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Caminho de Santa Paulina deverá ser a Compostela brasileira

Projeto inspirado no caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, refaz trajeto feito pela santa, em 1899

O desejo de milhares de fieis é de um dia poderem percorrer o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, tanto por motivos espirituais, religiosos como também por desafio próprio. Agora, essas mesmas pessoas poderão fazer uma peregrinação semelhante no Brasil, no Caminho de Santa Paulina. A ideia surgiu por meio de um grupo de Camboriú a partir do resgate histórico da passagem da santa pelo município, em 5 de maio de 1899 em uma festa da igreja matriz.

Durante muitos anos, o historiador Isaque de Borba Correa realizou estudos e pesquisas à cerca da vinda da santa para Camboriú. Foi quando lembrou que nos anos 80 duas amigas entregaram a ele um rascunho de uma ata que comprova os relatos.

Com isso, foi pensado em refazer o caminho que a santa percorreu do bairro Caetés, em Camboriú, até o bairro Vígolo, em Nova Trento. “É uma forma de relembrar a história e fazer uma peregrinação de fé até o atual Santuário da santa pelo mesmo caminho que ela fez e por um trajeto diferenciado”, explica o agente de turismo Marco Vilarinho, o Badeco.

Atualmente, muitos fieis costumam fazer peregrinações anuais, mas são mais pontuais em datas comemorativas. Entretanto, com o caminho oficial, o objetivo é que as caminhadas ocorram durante todo ano.

Conforme consta na ata, Amábile Lucia Visintainer percorreu o caminho em um engenho (carro de boi). Em determinado momento, a besta (boi) parou e ela e o grupo que a acompanhava teve que caminhar em meio ao tempo chuvoso. Quando chegaram em Nova Trento, todos estavam enlameados e com as roupas molhadas.

O caminho de 60 km tem passagem totalmente pela área rural dos municípios de Camboriú, Tijucas, Canelinha, São João Batista e Nova Trento. O pré-lançamento do projeto ocorreu, coincidentemente, no dia 5 de maio. “Marcamos a data do encontro sem nos atentarmos à data. Fizemos algumas divulgações e vimos possíveis pousadas pelo trajeto que daria para fazer paradas”, conta Badeco.

No sábado, 6, um grupo de 50 pessoas começou a peregrinação para conhecer o caminho. Parte do grupo fez apenas um trecho pequeno, de 12 km, em meio a Mata Atlântica. Depois do almoço, a turma finalizou o circuito por não encontrar hospedagem para todos e então seguiu até o Santuário de carro. Outras 12 pessoas continuaram o percurso que foi finalizado no fim da tarde de domingo, 7.

Segundo o agente de turismo, o trajeto guardou grandes surpresas por ser um caminho muito bonito e já haver uma pequena estrutura para os passeios.

Kit peregrino
O início da peregrinação será a partir da paróquia da igreja matriz de Camboriú. Neste local, os peregrinos farão a inscrição e receberão o kit peregrino, que terá um passaporte para o caminho oficial. Durante o trajeto, os fieis colherão carimbos comprovando a passagem. Esses carimbos estarão em pousadas e paradas para descanso.

Ao fim do caminho, o peregrino receberá um diploma nomeado de Amabilíssimo, escolhido para lembrar o nome da Santa. “Durante as pesquisas pelo caminho descobrimos que nas estufas de fumo algumas madeiras de pau eram usadas para secar o fumo e estão abandonadas. Esses paus têm em torno de 100 anos e são exatamente do tamanho ideal de um cajado. Então compramos dos fumicultores e estamos preparando para entregar o cajado junto com o kit do peregrino”, revela Badeco.

A intenção do grupo é de que futuramente outros trajetos integrem o caminho oficial, como por Brusque, Itajaí e Bombinhas. Os organizadores lembram ainda que o segundo milagre da Santa foi em Rio Branco, no Acre, por isso, há possibilidade do caminho se estender daquele estado até o Santuário. “Hoje vem muita gente de lá de ônibus e nada impede de termos um caminho de mais de 3 mil km um dia. Nosso desejo com tudo isso é mostrar para o público um caminho bonito, não só com foco espiritual, mas ecológico, de observação, turismo rural, mas que tenha apelo religioso”, enfatiza o agente de turismo.

Próxima fase do projeto
O grupo idealizador do projeto segue agora com os trabalhos de identificação dos principais pontos de parada para acolher os peregrinos. Na semana passada alguns organizadores voltaram em alguns trechos para visitar moradores que queiram receber os peregrinos para dar hospedagem e alimentação. “Estamos finalizando a parte de construção do trajeto junto com o Santuário e prefeituras. Precisamos ainda de patrocínio para confecção do material de divulgação entre outros detalhes”, informa Badeco.

Ele acrescenta que a inspiração do percurso é o Caminho de Santiago de Compostela, porém, mais integrado com o cuidado ecológico. Segundo os organizadores, já tem empresário pensando em investir em um parque temático com tema surpresa, que estará ligado com uma das mais belas histórias bíblicas.

Pelo caminho, há muita coisa a se recuperar, por exemplo, na região de Tijucas tem os fumicultores que abandonaram a profissão e hoje são pequenos agricultores de hortifruti. “Eles dependem de uma visibilidade maior e o tráfego de pessoas por ali vai ajudar nessa questão. Tem as estufas de fumo que são muito bonitas, de modelo italiano e muitas são abandonadas”, conta Badeco.

Uma pousada em que o grupo ficou, em Tijucas, é uma das estufas recuperadas e que proporciona aos hóspedes uma sensação de como se estivessem na Itália. “A intenção é recuperar isso e fazer hospedarias de custo menor, paradas para descanso e meditação”, informa.

Trajeto dividido
O Caminho de Santa Paulina será dividido em três conjuntos bem distintos, sendo que durante um trecho de pouco mais de 10 km passará inteiramente por dentro de um extenso parque ambiental. Já em outra parte será trilhado por entre prósperas comunidades rurais de etnias alemãs e italianas.

Por fim, na parte urbana da região agrícola de Vígolo, onde fica a catedral de Santa Paulina com farta oferta de diversões gastronômicas, hotéis, restaurantes, cafés coloniais e as famosas vinícolas de Nova Trento. “O caminho se encerrará nas proximidades da casa do sobrinho da Santa, o Nono Visintainer, que está com 100 anos e ainda fica em frente à sua casa recepcionando os fieis e fumando seu cachimbo”, completa Badeco.