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À frente de seu tempo: relembre a trajetória do ex-prefeito de Brusque Hylário Zen
Amigos e familiares falam do legado que o empresário deixa para a cidade
Brusque perdeu na noite de quinta-feira, 15, o empresário e ex-prefeito Hylário Zen, aos 91 anos. Zen faleceu em sua casa de praia, em Porto Belo, de causas naturais e deixa um grande legado na política, na economia e no associativismo de Brusque.
Entidades como a Associação Empresarial de Brusque (Acibr), a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o Observatório Social de Brusque emitiram notas de pesar pelo falecimento do industrial.
A Prefeitura de Brusque também emitiu nota de pesar e decretou luto oficial de sete dias na cidade, “por seus feitos como homem público e liderança empresarial e social”.
O corpo do empresário está sendo velado na igreja do bairro Santa Rita. Às 15 horas haverá uma missa e o sepultamento será realizado logo depois, no Cemitério Parque da Saudade. A cerimônia é restrita para parentes e amigos próximos.
Hylário deixa a esposa Evelina, com quem teve seis filhos, 15 netos e oito bisnetos. “Ele teve uma vida de retidão, ética, de trabalho e dedicação aos bons princípios. Fez muitas amizades em todas as relações que teve. Prezava muito por isso”, descreve o filho André Zen.
Hylário empreendedor
Zen iniciou no mercado de trabalho aos 14 anos na Fábrica Renaux, mas sempre gostou da área mecânica, por isso, aos 22 anos, foi estudar em São Paulo junto com o irmão Nelson Zen. Lá, em 1960, eles fundaram uma pequena fábrica de peças para aparelhos de rádio. Nascia aí a Indústria Zen, uma das maiores empresas de Brusque.
Três anos depois de iniciarem as atividades da empresa, Hylário e Nelson foram desafiados a produzir o impulsor de partida, que mais tarde se tornaria o principal produto da empresa.
Dez anos depois de iniciar na produção dos impulsores, os irmãos sentiram a necessidade de mais espaço físico, já que a demanda crescia significativamente. Decidiram, então, transferir a empresa para Brusque, cidade natal dos fundadores.
A partir daí, a Zen só evoluiu. Os irmãos investiram em tecnologia e, em 1976, os produtos da empresa foram exportados pela primeira vez. Com o passar dos anos, a empresa fundada por Hylário e Nelson se fortificou e se transformou em uma das principais indústrias do segmento automotivo.
Hotel Monthez e Cervejaria Zehn
Além de ser o fundador da Zen, Hylário também deixou sua marca em outros setores da economia. Ao lado da esposa, Evelina, o empresário inaugurou em maio de 1992 o Hotel Monthez, um dos cartões postais de Brusque.
Na época, o casal sentiu que a cidade tinha necessidade de um hotel com uma estrutura diferenciada para receber os visitantes. Decidiu, então, investir no negócio. Construíram no alto do morro, no coração da cidade, a estrutura na arquitetura alemã que hoje recebe centenas de turistas o ano todo. O empresário também fundou a cervejaria Zehn Bier, em 2003.
O filho André Zen destaca a grande visão de futuro do pai. “Ele era um empreendedor. Uma pessoa que enxergava 10, 15 anos à frente. Tinha uma visão muito boa de vanguarda. Lembro que logo após comprar o morro onde hoje está o Monthez, fui até lá com ele. Não havia nada, só mato, e lá em cima ele disse que a cidade se desenvolveria para aquela região. Ele estava certo”.
Hylário associativista
Paralelamente às atividades da indústria, Hylário Zen também se dedicou ao associativismo. Foi presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr) na gestão 1993-1996, promovendo o associativismo e defendendo importantes bandeiras em prol do desenvolvimento da cidade e da região.
Em sua gestão, deu continuidade ao projeto de criação dos Núcleos Setoriais da Acibr, iniciado em 1992, que contribuiu para o desenvolvimento das empresas e também para o fortalecimento da associação.
Foi durante sua gestão que os encontros da diretoria da Acibr se tornaram semanais, modelo que está em vigor até os dias atuais.
“Hylário Zen se despede deixando um grande legado e entra para a história não apenas no ramo empresarial, mas também para toda a sociedade brusquense por todo o seu envolvimento, voluntariado e dedicação em prol de diversas causas. Que seu exemplo inspirador de trabalho, dignidade, simplicidade, bondade, coragem e perseverança, continue vivo em nossas memórias e corações”, diz a nota de pesar da Acibr.
O empresário Luciano Santos atuou com Zen na diretoria da Acibr e lembra do trabalho de modernização da entidade capitaneado pelo industrial. “Ele tinha um pensamento muito à frente de seu tempo. O objetivo era fazer a Acibr chegar a todas as empresas de Brusque, não importando o tamanho. Tanto é que na sua gestão a entidade mais do que triplicou o número de associados”.
Santos destaca ainda o início do planejamento para a construção da sede própria da entidade, que também aconteceu na gestão de Zen. “Foi durante o período dele que iniciamos o planejamento para a sede maior, que mais tarde viria ser o Centro Empresarial, que iniciou a construção na gestão do Werner Willrich que sucedeu o Hylário”.
Hylário também esteve à frente de campanhas de ajuda ao Hospital Azambuja. “Ele fez campanha para que os empresários contribuíssem com o Hospital Azambuja e outras causas de Brusque. Ele tinha um grande amor pela cidade, foi um grande líder. A qualidade de vida que temos em Brusque hoje devemos muito ao seu Hylário”, ressalta.
O vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) para o Vale do Itajaí-Mirim, Ingo Fischer, também lamentou a morte do industrial.
“Brusque perde uma personalidade que fez parte da história da cidade e que contribuiu muito para o seu desenvolvimento, como prefeito e empresário visionário. Sempre atuante nas entidades das quais fez parte, inclusive no Sindicato das Indústrias Metalmecânicas. Lamento a perda de um grande empresário e, também, de um grande amigo”.
Hylário prefeito
Hylário Zen também está marcado na história política de Brusque. Em 1996 foi eleito prefeito pelo antigo PPB, na primeira eleição que disputou. Comandou o município de 1997 a 2000.
Chefe de gabinete na época, Reinaldo Cordeiro afirma que Zen foi um político que compartilhou o poder. “Ele não concentrou o poder nas mãos. Tinha um secretariado formado por profissionais liberais, formados, e ele era o líder. Permitia as ideias, o contraditório, era um homem digno, virtuoso”.
Cordeiro lembra que o ex-prefeito era avesso ao marketing e aplicou a moral administrativa, por isso, fez um governo que classifica como impopular. “Sempre digo que ele fez uma gestão incompreendida. Nunca gostou de florear suas ações, dizia: ‘Eu sei fazer média, mas não vim para isso, vim pra aplicar a moral administrativa’”.
O ex-chefe de gabinete recorda ainda que Zen assumiu a prefeitura com grandes problemas financeiros, mas com a ajuda de sua equipe conseguiu organizar as finanças.
“Ele não foi um prefeito de grandes obras. Ele mirou a gestão nas pessoas, nas camadas mais populares da sociedade, em melhorar o padrão das pessoas nos bairros”.
Uma das marcas de sua gestão foi a reurbanização do Centro de Brusque em parceria com a Acibr, CDL e associação de moradores.
Ao fim dos quatro anos de mandato, decidiu não disputar a reeleição para se dedicar à família e às empresas, das quais se afastou completamente para poder exercer a função de administrador público.