Garagens registram procura por clientes querendo se desfazer de carros financiados
Com crise financeira, muitas pessoas buscam se livrar das prestações na negociação e sair com um carro mais barato
As concessionárias e garagens de veículos de Brusque registram cada vez mais procura pela “troca com troco”. Neste tipo de transação, o cliente dá um carro de maior valor e sai com outro mais barato. Geralmente, quem quer fazer este tipo de negócio tem o objetivo de se livrar do financiamento do automóvel ou ficar com um dinheiro extra.
Um exemplo aconteceu recentemente na Schroeder Automóveis. Roberto Schlindwein, administrador, conta que um homem chegou com uma Tucson ano 2011 que valia R$ 38 mil. O automóvel estava financiado e ele queria transferir a dívida, por isso o entregou e na troca levou um Fiat Uno de 2013, avaliado em R$ 22 mil.
Esta espécie de negócio nem sempre é vantajosa, mas está ficando cada vez mais comum por causa da crise financeira. Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) divulgada na semana passada mostrou que a inadimplência aumentou mais de 10% na comparação entre junho de 2016 e de 2015.
Endividadas, as pessoas veem na “troca com troco” a chance de se desafogar financeiramente. Segundo o administrador da Schroeder Automóveis, o estabelecimento recebe, em média, três propostas deste tipo mensalmente. Na maioria dos casos, o motivo alegado é se livrar de dívidas.
Ele afirma que a negociação é mais complicada porque o dono do veículo, de modo geral, pede um valor mais alto. Entretanto, muitas vezes não compensa para a garagem, que faz contraproposta, que nem sempre é bem aceita. “O que acontece muito também é o carro não pagar a dívida toda”, afirma Schlindwein.
Captação de recursos
Embora a maioria das negociações de “troca com troco” seja realizada por causa de dívidas, há outras possibilidades. Uma delas é a captação de recursos, no bom português, pegar dinheiro. Ambrósio Mafra Neto, dono da Bóca Mafra, afirma que recebe propostas todos os dias.
Segundo ele, os clientes nem sempre buscam se livrar do financiamento. Há muitos casos em que o consumidor quer pegar dinheiro na volta. “O juro do carro é um dos mais baixos, é um meio para pegar dinheiro para capital de giro, por exemplo”, afirma Mafra Neto.
Ele frisa que a transação com o carro é rápida. Em alguns casos, é possível que a pessoa faça a transação num dia e no outro já esteja com dinheiro na mão ou com o outro veículo. A facilidade e rapidez são os atrativos para quem busca levar o capital de giro.
Mais procura
O proprietário da Carminati Multimarcas, Giovani Carminati, afirma que a procura da “troca com troco” está mais comum nos últimos meses. “Não era comum, mas está ficando. Aumentou de oito meses a um ano para cá”.
Segundo ele, a maioria das pessoas que procura este tipo de negócio quer se livrar das parcelas de financiamento. “Para o particular, é interessante porque ele se livra da prestação e evita até uma busca e apreensão no carro. Daqui dois ou três anos, quando ele estiver melhor, compra outro carro”, diz Carminati.
As concessionárias também aceitam a troca com troco. A Geração Hyundai, de Brusque, recebe, a cada mês, de três a quatro propostas de pessoas que querem trocar o seu carro de maior valor por outro mais barato.
O gerente Flávio Matias Piva afirma que, de modo geral, o caso é de endividamento. “Antigamente, o consumidor nessa situação queria pegar algum dinheiro porque estava comprando um imóvel. Agora, vemos que quer acabar o financiamento ou baixar o valor da parcela”.
De acordo com o gerente, neste momento de crise é comum que os clientes apareçam com carros mais caros e queiram trocar por um HB20. O modelo é um sucesso da Hyundai porque é mais barato e, ao mesmo tempo, tem custo mais baixo de manutenção. “Também tem quem queira trocar dois carros por um, para economizar”.
Cautela em meio ao desespero
O gerente da Geração Hyundai diz que nem sempre é interessante para o consumidor trocar o seu carro por outro mais barato. Piva afirma que, às vezes, a prestação cai apenas R$ 100 ou R$ 150. Na prática, não seria vantajoso. Segundo ele, os clientes nesta situação são orientados a não negociar o automóvel.
A mesma leitura é feita pelo gerente da Renault Automega, Ricardo Cavilha. A concessionária também faz a “troca a troco”, mas é raro. Cavilha afirma que, na maioria dos casos, não é interessante para o consumidor ou para a concessionária. Segundo ele, “sempre tem procura” por este tipo de negócio.
“Bom de venda”
O que as concessionárias e garagens levam em conta na hora de aceitar um carro mais caro é se ele é “bom de venda”, ou seja, se vende rápido. Para as empresas, não é interessante ficar com um carro encalhado. Elas querem um modelo confiável, conhecido e que esteja em bom estado de conservação.
Quando o carro atinge estes pré-requisitos, a negociação pode ter início. Entretanto, as concessionárias também precisam levar algum lucro porque elas sobrevivem deste tipo de negócio. Inevitavelmente, há alguma variação no valor. Mas negociando bem é possível chegar a um acordo, segundo as pessoas do ramo.