Gente do campo: plantação de milho dá sustento a agricultores em Guabiruba; conheça histórias
Plantação do cereal no município tem função diferenciada, servindo para alimentar animais
Plantação do cereal no município tem função diferenciada, servindo para alimentar animais
Vivendo e trabalhando em paisagens com pastos verdes, animais bem cuidados e famílias envolvidas no trabalho. Essas são as vidas de Fabiano Petermann e Lucas Boos, dois homens que se mantém firmes trabalhando na agricultura local. Os dois possuem lavouras em Guabiruba e fazem da plantação de milho, um dos principais produtos cultivados no município.
O milho para os dois agricultores possui uma função diferente no mercado. Em vez de optar pela venda do cereal, os agricultores o utilizam para praticar o método de silagem. A prática se trata da conservação da forragem e tem como uso principal, a alimentação dos animais. A formação consiste na planta inteira de milho picada, com folhas, colmo, sabugo e grãos.
O processo é importantíssimo nas lavouras pois pode ser utilizado como alimento para os animais durante o ano inteiro, já que nem sempre o pasto está nas melhores condições para consumo. Para uma fermentação completa, é recomendado que a silagem fique isolada em uma lona por volta de 28 dias. Após pronta, ela pode ficar armazenada por volta de dois a três anos sem perder a qualidade e os benefícios.
A lavoura de Lucas está localizada no bairro Aymoré, no interior de Guabiruba. Bisneto do colono Jacó Boos, irmão do ex-prefeito Carlos Boos, o agricultor de 30 anos já é a quarta geração da família a viver do campo.
“Não tive como fugir do destino, e nem quero. Minha vida sempre foi as plantações da família. Meu bisavô Jacó ensinou para meu avô José Carlito, que preparou meu pai Moacir (ex-secretário de Agricultura de Guabiruba de 2013 a 2018), que me ensinou tudo que sei”, comenta.
Com uma lavoura diversificada entre milho, vegetais e criação de gado, Lucas, que é pai de três filhos, vem apostando a cada ano em novas tecnologias e ideias inovadoras para a lavoura da família. Ao entrar no terreno, é possível observar o local onde ficam as “lonas” que guardam a silagem produzida por Lucas.
Em um mercado onde cada detalhe faz a diferença, o agricultor diz que toda melhora traz resultados no futuro. Uma boa plantação de milho faz uma boa silagem, que futuramente alimentará (com qualidade) um animal. A soma dos fatores implicará na qualidade da carne após o abate.
“Hoje o agricultor não precisa mais enfrentar dias ruins, de chuva, para encontrar o verde (pasto) para tratar os animais. Com a silagem, tudo se facilitou, foi uma grande modernização na agricultura mundial”, diz Lucas.
Embora a “safra de verão” do milho só aconteça em agosto, Lucas diz que já realizou na plantação, uma cobertura verde com trigo, após o gado realizar a raspagem do pasto.
Sempre buscando novas tecnologias para melhorar os negócios, o guabirubense afirma que a lavoura recebe visitas técnicas da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) mensalmente, e que procura conhecer as novas tendências do mercado.
“Sempre buscamos trabalhar com uma semente da melhor qualidade e o resultado está abaixo desta lona ao meu lado. Uma grande silagem tirada da nossa lavoura. Nunca foi tirada tanta silagem quanto na última “safrinha” que tivemos”, salienta.
No segundo semestre de 2022, a plantação irá receber um teste de uma nova técnica, o plantio direto. Diferente da cultura praticada na Europa e que foi trazida pelos colonizadores, Lucas diz que a nova ideia busca não mexer na terra. Essa ação será uma novidade após gerações da família realizarem o plantio com alterações no solo.
“A Europa é um continente gelado e nevado. Com a neve, a terra queima. Orientados pela Epagri, nós vamos dissecar toda essa terra e vamos vir direto com a semente. Isso irá evitar erosão e a terra ficará úmida (as plantas ressecadas devolvem a água para o solo). Além disso, quando o sol bater, ele irá tirar os nutrientes. Já as raízes irão ajudar na descompactação do solo, o que só resulta em ganhos, conta Lucas.
Além da plantação, a lavoura conta 15 novilhas soltas no pasto, o que fez Lucas repensar no rumo que os negócios estavam tomando. Com curso de inseminação artificial de animais no currículo desde os 18 anos, o agricultor viu que poderia fazer mais.
“Só pegávamos gado magro para engordar e vender. Porém, o custo da ração foi ficando alto e, como percebi que não faltava nada aqui para realizar a criação, começamos”, diz.
Lucas então comprou sêmen de touros de alta qualidade e inseminou nas novilhas. Com o protocolo correto feito em todos os animais, o agricultor espera o nascimento dos bezerros em novembro, já que realizou as inseminações praticamente no mesmo dia. Com tudo calculado perfeitamente, Lucas consegue prever o nascimento dos terneiros e o tempo certo para engordá-los até a venda.
O agricultor também é açougueiro e trabalha com defumados há cinco anos. Ao lado da plantação, fica a parte industrial do açougue que também produz frescal.
“Fazemos calabresa, linguiças, bacon e linguiças tradicionais para cachorro-quente. Antes esse negócio tomava mais minha atenção, mas agora temos mais funcionários. Sendo assim, consigo cuidar melhor do gado e das plantações”, conclui.
Rica em proteínas e uma ótima alimentação para os animais, a silagem tem também um papel especial na lavoura na propriedade da família Petermann. A granja fica localizada no Lageado Baixo, em Guabiruba, praticamente no limite com a localidade da Cristalina, em Brusque.
Conhecida por produzir nata e queijinhos famosos na região, a Granja de Leite Petermann utiliza a silagem para alimentar as vacas leiteiras. Com uma plantação de três hectares de milho, mais sete hectares em um terreno alugado, Fabiano Petermann, que comanda a granja, lembra que as coisas nem sempre foram assim.
“Se fosse igual antes, quando tínhamos que ir atrás do pasto e do “verde” para as vacas, eu não teria a quantidade de vacas que tenho hoje (35). Agora fica mais fácil cuidar dos animais, ainda mais que estamos aqui todos os dias, sem falta”, diz o agricultor.
Na lavoura da família não importa o dia, o compromisso ou o clima, a rotina permanece igual. Todos os processos precisam estar prontos até as 5h, horário em que se inicia a ordenha das vacas.
Preocupado em ter na propriedade uma silagem de qualidade, o agricultor lembra que cada detalhe na plantação do milho é importante para que os produtos mantenham um padrão de qualidade esperado pelos clientes. Uma alimentação rica em nutrientes deixa uma vaca saudável, fazendo com que o leite produzido por ela seja diferenciado.
“Tudo muda quando fazemos o nosso melhor. Tenho uma vaca aqui que chegou a produzir mais de 30 litros de leite em um dia. A cada ano que buscamos melhorar, os animais produzem mais. O mundo mudou, se modernizou, e não podemos ficar parados no tempo”, diz Fabiano.
Além do agricultor, seu pai, José Carlos Petermann, e sua mãe, Maria Salete Petermann, trabalham na terra. Outros membros da família também ajudam durante os intervalos das atividades. Maria Salete é responsável pela produção de queijo e nata, que são extraídos do leite de vaca.
A família vive da agricultura, já que José Carlos cresceu vendo sua mãe (avó de Fabiano) cuidar dos animais. A família chegou a plantar tabaco para a Souza Cruz por um tempo, porém, a prática foi deixada de lado.
Fabiano lembra que uma produção de qualidade traz reconhecimento. Embora distante de algumas localidades, o agricultor diz que existem pessoas que viajam de longe para conhecer e comprar os produtos coloniais da família.
“Isso não tem preço. Esse retorno dos clientes faz pensar que estamos no caminho certo. Nos importamos desde o início, desde a escolha da semente do milho, para que ele se transforme em uma boa silagem para nossos animais. Ele é muito importante em todo o processo”, diz.
Atualmente focados na produção do queijinho e da nata, a família alega que a demanda é maior que a capacidade de produção, visto que tudo depende dos animais.
Porém, mesmo com desafios que possam aparecer, não planejam deixar a vida no campo. A granja da família também é uma das únicas da região a contar com o certificado de estabelecimento de criação livre de brucelose e tuberculose.
“Para nós não há tempo festivo e feriados. Os animais e as plantações precisam de nós todos os dias, fazem parte dos nossos dias. Estamos felizes aqui e queremos seguir nesse caminho, fazendo parte da mesa e da vida das pessoas”.