Fórum Brusquense promove debates sobre a presença da mulher negra em espaços sociais
Primeira edição do evento foi inspirada em dias comemorativos
Primeira edição do evento foi inspirada em dias comemorativos
Com o tema “A presença da mulher negra nos espaços sociais e de tomada de decisões”, a Câmara Municipal de Brusque realizou na última sexta-feira, 16, o I Fórum Brusquense da Mulher Negra (I FBMN). O evento foi alusivo ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, ambos são comemorados oficialmente em 25 de julho.
Proposto e presidido pela vereadora Marlina Oliveira Schiessl (PT), o evento aconteceu de forma híbrida, com algumas atividades presenciais e outras on-line. O fórum foi aberto ao público, com limite de ocupação de 50% da galeria do plenário, o acesso condicionado à ordem de chegada e ao uso de máscaras e outras medidas de prevenção ao coronavírus.
“Esta é uma noite na qual teremos a oportunidade, primeiro, de inscrever uma discussão extremante importante em nosso município, que é a questão das mulheres negras na sociedade brasileira, e, em segundo lugar, estabelecer um marco importante da luta antirracista. Dialogar, tirar do lugar de silêncio, trazer ao centro do debate e olhar com criticidade a partir de algumas reflexões”, ressaltou a parlamentar ao abrir as atividades do fórum.
Compuseram a mesa dos trabalhos, além de Marlina, Shay Ferreira, representante do movimento negro e dos movimentos comunitários e estudantis, Isabel Cristina Francisco, representante do segmento têxtil brusquense, Silvania Leal de Souza, do segmento educacional, e Janaina Antônia Cavalcante Garcia, do setor artístico municipal.
O fórum teve início com uma mística de abertura conduzida de forma on-line pela professora Josefina Silva Boscia. Ela é membro da diretoria executiva da CUT/SC, do Coletivo Negras Petistas/SC e presidente do PT em Joaçaba/SC.
A programação de abertura continuou com uma reverência aos 120 anos de nascimento de Antonieta de Barros (1901-1952). Ela foi professora, escritora, jornalista, uma das primeiras mulheres a ocupar um cargo eletivo no Brasil, primeira deputada negra de Santa Catarina e do país. Na oportunidade, Marlina mencionou a biografia “Antonieta de Barros”, de autoria de Jeruse Romão, última produção literária dedicada às memórias da histórica personagem.
Em seguida, as professoras Lúcia Francisco Cipriano e Umbelina Francisco de Mendonça, presentes à solenidade, foram homenageadas com moções de destaque pela excelência dos serviços prestados por ambas à Educação e também por serem integrantes de uma das primeiras famílias negras de Brusque. Elas são filhas de Petronilha e Orgino Domingos Francisco, que ficou conhecido popularmente como Ginoca.
No decorrer da noite, quatro debatedoras propuseram reflexões relacionadas à temática central do I FBMN. A socióloga e professora Vilma Reis, integrante do Coletivo Mahin e mentora do Coletivo Feminista contra o Feminicídio, falou sobre “O que desejam as mulheres negras? O que anunciam as suas presenças nos diferentes espaços sociais? Um olhar para o Levante Feminista Contra o Feminicídio no Brasil”. Ativista do movimento negro, Shay Ferreira foi a única a se apresentar presencialmente, abordando “Os nomes do racismo”.
Cirene Cândido, do Coletivo Negras Petistas/SC, discorreu sobre “A organização política das mulheres negras em Santa Catarina – As mulheres e os espaços políticos”. Por fim, Vanda Pinedo, secretária estadual de combate ao racismo do PT/SC, defendeu que as “Mulheres Negras resistem e lutam por uma sociedade em que o bem viver seja um direito a todas e todos”.
As artistas Rívia e Tay Guedes animaram o fórum interpretando canções autorais e outras do repertório da música brasileira. Enquanto isso, o projeto fotográfico “Narrativas Negras” – proposto por Nubia Abe exposto no plenário, ilustrou o ambiente com imagens que buscam destacar o protagonismo de mulheres negras no cotidiano brusquense.
Antes de encerrar o I FBMN, Marlina abriu a palavra ao público e, a partir de algumas declarações, elaborou os encaminhamentos do evento. “O primeiro deles é a abertura do espaço do diálogo, é a importância de momentos como este que vivenciamos, onde experiências foram compartilhadas e personalidades locais e estaduais foram reconhecidas, onde referencial foi dado tanto à população de mulheres negras como à população em geral. O espaço do diálogo é importante e é um encaminhamento que fica. O debate inicia com este fórum, está aberto e permanente”, disse.
“Outro encaminhamento é quanto à criação de políticas públicas municipais que combatam fortemente o racismo. É preciso que se cumpra a Lei [Federal] no 10.639/2003 [sobre a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana] no âmbito do município de Brusque. É preciso que se tenha uma educação antirracista, que sejam formados professores para a perspectiva da educação étnico-racial, que crianças negras e brancas aprendam, conheçam e reconheçam a beleza da diversidade e da diferença em espaço educacional. O cumprimento da Lei no 10.639/2003 é um direito das crianças e dos adolescentes. É tempo de tirarmos do papel o que consta nas diretrizes [e bases da Educação nacional] e o constituirmos em práticas dentro das escolas”, acrescentou a vereadora.
“Arte e Cultura é um campo onde podemos educar. A Cultura tem um papel imprescindível na humanização, em dar visibilidade, em educar também para a diversidade, a partir do fomento de propostas que trazem a possibilidade das pessoas reconhecerem a humanidade e a existência do outro, de respeitar a diferença. Nesse sentido, cabe pensarmos como encaminhamento, também, o papel que a Cultura tem diante das questões raciais em nosso município”, emendou Marlina.
Receba notícias direto no celular entrando nos grupos de O Município. Clique na opção preferida: