Gazeta Brusquense, um crime horroroso: a vítima – parte II
Um bárbaro crime tinha acontecido na localidade da Nova Itália, na madrugada do já distante domingo, 17 de janeiro de 1926. E a Gazeta Brusquense, único jornal da cidade, num tempo sem rádio nem TV, muito menos internet, cumpriu o seu dever de informar seus leitores, publicando extensas reportagens sobre o terrível assassinato.
Cidade pequena, onde todos se conheciam e cumprimentavam, não foi tarefa difícil descobrir que Luiz Minella, jovem com 22 anos, havia sido a vítima do mais bárbaro assassinato até então praticado em nossa cidade. Seu corpo tinha sido encontrado na capoeira com o pescoço cortado a golpe de arma branca. Numa cidade de ordem e trabalho, a primeira preocupação do jornal foi informar que Minella fora aprendiz de ferreiro, na oficina de Sebastião Belli. Ali, batendo e retorcendo o ferro incandescido, aprendera a dominar essa importante profissão, sonhando com um emprego certo e um futuro promissor.
Tempo de poucos automóveis e de muitas carroças e carros de mola, a ferraria da família Belli era bastante conhecida na cidade. Seus profissionais, em meio ao calor das forjas incandescentes, de marreta nas mãos, uma no cravo e outra na bigorna, marcaram a vida econômica brusquense, fabricando ferraduras, aros para rodas de carroça e outras peças de aço e ferro, contribuindo para o progresso desta cidade. Depois, veio o automóvel para entulhar nossas ruas de veículos que poluem o ar, fazem barulho para agredir nossos tímpanos, nos escravizam e não nos deixam caminhar.
Foi naquela escola, forja de muitos profissionais do ferro, que a vítima havia trabalhado duro para aprender a profissão, Após o aprendizado, já dominando a arte de malhar o ferro, o jovem Luiz passou a trabalhar na Ferraria de Leo Belli. Excelente oficial-ferreiro, daqueles que conseguiam permissão do proprietário para fazer biscates, diz o jornal que Minella “com esforços e honradez”, teria economizado algum dinheiro que, infeliz fatalidade, viria a ser o objeto da ganância criminosa que lhe tirou a vida. Para a Gazeta, todos os que conheciam “a infeliz victima estavam a lastimar o bárbaro crime”, que ceifou a vida de um “filho exemplar, de um amigo por todos estimado, de conducta, de um caráter sério e honrado”.
O corpo da vítima, assassinada na manhã de domingo, somente foi levado à delegacia, no final da tarde de terça feira. A notícia do crime, diz o jornal, “consternou profundamente a população brusquense, horrorizada ante crime tão bárbaro”. No entanto, nem sempre o horror é capaz de espancar a curiosidade popular. Assim, por volta das seis da tarde, muita gente postava-se à cabeceira da ponte central, então chamada Vidal Ramos.
Cidade pequena, grande curiosidade! Assim,quase toda a população ali estava para ver a passagem do “caixão mortuário”.
Nota: A Gazeta Brusquense pode ser consultada, em sua versão digitalizada, na Casa de Brusque.