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Graciliano Ramos e sua carreira política

O final de 2024 se aproxima. Acabamos de viver eleições municipais, e em pleno processo eleitoral já se observavam os movimentos para as eleições estaduais e federais. A bem da verdade, as composições para as eleições municipais apontaram claramente o jogo de “quebra-cabeça” e estratégia política para ajudar a garantir votos e cabos políticos para […]

O final de 2024 se aproxima. Acabamos de viver eleições municipais, e em pleno processo eleitoral já se observavam os movimentos para as eleições estaduais e federais. A bem da verdade, as composições para as eleições municipais apontaram claramente o jogo de “quebra-cabeça” e estratégia política para ajudar a garantir votos e cabos políticos para as eleições de 2026. Enquanto eleitores, precisamos ficar atentos a essas mobilizações. Afinal, não podemos “engolir” mais uma e depois sair posando de vítimas. Também somos responsáveis pelo processo e resultado eleitoral, e só deveríamos eleger políticos que realmente estivessem aptos a servir o povo, e não a servir aos seus próprios interesses ou aos interesses de grupos específicos.

“Política é política”, e não muda rapidamente… para ilustrar a expressão, compartilho com o leitor fatos que se passaram faz quase 100 anos e ainda continuam atuais. As linhas a seguir são o resultado da adaptação do texto “Manual do bom político”, escrito por Lorenzo Aldé.

“Irônico e contundente, um prefeito ilustre tem muito o que ensinar a candidatos e eleitores. Conheça Graciliano Ramos, o administrador, em todo o seu estilo, através dos seus relatórios.

Interior das Alagoas, 1926. Um prefeito é assassinado no meio da rua por um fiscal tributário. O delegado de polícia persegue o fiscal e o executa. No ano seguinte haverá eleições municipais. Os caciques locais, no poder há quatro décadas, decidem lançar candidato um cidadão inexperiente. Ele reluta, recusa, mas, açoitado por maledicências (“tem é medo de fracassar”), sua hombridade fala mais alto, e o homem candidatou-se.

Sequer fez campanha. Foi eleito à moda da época. “Assassinaram o meu antecessor. Escolheram-me por acaso. Fui eleito naquele velho sistema das atas falsas, os defuntos votando”. O que esperar de um processo que transcorreu desse modo, na terra dos coronéis, em plena República Velha? Tudo, menos um administrador público exemplar, futuro grande nome da nação.

O nome é Graciliano Ramos, ele mesmo, o escritor! E ainda que não tivesse obtido consagração literária – coisa pouca: Memórias do cárcere, Vidas secas, São Bernardo…, sua breve carreira de prefeito em Palmeira dos Índios já mereceria registro. Tanto que na época virou assunto até em jornais do Rio de Janeiro. De onde veio tamanha repercussão? De seus escritos, mas não os literários, os quais teve que deixar de lado para dedicar-se ao cargo público que lhe caiu no colo.

Valeu a pena. O que redigiu, entre 1929 e 1930, foram relatórios anuais para o governador de Alagoas, Costa Rego, prestando contas de sua gestão. Duas pérolas de estilo, ironia e sagacidade.

Quase um século depois, os documentos têm o frescor de uma fotografia digital. E a utilidade de um verdadeiro manual de decência na administração pública, tanto pelo que fez e como se comportou, quanto pelo que deixou de fazer e criticou – todos os vícios do modus operandi tradicional de nossa política. O ensinamento de Graciliano Ramos, no que se refere a política, se resume em seis lições: impor autoridade; nepotismo é palavra a ser riscada do caderninho; conhecer as leis; gerenciar bem os recursos; priorizar os desvalidos, e apaixonar-se! Ainda conforme Aldé, o escritor teria dito em seus relatórios:

“Para os cargos de administração municipal escolhem de preferência os imbecis e os gatunos. Eu, que não sou gatuno, que tenho na cabeça um parafuso de menos, mas não sou imbecil, não dou para o ofício e qualquer dia renuncio”. Renunciaria, sim, mas só dois anos depois”.