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Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Função pedagógica do dinheiro (3)

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Função pedagógica do dinheiro (3)

Pe. Adilson José Colombi

O “reino do dinheiro” coloca o ser humano dentro de um processo de objetivação que alimenta o movimento de despersonalização, ameaçando-o em sua totalidade e tornando-o escravo do dinheiro. O possuído possuindo o possuidor.

Mounier usa dois termos indiferentemente para caracterizar este processo: “movimento de despersonalização” e “alienação”. O tema da objetivação foi colocado em relevo, sobretudo, pelos Existencialismos. É a coisificação do ser humano.

Mounier escreve: “a transformação do ser humano em coisa por determinados modos de vida e, notadamente, pela materialização; pelo dinheiro – o objeto puro, o impessoal puro – do mundo vivo em mercadorias e em permutas” (Feu la chrétienté, Oeuvres, TIII p 588.). O ser humano está constantemente ameaçado por essa tendência objetivante. A objetivação é um processo de despersonalização provocado por uma percepção e uma valorização egocêntrica e egoísta do dinheiro.

Esta ameaça que pesa constantemente sobre a pessoa e a comunidade humanas segue, então, um processo “pelo qual nós nos perdemos na ausência e na impessoalidade das coisas” (Feu la chrétiennté, T.III, p 588). O aspecto mais importante ou mais grave deste fenômeno reside no fato que não é o dinheiro (o objeto) que se aliena e se degrada, mas, sobretudo, o ser humano (o sujeito).

O sujeito possuidor e ambicioso torna-se “objetivado”, ou melhor, dizendo possuído pelo objeto. A objetivação do ser humano despersonaliza suas relações com os objetos, com os outros e com os valores. Além de impedir evidentemente um desenvolvimento autêntico e maior de suas possibilidades e capacidades pessoais.

A objetivação pelo dinheiro provoca no ser humano um fechamento em si mesmo, uma indisponibilidade, mais ou menos acentuados, consequências lógicas da posse imoderada. O outro se torna um inimigo real ou virtual, pois pode frear e impedir a aquisição de mais bens e a acumulação infinita do dinheiro.

Torna-se estranho aos gestos de generosidade, de dom, de amor. Mais ainda. A consciência da precariedade de seus bens e de seu dinheiro leva-o a uma maior avareza. Uma atitude permanente de defesa, de fechamento em si, acentuando ainda mais sua indisponibilidade.

A pessoa humana liberta pelo e do dinheiro, amparada pelo ideal de pobreza, consegue equilibrar a tensão permanente entre duas tendências dialéticas opostas: a subjetividade e a objetividade. É aqui que entra a função educativa e pedagógica do dinheiro. A pessoa humana liberta pelo dinheiro e do dinheiro é disponível, aberta.

Ela se coloca permanentemente diante de si mesma, do outro, do universo e dos valores em uma atitude de hospitalidade humilde e livre, ao mesmo tempo. O dinheiro não é um fim em si, nem um meio para instalar-se nas delícias de um conforto e bem-estar pessoal. Mas, um meio indispensável para viver uma vida mais humana em disponibilidade aos outros e aos valores espirituais. Uma atitude transparente contrária à opacidade do proprietário egoísta, escravizado pelo dinheiro. Uma atitude livre de desapego consciente.

A antropologia mounieriana conhece bem a interdependência e a correlação que existem entre a pessoa humana, a comunidade, as instituições e as mediações. Ela é suficientemente realista e sua concepção da pessoa humana é suficientemente rica para poder afirmar que é necessário, simultaneamente, mudar as estruturas e as ameaças do processo de objetivação do dinheiro.

E outras palavras, o processo de libertação da pessoa não está na posse imoderada e na acumulação indefinida do dinheiro, mas no seu uso moderado, segundo um espírito de pobreza, que alimenta uma disponibilidade de si mesmo aos outros e ao mundo físico e dos valores. O dinheiro que liberta é aquele que possibilita o maior exercício da disponibilidade essencial da pessoa e da comunidade humanas.

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