Graf Zeppelin e Hindenburg: relembre a passagem dos dirigíveis alemães por Brusque e região na década de 1930

Dirigíveis eram utilizados como ferramenta de propaganda nazista no Brasil

Graf Zeppelin e Hindenburg: relembre a passagem dos dirigíveis alemães por Brusque e região na década de 1930

Dirigíveis eram utilizados como ferramenta de propaganda nazista no Brasil

No início do século XX, os dirigíveis eram considerados uma das maiores conquistas tecnológicas da humanidade. Na década de 1930, os moradores de Brusque tiveram a oportunidade de observar dois dos maiores dirigíveis da época: o Graf Zeppelin e o Hindenburg.

Embora sua passagem tenha sido documentada no município, o Graf Zeppelin não pôde ser visto pelos moradores devido ao mau tempo. Já o Hindenburg ficou marcado na história, pois foi visível com clareza por toda a região.

Considerados marcos da aviação, os dois conectaram a Europa à América do Sul nos anos 1920 e 1930. Em 1934, o empresário Carlos Renaux, de Brusque, viajou no Graf Zeppelin, que sobrevoou os municípios do Vale do Itajaí, deixando moradores fascinados.

Dois anos antes (1932), Renaux já havia voado no mesmo dirigível, mas com um trajeto diferente: foi de Hamburgo (Alemanha) até o Rio de Janeiro.

Diferente do Graf Zeppelin, o Hindenburg exibia em suas caudas a suástica, símbolo do nazismo. Apesar do contexto político, as viagens para o Brasil continuaram, consolidando a conexão aérea entre a Europa e a América do Sul.

Graf Zeppelin

O LZ-127, conhecido como Graf Zeppelin, foi um marco na história da aviação. Em 1900 ele foi considerado o primeiro dirigível experimental de sucesso. A primeira decolagem aconteceu em um hangar flutuante no Lago de Constança, no sul da Alemanha.

O seu voo inaugural ocorreu em 1928, ligando Frankfurt a Nova York, com uma duração de 112 horas. Já os voos comerciais entre o Brasil e a Alemanha começaram em 1930.

O dirigível foi batizado com o nome Graf Zeppelin em 8 de julho de 1928 pela condessa Helena von Brandenstein-Zeppelin, filha do conde Ferdinand von Zeppelin. Embora fosse um modelo experimental, a aeronave operou por 9 anos.

Com 236 metros de comprimento, estrutura de duralumínio e 17 células de hidrogênio, o Graf Zeppelin voava a 110 km/h. Sua capacidade inicial era de 20 passageiros, que logo aumentou para 40, e a tripulação contava com 36 pessoas.

Foto do Graf Zeppelin, quando esteve no Rio de Janeiro, em 1932. Carlos Renaux voou nele | Foto: Acervo da família Renaux

Segundo o historiador e pesquisador Cristiano Rocha Affonso Costa, que participa do documentário “O Dirigível“, o líder da Companhia Zeppelin, Hugo Eckener, desempenhou papel crucial nas operações.

Em 1929, sob o comando de Eckener, o Graf Zeppelin completou sua primeira volta ao mundo em 21 dias, percorrendo 34,6 mil km. No retorno de Tóquio, uma tempestade sobre o oceano interrompeu a comunicação por dois dias, gerando especulações sobre seu desaparecimento.

O alívio chegou com o restabelecimento do contato e, ao voltar à Alemanha, a tripulação foi recebida com uma celebração apoteótica.

Anos depois, em 1932, o Cônsul Carlos Renaux, fundador da indústria têxtil em Santa Catarina e ilustre morador de Brusque, fez a travessia do Atlântico a bordo do Graf Zeppelin, na rota Frankfurt – Recife – Rio de Janeiro.

A viagem histórica foi amplamente coberta pela mídia e documentada no filme “Flying Down to Rio 1932”, produzido pela British Pathé.

Carlos Renaux a bordo do Graf Zepellin em 1932 | Foto: reprodução

A viagem durava três dias (5000 milhas), passando por Cabo Verde, Fernando de Noronha, Recife, Salvador e finalmente Rio de Janeiro. Na época, Carlos Renaux tinha 70 anos e realizou o sonho de muitos: viajar a bordo de um dirigível.

 

Primeira aparição na região

Em 1934, o Graf Zeppelin sobrevoou Brusque, mas o mau tempo impediu que a população o visse com clareza. Por esse motivo, as fotos da passagem dele e do Hindenburg (que foi realmente avistado em Brusque) acabam sendo confundidas.

Quando o tempo melhorou, Blumenau teve uma visão mais nítida do dirigível. Relatos da época indicam que o Graf Zeppelin surgiu por volta das 6h45, sendo anunciado pelo som dos motores.

Graf Zeppelin em Blumenau em 1934 | Foto: Blog Adalberto Day

A notícia de que o Graf Zeppelin passaria por Blumenau se espalhou rapidamente e a população se preparou para recebê-lo com bandeirinhas. O dirigível sobrevoou o Morro do Aipim a 120 km/h, passando sobre o rio Itajaí-Açu.

Durante alguns minutos, ele permaneceu sobre o centro da cidade, antes de seguir para ‘as Itoupavas’. À noite, o Graf Zeppelin retornou, desta vez em alta velocidade, seguindo para Itajaí. 

Em novembro de 1935, o Graf Zeppelin aguardou cinco dias sobre o Atlântico próximo a Recife, devido à instabilidade política provocada pela Intentona Comunista, um movimento armado que ocorreu no Brasil entre 23 e 27 de novembro daquele ano. O objetivo era derrubar o governo de Getúlio Vargas e instalar um governo comunista no país.

Ao todo, o dirigível fez 590 voos, somando 17 mil horas no ar e transportando 34 mil passageiros. O último voo ao Brasil foi em 4 de maio de 1937, de Recife para Frankfurt, e o voo final ocorreu em 18 de junho de 1937, de Friedrichshafen para Frankfurt.

A sua passagem por Blumenau foi tão marcante que recebeu uma homenagem em um carro alegórico da 39ª Oktoberfest de Blumenau, o Luftschiff Gruppe.

Brusque e o Hindenburg

O LZ 129 Hindenburg foi um dos dirigíveis mais notórios da história, construído pela Luftschiffbau-Zeppelin GmbH, na Alemanha. Considerado a maior nave que já voou na história, tinha 249 metros de comprimento, 41 de altura e transportava 70 passageiros.

Finalizado em 1936, era projetado para usar hélio, mas foi abastecido com hidrogênio devido a restrições dos EUA. Seus motores Daimler-Benz garantiam velocidade de cruzeiro de 125 km/h, com autonomia de seis dias no ar.

“O Hindenburg fez seu primeiro voo ao Brasil em 31 de março de 1936. Depois, seguiu para a América do Norte”, explica Cristiano. Foram 63 voos, com 17 travessias do Atlântico — 10 para os EUA e sete para o Brasil.

Em 30 de março de 1936, inaugurou a linha regular para o Rio de Janeiro, e em 1º de dezembro sobrevoou Brusque às 5h da manhã. A colônia alemã recebeu a passagem com entusiasmo, vendo-a como homenagem da Companhia Zeppelin aos imigrantes no Brasil.

A expectativa era enorme, especialmente pela conexão da cidade com a Alemanha e pelas viagens do cônsul Carlos Renaux a bordo do Graf Zeppelin em 1932 e 1934.

Ursula Rombach, moradora de Brusque e também participante do documentário “O Dirigível“, relembra: “eles fizeram com que nós nos levantássemos para ver essa coisa formidável que era o dirigível alemão. Enorme. Silencioso. Majestoso”.

O jornal O Progresso registrou o momento: “a aeronave voa por sobre a cidade. O povo saúda-a enquanto passa a grande altura. Lenços se agitam, palmas reboam, frases de entusiasmo se ouvem”.

Uma foto famosa mostra o Hindenburg sobre o Palacete Carlos Renaux (atual Praça Barão de Schneeburg), mas, anos depois, descobriu-se que era uma montagem feita a pedido do próprio Carlos Renaux. Esse tipo de montagem era comum na época e muitas cidades catarinenses repetiram a ideia. 

Montagem que mostra o dirigível sobrevoando o Palacete Renaux | Foto: Waldemar Scharf

Propaganda nazista

É fato que a partir de 1933, os dirigíveis Zeppelin foram utilizados como ferramentas de propaganda pelo regime nazista, com o ministro da propaganda Joseph Goebbels usando o Graf Zeppelin para voar até Roma, onde teve seu primeiro encontro com o governo fascista da Itália.

Diferente do Graf Zeppelin, que foi produzido antes de Hitler assumir o chancelerato da Alemanha, o Hindenburg exibiam em suas caudas pinturas das bandeiras da Alemanha nazista, com a suástica em destaque. 

Segundo o jornalista e escritor Carlos Braga Mueller, a passagem dois dos maiores símbolos da conquista do espaço aéreo pelos alemães na região de fato revelou a importância que a área tinha aos olhos de Adolf Hitler, “cujos sonhos de grandeza incluíam a conquista do universo”.

Segundo uma lenda citada pelo escritor, o sobrevoo sobre o Vale do Itajaí em 1934 com o Graf Zeppelin (que não tinha a suástica na cauda), teria sido para mapear um terreno nas proximidades de Hansa-Hammonia (hoje Ibirama), onde Hitler pretendia construir seu “Ninho de Águia” no Brasil.

“Para disfarçar a intenção, o comandante Hugo Eckener teria parentes em Hansa-Hammonia, e a história divulgada foi de que ele aproveitou a ocasião para visitá-los do alto. De fato, ao passar por Blumenau, o dirigível seguiu em direção ao médio e alto Vale do Itajaí. O que é verdade e o que é mito? Certamente, jamais saberemos com certeza. Os que viveram naquela época não estão mais aí para contar, e os arquivos nazistas foram confiscados e destruídos pelos aliados”, diz Carlos.

Hindenburg nos Estados Unidos em 1936. Dirigível tinha pinturas de bandeiras das suásticas nazistas na cauda | Foto: Wide World Photos/Minneapolis Sunday Tribune | Domínio público

Explosão

A última viagem do Hindenburg ocorreu em 6 de maio de 1937, com destino aos Estados Unidos, mais precisamente a Lakehurst, Nova Jersey. Durante manobras de pouso, a aeronave pegou fogo às 19h30.

A bordo, estavam 36 passageiros e 61 tripulantes. Em apenas 30 segundos, a destruição foi total. Treze passageiros, 22 tripulantes e um técnico em solo morreram.

Enquanto isso, o Graf Zeppelin retornava à Europa, sobrevoando as Ilhas Canárias, após sua última visita ao Brasil. Seus passageiros só souberam da tragédia após o pouso na Alemanha.

Gus Pasquerella

A Companhia Zeppelin atribuiu a falha humana ao acidente. Uma manobra brusca antes do pouso causou o rompimento de um tanque de hidrogênio, e uma faísca gerou o incêndio. Após o desastre, não houve mais viagens de passageiros à América do Sul.

O acidente foi documentado no filme “Hindenburg Disaster: Real Zeppelin Explosion Footage (1937)”, também produzido pela British Pathé.

Após o incêndio do Hindenburg, em 1937, a companhia encerrou suas atividades. “A Zeppelin começou e terminou sua história com acidentes causados pela eletricidade estática, que incendiou o hidrogênio nos dirigíveis”, explica Cristiano.

Documentário

Para conhecer mais sobre a história dos dirigíveis no mundo, assista ao documentário “O Dirigível”, disponível no canal do YouTube da Griô Filmes. Produzido com recursos próprios, o documentário aborda a trajetória dos dirigíveis e conta com depoimentos de moradores de Brusque. A direção e produção é de Alessandro Vieira, Carlos Alexandre Martins e Saulo Adami (escritor do roteiro). 

O jornal O Município teve acesso as entrevistas e as informações presentes no roteiro original (concluído em 2016), que serviram de base para esta reportagem. O texto está registrado no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

 


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Kai-Fáh: Luciano Hang foi dono de bar em Brusque, onde conheceu sua esposa:


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