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Há 25 anos: relembre queda de avião que deixou dois mortos em Guabiruba

Moradores do bairro Aymoré contam como foi a tragédia com o monomotor, que tinha capacidade para 12 pessoas

Os moradores de Guabiruba amanheceram sob intensa neblina no dia 25 de setembro de 1995. A região do bairro Aymoré era uma das mais atingidas devido à proximidade com os morros. No entanto, a umidade e a falta de visibilidade provocadas pela cerração não impediram que Gerson Seibert realizasse as tradicionais atividades de campo.

Naquela época, ele trabalhava na roça de casa no período da manhã e como contramestre de tecelagem na fábrica de tecidos Carlos Renaux, em Brusque, no período da tarde, conforme relatou em entrevista ao jornal O Município em 2015.

Por volta das 7h30 daquele dia, a capina no milharal já estava em pleno funcionamento, realizada com a rapidez de quem era acostumado a lidar com a enxada. Até minutos antes do relógio marcar 11 horas, a manhã transcorria normalmente.

Porém, um barulho e a rápida passagem de um avião sobre a casa de Seibert deixou a capina em segundo plano. A atenção do contramestre voltou-se para a aeronave. Naquele instante, ele pensou que fosse um morador de Guabiruba que, na época, sobrevoava o município.

Queda do avião ocorreu por volta das 11h da manhã do dia 25 de setembro de 1995 | Foto: Arquivo O Município

Enquanto chamava o piloto de louco – por voar em meio à neblina -, Gerson ouviu um barulho de batida na região dos morros. Minutos depois, outro estrondo o preocupou ainda mais e o motivou a ligar para a loja do proprietário do avião para verificar se havia sido ele. Com a resposta negativa, o contramestre pegou o carro e foi até a entrada dos morros.

Lá, descobriu por meio de moradores que o avião havia caído nas proximidades. Munido de informações sobre o ponto exato da queda, ele ingressou no mato e, em 20 minutos de caminhada, chegou ao local da tragédia: o avião, o piloto e o copiloto estavam em chamas.

“Eu fui o primeiro a chegar no local. A gente fazia treinamento de bombeiros na fábrica e fui rápido pra ver se conseguiria ajudar. Mas não tinha mais o que fazer. Quando cheguei, o fogo já estava mais baixo e já tinha consumido praticamente tudo. Foi uma cena muito forte e muito triste ver os corpos queimados. Nunca havia presenciado algo assim”, lembra Seibert.

Bombeiros retiraram os dois corpos dos escombros | Foto: Arquivo O Município

A colisão do monomotor Cessna-Caravan, que pertencia à empresa Brasil Central, do grupo
Latam, na época chamado de TAM, na serra do Krünerwinkele, matou o piloto Cláudio Teixeira da Silva, de 26 anos, e o copiloto Carlos José Tasteiro, de 29 anos. Ambos eram de São Paulo e, naquele dia, realizavam um voo de treinamento quando, segundo matéria publicada pelo jornal O Município, se perderam e passaram por Brusque e por Guabiruba. A aeronave tinha capacidade para 12 pessoas.

A tragédia completa 25 anos em setembro. Entretanto, Seibert e os demais moradores que foram até o local do acidente narram as cenas com a clareza de quem parece que presenciou a queda, os escombros e os corpos carbonizados há poucos dias.

Arquivo O Município

Moradores ajudaram no resgate dos corpos

O aposentado Conrado Nuss contou ao jornal O Município, que estava em casa no dia da queda do avião. Morador do bairro Aymoré, seu Conrado conta que a chuva fina e a neblina impediram que ele visse o avião sobrevoando a região antes do acidente. Ele apenas ouviu os barulhos do motor da aeronave, da batida no morro e da explosão.

A notícia da queda percorreu os bairros e chegou ao aposentado que, imediatamente, pedalou até o morro. Ele lembra que as polícias Militar e Civil estavam na entrada da serra. Lá, seu Conrado encontrou também outros moradores e subiu o morro. Guiados pelo cheiro
de fumaça, eles encontraram os escombros e os bombeiros trabalhando para retirar os corpos.

O aposentado Conrado Nuss mostra a foto em que aparece ajudando os bombeiros | Foto: Juliana Eichwald/Arquivo O Município

“Já havia outros moradores lá, além dos bombeiros. Isso já era perto do meio-dia. Depois de um tempo, as pessoas começaram a ir embora e eu mais três moradores ficamos lá. Então os bombeiros pediram nossa ajuda para descer o morro com os corpos. Nós ajudamos. Não foi fácil. Caminhamos devagar e fazíamos paradas. Acho que já era 14h30 quando chegamos lá embaixo”, diz.

A equipe do Instituto Médico Legal (IML) já aguardava a chegada dos corpos. Além dela, seu Conrado conta que também havia cerca de 70 moradores no local. Segundo o aposentado, a tragédia continuará intacta na memória até o fim de seus dias.

“Me marcou bastante, foi muito triste quando cheguei e vi que eram pessoas queimadas. Nem deu para reconhecer os rostos. E aquilo também ficou repercutindo por bastante tempo aqui na cidade e na região”, lembra.

Morador mostra local da queda do monomotor que colidiu na serra do Krünerwinkel, em Guabiruba, e deixou dois mortos | Foto: Juliana Eichwald/Arquivo O Município

Família das vítimas visitou Guabiruba

Meio ano após a tragédia que matou o piloto Cláudio Teixeira da Silva e o copiloto Carlos José Tasteiro, familiares dos dois vieram a Guabiruba. Quem contou em entrevista ao jornal O Município, em 2015, foi o aposentado Ancelmo Köehler, que na época era comerciante e também subiu o morro minutos após a queda do avião.

De acordo com ele, as famílias queriam visitar o local do acidente. Porém, mesmo após o aposentado mostrar o morro a eles, os familiares não subiram. “Um dos rapazes que morreu era de Campinas e o outro de Santos, conforme os familiares me falaram. Eu apontei para o morro e mostrei o local exato. A mata ainda estava diferente e dava para ver. Mas eles não quiseram subir”, relata.

As recordações do aposentado não estão armazenadas apenas na memória, ele também guardou uma pequena peça da lataria do avião. Seu Ancelmo conta que outros moradores também levaram parte dos destroços dias após a tragédia. Ele também diz que o motor da aeronave continua no local. “É muito pesado, daí ninguém conseguiu levar”.

Arquivo O Município

Fotos e vídeos

Em meados de 2013, irmã de um dos mortos procurou o fotógrafo Valci Santos Reis, para pedir as imagens e os vídeos do local do acidente. Reis foi até o local da tragédia e fotografou e filmou os escombros e os corpos carbonizados. No entanto, perdeu todos os arquivos anos depois.

“Na época eu vi o avião passando baixinho e logo pensei que ele iria cair, então peguei uma filmadora e uma câmera e fui de carro atrás. Logo depois fiquei sabendo que ele tinha batido no morro e fui até lá. Uma pena que eu tenha perdido os arquivos”, diz. “O pessoal conta histórias de que viu os pilotos abanando, mas não sei se é verdade”, completa.

Cronologia do acidente

1. O monomotor Cessna-Caravan, com capacidade para 12 pessoas, voava diariamente às 8h30 o trecho Florianópolis/Blumenau. A aeronave pertencia à empresa Brasil Central, do grupo TAM, hoje chamado de Latam.

2. Como não havia passageiros na manhã do dia 25 de setembro de 1995, uma segunda-feira, o piloto Cláudio Teixeira da Silva, de 26 anos, e o copiloto Carlos José Tasteiro, de 29 anos, decidiram realizar um voo de instrução para obterem mais horas de voo no currículo.

Ed Carlos

3. Às 10h25 da manhã daquele dia, os tripulantes decolaram com o monomotor do
aeroporto de Navegantes rumo ao aeroporto Quero-Quero, de Blumenau.

4. Durante o voo, o piloto e o copiloto erraram a direção e passaram por Brusque e por
Guabiruba em baixa altitude.

Ed Carlos

5. A aeronave fez voos rasantes em Brusque e em Guabiruba. Os brusquenses avistaram o monomotor voando próximo ao solo na região central. Já os guabirubenses viram a mesma cena no bairro Aymoré – local em que o avião caiu.

Ed Carlos

6. Às 11h, o monomotor colidiu em um morro do bairro Aymoré, a cinco quilômetros do Centro, e explodiu cerca de cinco minutos depois.

Ed Carlos

7. Devido à mata fechada, à inclinação do morro e à garoa que caia na região,
os bombeiros e os policiais civis e militarem chegaram ao local cerca de uma hora depois do acidente. Moradores da região auxiliaram os órgãos de segurança.

Ed Carlos

8. No local, o resgate encontrou os destroços do avião – apenas a cauda ficou intacta – e
os corpos de Cláudio Teixeira da Silva e de Carlos José Tasteiro carbonizados. A identificação de ambos só foi possível por meio de exame da arcada dentária.

9. Peritos da Força Aérea Brasileira (FAB) do Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis
e representantes da TAM estiveram no local na manhã seguinte, dia 26. Como aviões de pequeno porte não têm caixa-preta – local em que são registrados os dados da
aeronave durante o voo -, a FAB colheu amostras do avião para análise.

10. Na época, o Serviço Regional da Aviação Civil descartou a possibilidade de falha mecânica na aeronave.


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