Fortaleza
O poema mais conhecido de Gonçalves Dias – I Juca Pirama –
fala da bravura dos povos indígenas no Brasil e de como ser forte e valoroso
valia mais que a própria vida. O mesmo ideal está presente na educação dos
gregos antigos. Formar um guerreiro forte e valoroso, que não tema enfrentar o
perigo, sempre foi o item nº 1 na educação dos povos. Na região do Xingu, os
rituais de passagem, através dos quais o menino passa a ser considerado adulto,
incluem enfrentar formigas perigosas e marimbondos, sem fraquejar nem chorar.
Há uma imensa sabedoria nessa pedagogia crua dos povos
primitivos e das civilizações antigas. Enfrentar as adversidades precisa estar
no cardápio da formação da pessoa, pois a vida está cheia de obstáculos e espinhos.
Como diz o poema de Gonçalves Dias, “a vida é combate que aos fracos abate e
aos fortes, aos bravos, só faz exaltar”.
Nos nossos tempos “civilizados”, a vida não deixa de ser um
combate, mesmo quando não somos ameaçados de invasão por troianos, espartanos, medos,
persas ou aimorés. Para nós, a vida também é “luta renhida”. Daí que precisamos
desenvolver dentro de nós a força que nos permite enfrentar os obstáculos para
que, nesse enfrentamento, fiquemos ainda mais fortes e imunes. É aí que entra
nossa quarta virtude cardeal: a Fortaleza. Se nos compararmos com as gerações
passadas, talvez nunca houve tanta gente fraca e despreparada para a vida
quanto hoje. Tudo parece complicado e exigente demais. As pessoas parecem estar
perdendo a energia e a vontade até para o que é mais básico: o trabalho e o
estudo. Nossas empresas estão apavoradas com a quantidade de empregados que não
aguentam mais que alguns dias no batente, não conseguem cumprir horários, só
querem direitos e facilidades. Nas escolas e universidades, uma prova mais
exigente ou uma leitura básica parecem mais assustadoras que o “Leão da Nemeia”
ou a “Hidra de Lerna”. Para onde foi nossa força física e espiritual? Será que
só temos energia e atenção para as teclas e visores dos celulares? Como é que
as pessoas de outrora conquistavam tanto mais em condições infinitamente mais
hostis? É preciso ler “O Menino do Poço Fundo”, para aprendermos um pouco dessa
força e tenacidade com o Sr. Hylário Zen, ou “Nas Mãos de Deus”, para vermos na
história da Sra. Lilli Stefens o que significa a palavra “dificuldade” e como
se faz para enfrentá-la.
Nossos inimigos mais poderosos moram dentro de nós e estamos
nos entregando muito facilmente a eles. Que tenhamos Sabedoria para identificá-los
e Fortaleza para enfrentá-los.