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Há 15 anos: como o terreno que abrigava prédio da Buettner deu lugar à praça Sesquicentenário, em Brusque

Construção e o uso do espaço foram marcados por polêmicas, ações judiciais e até o sumiço de dinheiro

Em 21 de agosto de 2010, há cerca de 15 anos, a praça Sesquicentenário foi inaugurada no Centro de Brusque, reunindo mais de mil pessoas. Considerada um marco na história do município, sua construção foi cercada por polêmicas, envolvendo desacordos, processos judiciais e até o desaparecimento de dinheiro.

O terreno onde hoje está a praça abrigava um prédio fabril da extinta Buettner, adquirido pela prefeitura em 2002, durante a gestão de Ciro Roza, com recursos do antigo PreviBrusque (atual Ibprev). A aquisição foi considerada polêmica após irritar a classe dos servidores públicos.

No entanto, ao longo dos anos, entre questionamentos, aplausos e críticas, a área se transformou em um dos cartões-postais de Brusque, integrando-se à paisagem urbana e à memória da cidade.

Projeto e construção

O projeto de construção da praça foi apresentado pela gestão de Paulo Eccel em 31 de maio de 2010, com o objetivo de oferecer à comunidade um espaço de lazer, esporte e contemplação. A nova área passaria a integrar o Centro Cívico de Brusque, que abriga os prédios dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Arquivo O Município

Durante as obras, 52 árvores nativas foram plantadas no terreno. Todas eram originárias do espaço onde ficava o Casarão Renaux, na rua João Bauer.

As árvores tinham entre 4,5 e 20 metros de altura e representavam 30% do total de espécies nativas existentes naquele local. O agrônomo responsável pelo projeto paisagístico da praça era Haro Kamp.

Arquivo O Município

Em 27 de julho, uma transformação importante começou a ocorrer no entorno da praça. A rua Eduardo Von Buettner, em frente à prefeitura, recebeu sua segunda camada asfáltica. Antes, a via era pavimentada com paralelepípedos.

Enquanto isso, as obras da praça seguiam em andamento, com previsão de inauguração para 6 de agosto.

Arquivo O Município

No entanto, em 4 de agosto, no dia do aniversário da cidade, o jornal O Município noticiou que, devido às chuvas que atingiram a região, a inauguração precisou ser adiada. A nova data foi remarcada para 21 de agosto.

Dois dias antes da inauguração, o jornal destacou que servidores estavam em mutirão para concluir os trabalhos a tempo. Foi divulgado que mais de 100 pessoas atuavam simultaneamente na finalização da praça.

Arquivo O Município

Inauguração

A praça foi inaugurada na noite de 21 de agosto, um sábado, com investimento de R$ 950 mil. Corrigido pelo IGP-M da FGV até fevereiro deste ano, o valor chegaria a quase R$ 2,7 milhões.

Arquivo O Município

Na época, Brusque tinha quase 110 mil habitantes, e a praça já contava com sinal de internet gratuito.

Arquivo O Município

A inauguração da praça, porém, gerou polêmica na Câmara de Vereadores na sessão seguinte. Embora não criticassem a obra, alguns vereadores questionaram as prioridades do governo, apontando outras áreas carentes de atenção.

Arquivo O Município

Apesar de algumas críticas, a praça seguiu em frente. No dia 30 de agosto, o espaço recebeu a 10ª edição do Rock na Praça, reunindo centenas de pessoas.

Arquivo O Município

O chafariz, porém, foi removido no dia 10 de abril deste ano. Segundo a prefeitura, o motivo é que ele estava inutilizado e era alvo de vandalismo.

Compra polêmica

A regulamentação do PreviBrusque ocorreu em 17 de dezembro de 1997, sob a gestão do então prefeito Danilo Moritz. Até 1993, os funcionários da prefeitura eram vinculados ao INSS. Em 1994, quem optou passou a integrar a PreviBrusque.

Nesse período, o fundo adquiriu o terreno da Buettner, incorporado ao seu patrimônio em 2002. A demolição do prédio da fábrica, localizado dentro do terreno, surpreendeu a população e o Sinseb. Apenas dois dias antes, o Sindicato havia discutido medidas jurídicas sobre a compra do imóvel.

Fábrica da Buettner que ocupava o terreno (1980-1990) | Foto: Erico Zendron

A aquisição tinha como objetivo a construção de um teatro municipal, mas foi considerada polêmica e “inútil”, gerando insatisfação entre os servidores públicos vinculados ao fundo na época.

Arquivo O Município

O advogado do Sinseb, Cláudio Roberto da Silva, afirmou na época que a entidade havia ingressado com três mandados de segurança: o primeiro para anular a eleição do conselho administrativo do fundo (que autorizou a compra), o segundo para invalidar a aquisição do prédio e o terceiro para obrigar a apresentação dos balanços financeiros de 2001 e 2002.

O prefeito da época, Ciro Roza, que liderou a ideia da compra, planejava construir um teatro no local, mas havia denúncias de atraso nos repasses da prefeitura ao fundo, gerando temor de colapso financeiro e migração forçada dos servidores de volta ao INSS (que cobrava 7% a mais de contribuição do que o PreviBrusque).

Arquivo O Município

A demolição foi embargada por liminar em 14 de agosto, mas, em 4 de outubro, o juiz Carlos Alberto Civinski, que concedeu a liminar, revogou a própria decisão. O advogado do Sinseb alegava que a compra foi feita com documentos fraudulentos e que o próprio Civinski havia determinado a elaboração de um inventário para identificar tudo o que existia no prédio, o que havia sido retirado e o que poderia gerar lucros.

O juiz também havia ordenado uma nova avaliação do prédio. No entanto, segundo o advogado, o perito escolhido era marido de uma funcionária da prefeitura da época, e os valores da avaliação não foram repassados ao Sinseb.

Arquivo O Município

No dia 17 de abril, uma nova liminar foi publicada, desta vez pelo desembargador Silveira Lenzi, embargando novamente a demolição e adicionando um novo capítulo à disputa.

O acordo para resolver o impasse foi oficializado em 26 de novembro de 2002. Ficou decidido que o imóvel e o terreno pertenciam à PreviBrusque e que ele serviria de garantia patrimonial. A demolição, no entanto, prosseguiu, pois o prédio apresentava riscos estruturais e não interessava ao fundo nas condições em que se encontrava.

Prédio continuava ‘de pé’ em fevereiro de 2003 | Foto: Gilfredo Ballod

Dinheiro que desapareceu

Como previsto, a construção do teatro,  considerada um desvio de finalidade, foi definitivamente descartada. Sem viabilidade financeira, os servidores ajuizaram, em 2004, uma ação popular que inicialmente questionava a extinção do PreviBrusque.

Posteriormente, a discussão se concentrou na aquisição do imóvel, que gerou controvérsia na época e resultou em um passivo financeiro para o município por muitos anos.

Quando começou a se pensar em construir uma praça no terreno, o Sinseb alegava que a obra comprometia a exploração econômica do terreno e exigia que os recursos gerados fossem destinados ao fundo previdenciário dos servidores. O processo foi encerrado em 2022, com a decisão de restringir qualquer exploração econômica da praça à Previbrusque.

“A partir de 2011, uma lanchonete/cafeteria passou a funcionar em um espaço comercial localizado na praça. No entanto, segundo o advogado do Sinseb, apesar da exploração do local, o Sindicato jamais recebeu qualquer valor referente ao aluguel.

“Esses valores nunca entraram nos cofres do Ibprev nem do município. Até agora, ninguém soube explicar o que aconteceu com o dinheiro. Acredito que, no futuro, haverá uma nova exploração, e então os valores terão que ser destinados à Previbrusque”.

Questionada pelo jornal O Município, a Procuradoria-geral do município informou que, no contrato firmado em 2011, a contrapartida foi estabelecida em R$ 18,1 mil, mas o comprovante de pagamento nunca foi localizado.

“m procedimento administrativo foi instaurado em 2021, resultando na condenação da empresa. No entanto, a lanchonete recorreu e obteve êxito na anulação da penalidade. O município, porém, ainda tenta reverter a decisão judicial.

Discussão atual

Atualmente, o espaço onde funcionava a lanchonete foi cedido ao Estado para a instalação da Divisão de Investigação Criminal (DIC), por 10 anos, sem exploração econômica.

O Sinseb ingressou com uma petição no processo para obter informações sobre a cessão, pois a decisão judicial previa que eventuais ganhos financeiros fossem destinados ao fundo previdenciário.

Para o advogado Cláudio, essa gratuidade prejudica a previdência municipal. “Mesmo sendo proprietário do imóvel, o município não deveria ceder algo sem custos, pois deveria gerar receita para o Ibprev”.

A Procuradoria esclareceu que, com a extinção da Previbrusque em 2004, o imóvel passou a integrar o patrimônio municipal e pode ser utilizado para fins de interesse público. Caso seja alugado ou vendido, os valores devem ser destinados ao Fundo Previdenciário.

“Atualmente, o imóvel está cedido à Delegacia de Investigação Criminal para garantir estrutura adequada ao serviço de segurança pública, o que configura um uso vinculado ao interesse coletivo. Por isso, não há exploração econômica do espaço”.

Sobre a possibilidade de lucro para o fundo, a Procuradoria reforçou que apenas a área ocupada pela DIC não gera receita, mas outras partes do imóvel ainda podem ser utilizadas economicamente no futuro. Entre essas partes está o ponto onde estava localizado o chafariz, retirado em abril deste ano.

Segundo a prefeitura, o espaço deve ser concedido para a instalação de um novo comércio. O valor arrecadado com o aluguel do espaço, conforme determinação judicial, deverá ser destinado aos fundos da extinta PreviBrusque.

História da Buettner

Em 1898 iniciou as atividades da empresa brusquense, Buettner S/A Indústria e Comércio, ela foi a primeira indústria a operar com bordados no Brasil. Seu fundador foi o comerciante Eduardo von Buettner.

Em 1930, passou a produzir toalhas de banho. Sua sede ficava na rua João Bauer. Em 1952, a sede cresceu e se transformou em um parque fabril focado no bordado.

Foto aérea da fábrica batida entre os anos 50 e 60 | Foto: Airton Diegoli

A Buettner inaugurou a loja própria no centro de Brusque, em 1938, junto de sua Administração Geral. A loja ficava ao lado do casarão de Eduard e Albertine von Buettner.

Residência e Casa de Negócios dos von Buettner no centro de Brusque | Foto: Museu Casa de Brusque

A loja tinha a configuração de uma ‘venda’ que é um conceito diferenciado: além de ser uma loja de secos e molhados, ela também funcionava como estabelecimento financeiro.

Foto postada por Aluizio Haendchen Filho no grupo do Facebook “Curto Fotos Antigas Brusque”

Mais tarde, no decorrer da década de 1980, toda sua linha de produção passou de forma gradual para o bairro Bateas, onde foi instalada uma grande fábrica. 

O lucro da Buettner começou a cair sem parar desde o final dos anos 1990 até se converter em dívidas milionárias. Em abril de 2016 a companhia pediu falência.

Fábrica da Buettner no Bateas em 2023 | Foto: Ciro Groh

Assista agora mesmo!

Kai-Fáh: Luciano Hang foi dono de bar em Brusque, onde conheceu sua esposa: