a missão dessas pessoas que andaram pela cidade”, diz mariano.

Lembranças das salas de aula

O padre Adilson José Colombi, que atua na Paróquia São Luiz Gonzaga, foi um dos professores que deu aula no curso durante anos. O sacerdote começou a trabalhar na instituição em 1981. Anos antes, ele já havia passado pela faculdade, mas como estudante.

Quando Adilson recebeu o convite para ser professor da faculdade, ele foi para a Itália para fazer doutorado na mesma universidade em que estudou o padre Roberto Bramsiepe e, quando voltou, retornou à Faculdade São Luiz como professor.

“Em 1981, o curso era muito menor, com poucos professores. Quase todos se conheciam, incluindo os alunos”, diz Adilson. “Era uma ambiente quase familiar”, classifica. Com o passar dos anos, o curso cresceu, impossibilitando o contato pessoal de antes.

Padre Adilson José Colombi é doutor em Filosofia. Foto: Thiago Facchini/O Município

Adilson não ministra mais aulas presenciais na faculdade, mas segue atuando como orientador de TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso). O sacerdote se recorda da postura dentro de sala de aula e diz que era um professor exigente.

“Sempre defendi que é preciso estudar e se dedicar, sobretudo se dedicar às leituras. As minhas provas sempre foram dissertativas. Nunca apliquei uma prova objetiva. Era necessário explicar e dar razões às respostas”, relembra o padre.

Um dos métodos de padre Adilson durante as aulas era utilizar recursos no quadro para que fosse de fácil compreensão o entendimento dos estudantes. Como exemplo, o sacerdote cita que desenhava flechas.

“Tentei sempre ser o mais simples possível na aula, com uma linguagem simples para que aqueles que participavam pudessem entender bem. Penso que minhas aulas sempre foram lógicas, com começo, meio e fim”, finaliza Adilson.


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