Grupo de apoio de pais e mães de filhos LGBTQIA+ compartilha experiências em Brusque
Fami surgiu em 2019 e se reúne mensalmente na Unifebe
O grupo Famílias do Amor Incondicional (Fami), de apoio a mães e pais de filhos LGBTQIA+, surgiu em Brusque em 2018. A ideia veio da necessidade encontrada por três mães de compartilharem suas angústias, preocupações, dores e histórias. Dividindo suas experiências, eles acabaram multiplicando compreensão e amor.
Denise Tatiane Bittencourt, Evanilde Leoni, a Nila, e Silvia Rozo foram as pioneiras do grupo. No início, elas não pensavam em criar o Fami, mas, realmente, apenas encontrarem pessoas que estivessem passando por situações semelhantes para se apoiarem.
Encarando o preconceito
Denise é mãe de Joanna Leoni, artista e professora brusquense, que é uma mulher trans. Em 2016, quando ela, na época, se assumiu uma pessoa LGBTQIA+, foi agredida física e emocionalmente pelo pai, que era muito religioso. A mãe se encontrou em uma situação triste e passou a buscar apoio. Foi aí que ela descobriu o Mães de Amor Incondicional (Mami), de Curitiba.
“Eu me vi sozinha, tinha dúvidas em relação à religião e à convivência com a família, não tinha a quem recorrer. Era muito doído, foi um período extremamente difícil e precisei de ajuda. Entrei em contato com a Silvia, do Mami, e ela veio até Brusque para se reunir conosco. A intenção, naquele momento, não era construir um grupo, mas sim conversar e entender como lidar com essa situação”.
Nila, que é mãe do artista e professor Douglas Leoni, também enfrentou muito preconceito ao lado do filho, desde quando ele era ainda uma criança tentando se conhecer e entender quem realmente era.
“Ele vai fazer 40 anos esse ano. Hoje, pessoas LGBTQIA+ tem um caminho bem mais aberto do que há três décadas atrás. Eu não tinha a quem recorrer. Quando ele estava na oitava série, eu não me lembro de um dia que ele não chegou da escola chorando. Ele próprio não se entendia”.
Quem incentivou a criação do grupo foram os próprios filhos, que entenderam ser importante para as mães conversarem. “Eram situações que eu não tinha para onde levar. Levei até o pastor, e fui acusada como culpada, além da agressividade do meu ex-marido”.
As três começaram a se encontrar, na casa delas próprias, sem saber muito bem por onde começar para ampliar essa rede de apoio para outras famílias que enfrentam as mesmas aflições.
O grupo organizado surgiu após Denise ter várias conversas com seu advogado Ricardo Vianna Hoffmann, que é professor responsável pelo Laboratório de Cidadania e Educação em Direitos Humanos (Lacedh) da Unifebe.
“Fizemos uma reunião e ampliamos o grupo, passamos a dar visibilidade para ajudar outras famílias. Até hoje, muitas famílias com filhos LGBTQIA+ de Brusque não querem se expor”.
Crescimento do grupo
Atualmente, o grupo é composto por dez famílias, que se reúnem uma vez por mês na Unifebe. Além das conversas entre mães e o único pai que participa do Fami, os participantes ainda contam com atendimento psicológico com Juliana Marchi e orientação jurídica com Ricardo Vianna Hoffmann.
“Originalmente, criamos o grupo para ser uma conversa entre as famílias. Mas, em 2022, percebemos que os filhos das novas famílias sentiram a necessidade de ter um espaço para eles e encontraram no Fami esse local para poderem se expressar, algo que a gente não esperava. Hoje, tem o momento em que eles estão conosco e depois saem para os familiares conversarem”, conta Denise. A partir de 2023, os filhos também terão acompanhamento psicológico por meio do Fami.
Denise destaca que os pais não vão aos encontros para aceitarem os filhos. Isso é um assunto bem resolvido e superado. Suas preocupações são sobre como eles serão aceitos e os desafios e preconceitos que enfrentam em suas vidas.
“A gente sofre com o que nossos filhos passam. A nossa preocupação é o que eles passam na rua, no trabalho, com atendimento médico. São enfrentamentos o tempo inteiro. Lidar com nossos filhos deprimidos é uma grande dificuldade, o que fazer nessas situações. Vários endocrinologistas negam atendimentos a pessoas pessoas trans, não sabem como lidar, mesmo na rede pública”.
“Queira ou não, caímos em um sentimento de culpa, seja pelo que a gente faz ou pelo que não faz. Por isso que o grupo é importante, para partilhar sentimentos. A gente se fortalece na partilha do que a gente está vivendo”.
Ao longo do tempo, elas contam que a rede de apoio fortalece os pais a se imporem perante a sociedade. Elas destacam ainda que o grupo não é ligado a nenhum partido ou movimento político e também não tem religião. “Focamos no amparo e orientação às famílias e também a evolução da confiança dos jovens é incrível. Graças a Deus, estamos firmes e fortes”, ressalta Nila.
Entre em contato com o Fami Brusque
Instagram | WhatsApp: 47 99129 9965 (psicóloga Juliana Marchi)
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