Gazeta Brusquense, um crime horroroso: o assassino – parte III
A vítima tinha sido identificada. Mas, era preciso descobrir o autor do bárbaro crime acontecido no dia 17.01.1926, que assustou a pequena Brusque. Uma certeza, tinha a autoridade policial. Tratava-se de um latrocínio, crime em que se mata para roubar. O criminoso havia roubado 1 conto e 357 mil réis, importância que representava três anos […]
A vítima tinha sido identificada. Mas, era preciso descobrir o autor do bárbaro crime acontecido no dia 17.01.1926, que assustou a pequena Brusque. Uma certeza, tinha a autoridade policial. Tratava-se de um latrocínio, crime em que se mata para roubar. O criminoso havia roubado 1 conto e 357 mil réis, importância que representava três anos das economias feitas, com muito sacrifício, pela vítima Luiz Minella, um jovem ferreiro encontrado com a garganta cortada numa capoeira da Nova Itália.
Para a Gazeta Brusquense, pairava no ar um grande mistério. Quem teria sido “a fera humana”, capaz de tamanha violência, “de tão impressionante e horroroso crime”? Realmente, não havia registro de crime tão grave praticado na cidade de Brusque, então, já com 65 anos de fundação. Nos primeiros tempos, houve ataques de índios dos quais resultaram algumas poucas mortes de colonos. Houve, também, caçadas impiedosas, autênticas ações genocidas contra nossos indígenas. Mas, consolidado o processo colonizador, o conflito com os indígenas deslocou-se para áreas mais distantes de Brusque.
Quanto ao latrocínio aqui referido, foi fácil chegar ao seu autor. Na véspera, a vítima tinha passado o dia e emprestado dinheiro a um tal de Carlos Noldin, logo visto como o principal suspeito. Para a Gazeta, que publicou ampla reportagem investigativa sobre o fato criminoso, a suspeita se transformou em certeza quando se constatou que, amigo e devedor, Carlos Noldin não compareceu ao velório nem “acompanhou o enterro da infeliz vítima”.
E, então, a Gazeta traça um macabro perfil de Carlos Nolin, um indivíduo “repudiado pela sociedade, briguento, de péssimos antecedentes, malquisto até por seus familiares”. No sinistro retrato criminográfico de um suspeito ainda sendo investigado, escreve o jornal que Noldin usava “uma cinta repleta de armas”, com a intenção, “segundo confessava, de matar”. Carregando nas tintas, diz a reportagem que esta é “a figura asquerosa do cobarde assassino que degolou um pobre rapaz para roubar o fructo do seu trabalho”.
Tempo de justiça rápida e prisão preventiva obrigatória, Carlos Noldin foi preso pelo único policial da cidade, que contou com a ajuda, assim era naquela época, de “dois bondosos cidadãos”. Logo, teve início o interrogatório, ocasião em que o acusado “falou com uma calma própria de innocente”, dizendo que, por ter sido amigo vítima Luiz Minella, seria “incapaz de commeter contra o mesmo um assassinato”.
Porém, de indício em indício, a justiça enche o papo de provas. Informa a Gazeta que, “graças à competência do Dr. Juiz de Direito, ficou insoffismavelmente provado que Noldin não era innocente” e o autor do crime mais violento até então praticado na terra fundada pelo Barão de Schnéeburg permaneceu na prisão para julgamento pelo Tribunal do Júri.
Nota: A Gazeta Brusquense pode ser consultada na Casa de Brusque.