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Greve dos caminhoneiros concentra debates no 13º Dominó do Bóca Cunha

Evento foi prestigiado por deputados, empresários e membros do Judiciário

O tradicional Dominó do Bóca Cunha ocorreu neste sábado, 26, apesar da greve dos caminhoneiros. O evento chegou a sua 13ª edição e reuniu mais de 100 duplas, contudo, o principal, como sempre, foram as conversas. Desta vez, o principal assunto foram as paralisações.

O número de políticos de renome nacional caiu devido à greve. Porém, o Dominó ainda foi frequentado por membros e ex-integrantes do Judiciário, empresários, representantes da sociedade civil organizada e políticos de diversas regiões do estado e do país.

O anfitrião José Luiz Cunha, o Bóca, explicou que não cancelou o evento porque sabia que os convidados apareceriam. “Mesmo com essa paralisação, o evento aconteceu. Vejam bem o que é gostar e apreciar um esporte. Passamos de 100 duplas e tivemos de 400 a 450 participantes”.

Bóca Cunha discursa antes de homenagem | Foto: Marcos Borges

Bóca Cunha já foi prefeito de Brusque e deputado estadual. Ao longo da vida pública, fez amigos e colegas que, invariavelmente, participam do evento. É o caso do ex-governador e deputado federal Esperidião Amin (PP), por exemplo, que é figura carimbada.

O deputado federal Décio Lima (PT) também compareceu. Ele participa do Dominó do Bóca há anos e diz que é um momento de congraçamento. O prefeito de Guabiruba, Matias Kohler, compareceu junto com o vice Valmir Zirke – ambos do PP.

Outro que compareceu foi o deputado estadual Serafim Venzon (PSDB). “O Dominó do Bóca já está no calendário de Santa Catarina como um evento importante. Muita gente vem conhecer Brusque, os trabalhadores e os empreendedores”, afirmou.

Empresários prestigiaram o evento em peso. Juliano Schumacher, proprietário da Guabifios, afirmou que o Dominó é uma oportunidade de rever pessoas conhecidas.

Além das rodas de conversa, o evento teve o torneio que reuniu mais de uma centena de duplas de vários lugares. Também foi servido café da manhã e café da tarde para os convidados e competidores.

Bóca Cunha disse que o dinheiro para custear o Dominó é inteiramente oriundo dos patrocinadores e dos competidores – que pagam uma taxa de inscrições. Quem não paga pode doar algo para a organização, que depois repassa a entidades carentes.

Primeira dupla feminina
O 13º Dominó do Bóca Cunha entrou para a história. Foi a primeira vez que uma dupla totalmente feminina participou do torneio.

Dupla feminina de Ana Helena Boos (dir.) e Paulinha é a primeira da história do evento | Foto: Marcos Borges

A vereadora de Brusque Ana Helena Boos (PP) e a ex-prefeita de Bombinhas Paulinha da Silva (PDT) formaram a dupla. “É uma honra participar do Dominó e poder entrar para a história”, disse Ana.

“É um privilégio estar na primeira dupla feminina. Isso serve para refletir que ainda há muito o que conquistar para as mulheres”, completou Paulinha.

Família de Bruno Schwartz recebe homenagem da organização | Foto: Marcos Borges

Bruno Schwartz é homenageado
Ex-funcionário de Bóca Cunha, Bruno Schwartz – morto em 2016 – foi o homenageado desta edição. “Pela primeira vez furei a fila. Eu tinha um grande amigo, conheci ele há 40 anos, e por 20 anos trabalhou comigo”, disse o anfitrião.

A família dele recebeu um buquê de flores da família Cunha. A irmã Teresinha Kohler, visivelmente emocionada, agradeceu a homenagem e destacou o elo de amizade entre as duas famílias.

Equipe da feijoada e convidados posam para foto | Foto: Marcos Borges

60 quilos de feijão
A feijoada foi servida pouco depois das 13h. O prato é famoso e tem uma legião de fãs confessos. Adilson Schmitz é o responsável pela cozinha desde a primeira edição.

Nesta edição, foram usados 60 quilos de feijão, 192 kg de carne de vários tipos, laranjas, couve, vinagrete e farofa pronta. A preparação começou ainda na sexta-feira, ou seja, um dia antes.

“Preparamos tudo com muito carinho, para que o pessoal possa se divertir comendo feijoada”, disse Schmitz.

Deputados criticam postura do governo Temer

Como não podia deixar de ser, a greve dos caminhoneiros dominou as rodas de conversas. Políticos, empresários e outros convidados debateram os motivos e os rumos do movimento.

O deputado Esperidião Amin, que está na Câmara Federal, portanto tem acesso direto às decisões federais, avaliou que a greve é resultado de uma postura errônea do presidente Michel Temer.

“Ele errou na avaliação de que o assunto não era importante, postergou soluções e de maneira prepotente, arrogante, dolarizou um pedaço da economia para salvar a Petrobras, que é importante, mas o Brasil é mais importante”, declarou Amin.

Para Amin, o governo federal errou ao atrelar o preço do combustível à moeda norte-americana. Ele defende que haja um “colchão de amortecimento” com relação ao preço dos combustíveis, de forma que os preços sejam reajustados com menos frequência e o mercado tenha mais previsibilidade.

“Não sei o que a Petrobras fez para reduzir os custos, sei que a roubalheira diminuiu ou esperamos que acabou. Mas quem roubou foi preso e não devolveu, e nós estamos pagando”, completou.

No entanto, o deputado acredita que, como o governo tem cedido aos pedidos dos manifestantes, é preciso haver contrapartida. “Não é o governo que está pagando o pato, é a sociedade toda. O apoio que tiveram no começo vai se esvair se não recomeçar a normalidade”.

Décio Lima (PT), também deputado federal, diz que apoia a greve e critica o governo Temer. “Não é apenas por impostos, como querem colocar. Isso acontece pela gravidade do que passou a acontecer desde 2016”.

Para o petista, a alta incontrolável dos combustíveis é resultado de uma “política entreguista”. “Entregaram a matéria-prima, o petróleo brasileiro, num leilão, para a Total, Repsol e Shell. Essa matéria-prima está sendo refinada pelos grandes monopólios estrangeiros”.

Lima acredita que a solução para o fim da greve é muito difícil. Ele afirmou que uma das medidas seria revogar a decisão do Congresso Nacional que mudou o modelo de partilha do pré-sal.

O advogado Marcus Antônio da Silva, o Marcão, presidente da Caixa de Assistência dos Advogados da Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina (OAB-SC), afirmou que a greve é legítima e que a categoria dos motoristas de caminhão tem sofrido com os constantes reajustes do diesel.

Marcão destacou que por trás da categoria estão homens e mulheres responsáveis por famílias, que precisam ter condições de trabalho. No entanto, o advogado defende o diálogo num momento de extrema tensão como o atual.

“É um momento diálogo e de a sociedade meditar para buscar alternativas. Pensando em compatibilizar a legitimidade das reivindicações populares, o direito sagrado de greve, com o ir e vir da sociedade”, disse.

Estado
O deputado estadual Serafim Venzon avaliou que o presidente Temer tentou mostrar autoridade ao, após negociar, convocar as Forças Armadas. Ele também ressaltou que os caminhoneiros têm sido educados e não obstruíram vias no estado.

Venzon também defende que o estado contribua para solucionar a crise. “O governo federal tirou uma parte do imposto, acho que o governo do estado pode tirar uma parte do ICMS. Isso não vai ser bom só para o caminhoneiro, vai ser bom para todo mundo, para toda a atividade de produção, e isso beneficia a todos nós”.

Cenário estadual está indefinido

Os dois deputados federais presentes também são pré-candidatos a governador de Santa Catarina. Contudo, eles afirmam que ainda é muito cedo para saber como será a disputa.

Amin é um dos nomes mais fortes para as eleições dentro do PP, mas ainda não se sabe se o candidato na cabeça da chapa dentro da coligação será ele ou Gelson Merisio (PSD).

“Sou pré-candidato do meu partido a governador, as pesquisas divulgadas nos dão muita esperança, mas não é estável nem definitivo porque são necessárias coligações”, disse.

Décio Lima afirmou que as pesquisas com seu nome são bastante positivas porque ele aparece com boas intenções de votos. Ele acredita que os catarinenses querem mudança, por isso o PT tem chances de vitória.