Fundada na década de 1930, Sociedade Caça e Tiro Ipiranga tenta se reinventar
Sem sócios, entidade já foi ponto de encontro e local de eventos tradicional da comunidade
Sem sócios, entidade já foi ponto de encontro e local de eventos tradicional da comunidade
Um conjunto de prédios, um campo de futebol society, um bar e uma cancha de bocha, na rua Ipiranga são a herança de um clube tradicional do bairro Souza Cruz. Apesar de depender dos valores pagos pelo aluguel da estrutura, a antiga Sociedade de Caça e Tiro, hoje Sociedade Beneficente Ipiranga, passa por um processo de adaptação e a intenção da nova diretoria é de modernizar o complexo para retomar as atividades.
Fundada em março de 1930, a Sociedade já não conta com membros ou cobrança de mensalidade. Ela também não organiza mais os eventos próprios e a manutenção depende do valor do aluguel. Segundo o presidente Jadir Pedrini, além dos recursos, os acordos permitem melhorar a infraestrutura da área, com a adaptação de sistemas de segurança e reformas.
Os serviços, segundo Pedrini, são feitos pelos locadores dos espaços. Entre eles, está o campo de futebol society, que deve ficar para uso da comunidade no futuro. Há cinco anos à frente da sociedade, ele é otimista quanto o futuro da entidade. “Não sei como chegou a esse ponto, mas vai melhorar daqui alguns anos”.
A adaptação também deve envolver uma revisão da estrutura existente. A tendência, de acordo com o presidente, é que a cancha de bocha seja reavaliada, devido à baixa utilização do espaço.
História preservada
Boa parte da história da sociedade está arquivada pelo esforço de ex-sócios da entidade. Em pastas e protegidas com plásticos na casa de Ingo Volkmann, 78, estão cópias de estatutos, documentos e lembranças de promoções desenvolvidas em alguns dos últimos eventos organizados pela diretoria.
O ex-presidente fez parte da diretoria de 1990 até 2003. Começou a participar das atividades como sócio devido ao gosto pelas modalidades esportivas praticadas no local e chegou a disputar provas de bocha.
Ele também possui fotos de parte da história do grupo. Os registros ajudam a manter a memória de momentos solenes, como a inauguração do novo salão, além das galerias de ex-presidentes e de trofeus conquistados pela sociedade ao longo dos anos.
As chamadas festas de tiro eram comuns, segundo ele. Em eventos do tipo eram escolhidos os reis da modalidade em diferentes provas. Elas eram disputadas em edições internas e entre sociedades de outros bairros e cidades vizinhas.
A fundação da Sociedade de Atiradores surgiu da união de integrantes de outros clubes semelhantes. Muitos dos fundadores eram dissidentes do Clube Caça e Tiro Araújo Brusque.
Mudança de nome
A primeira edificação do local foi feita entre 1932 e 1935.Quando a sociedade inaugurou o prédio onde estão as quatro pistas de bolão, bar, cozinha e sala de trofeus, o antigo salão foi desmanchado para a ampliação do estacionamento.
Assim como outras sociedades de tiro, a Ipiranga passou por dificuldades entre o fim da década de 1990 e o início da primeira década dos anos 2000.
De acordo com ele, as provas de tiro passaram a receber um controle maior por parte dos órgãos de segurança. Eventos organizados com provas do tipo também precisaram ser cancelados. Para evitar represálias, a decisão foi por adotar o nome de Sociedade Beneficente Ipiranga.
Na época, a restrição foi vista com surpresa por Volkmann. De acordo com ele, além da mudança de nome, os eventos precisaram ser alterados e as provas de tiro não foram mais realizadas. “Foi até assustador para nós por não termos armas na associação. Só tínhamos uma arma, com um responsável do clube, voltada para o tiro esportivo”.
A decadência
Com o passar dos anos, a dificuldade financeira foi agravada pela perda do interesse e participação comunitária na entidade. O espaço limitado impediu a migração das atividades para práticas esportivas mais populares.
Para o ex-presidente, a redução do fluxo tem influência na mudança cultural e crescimento do município. Um agravante foi a falta de limitação da profissionalização das organizações dos eventos. Com a necessidade de terceirizar os serviços, as programações se tornaram mais caras e consideradas inviáveis.
Para Volkmann, os esforços para manter a entidade em funcionamento são válidos. Destaca a possibilidade destes espaços como alternativas para a ocupação de jovens e preservação de vínculos entre a sociedade. “Acabar com as sociedades, seria perder o espírito comunitário e ficar restrito ao convívio familiar”.